Futuro de Bacellar é analisado em Campos
Gabriel Torres 24/05/2025 09:00 - Atualizado em 24/05/2025 09:11
Rodrigo Bacellar e Thiago Pampolha
Rodrigo Bacellar e Thiago Pampolha / Foto: Alerj


Primeiro na linha sucessória de Cláudio Castro, o presidente da Alerj, Rodrigo Bacellar, deve concorrer ao Estado em 2026 ocupando o cargo, já que o governador se afastará para tentar o Senado. Políticos de Campos, base e oposição, e acadêmicos, comentaram a posição favorável de Bacellar, alcançada com a ida do vice Thiago Pampolha ao TCE na quarta-feira (21).
Entre as manifestações, otimismo, cautela e críticas. O otimismo pelo papel articulador de Bacellar e a eleição unânime na Alerj. Já a cautela se explica pelo um ano e quatro meses até 6 de outubro de 2026 e a frase “muita coisa ainda pode acontecer”. As críticas se devem à forma como o campista subiu na linha sucessória, com a indicação do vice para conselheiro do Tribunal de Contas do Estado (TCE).
O vereador Marquinho Bacellar destacou o papel articulador do irmão na Assembleia Legislativa e na política fluminense. Destacou o reconhecimento até da oposição.
— Rodrigo está preparado para desenvolver essa função política no Estado. A frente da Alerj, ele se mostrou aberto ao diálogo e bom articulador. O desempenho dele é reconhecido por todos os deputados, tanto da base quanto da oposição. O que ele se propor a fazer, dará o seu melhor. O comprometimento, a responsabilidade e a seriedade, o levaram ao patamar que hoje ele ocupa. Caso seja necessário , ele é o melhor nome para trabalhar pelo desenvolvimento do Estado — disse Marquinho.
Nildo Cardoso (PL), vereador aliado do prefeito Wladimir Garotinho na Câmara, levantou uma questão: o apoio do PL à pré-candidatura de Bacellar não foi fechado, apesar do presidente da Alerj ter se encontrado com o ex-presidente Jair Bolsonaro e o senador Flávio Bolsonaro.
— O ex-presidente Bolsonaro e o senador Flávio Bolsonaro ainda não fecharam apoio a candidato ao governo do Rio. Como sou do PL, vou esperar e seguir a orientação do ex-presidente. Me filiei ao PL por causa de Bolsonaro — falou.
Nildo defende um nome de seu partido para o governo do Estado. Mas, caso não aconteça, acredita que o PL precisa ser criterioso e construir aliança apenas com nomes de direita.
— Caso o PL não tenha candidatura própria, o que eu não acredito, o partido vai caminhar com quem cada um desejar. Desde de que seja de direita. Tem gente posando de direita hoje que votou na esquerda na eleição passada.
O deputado Thiago Rangel (PMB) indicou que caminhará com Bacellar em 2026 e exaltou a habilidade do presidente da Alerj. Ele também citou a reeleição unânime na Assembleia, com votos da direita à esquerda.
— Com habilidade de diálogo que transita por todo o espectro político da Alerj, da esquerda à direita, sua eleição unânime em uma votação histórica reflete esse reconhecimento. Como deputado da cidade de Campos, sinto-me honrado em caminhar ao lado do presidente, contribuindo na coordenação das ações no Norte e Noroeste Fluminense — falou Rangel.
A ex-candidata a vereadora Natália Soares (PSOL) criticou a forma como Bacellar alcançou a posição favorável de poder concorrer ocupando a cadeira de governador. Para ela, a movimentação envolvendo o TCE enfraquece a credibilidade da instituição.
— Considero extremamente preocupante a forma como o Tribunal de Contas do Estado (TCE) vem sendo tratado, muitas vezes reduzido a uma moeda de troca em articulações político-eleitorais. — disse.
Para Natália, a ascensão de Bacellar através da indicação de Thiago Pampolha ao Tribunal de Contas revela o que esperar da gestão do presidente da Alerj no futuro, quando Castro renunciar.
— Esse tipo de conduta revela muito sobre o modelo de gestão que se pretende implementar — um modelo que parece priorizar interesses políticos em detrimento da transparência, da responsabilidade pública e do respeito às instituições democráticas — enfatizou Natália.
Analistas preveem dificuldades na disputa
A grande vantagem de Bacellar será chegar em 2026, ano eleitoral, transformado em incumbente. É o que reconhece o cientista político George Gomes Coutinho, professor da UFF Campos. Ele destaca, porém, que esta vantagem dependerá de como o presidente da Alerj vai usar a “máquina”.
— Contudo a “máquina” não é dotada de poderes metafísicos. Conta como vantagem importante, mas não realizará todo o trabalho sozinha. Precisará ser manejada habilmente para, de fato, ser vantagem. Cabem dúvidas sobre como chegará a percepção do governo do estado para o eleitor em 2026, o que pode torná-la maldição — falou George.
O professor da Universidade Federal Fluminense (UFF) também afirmou que a dinâmica da eleição para o Estado vai passar pelas articulações do pleito presidencial. Neste contexto, o apoio ou não da família Bolsonaro pode ser decisivo.
Outro ponto abordado por George foi a necessidade de Bacellar fazer-se conhecido pelo eleitorado como é no meio político.
— Há problema da popularidade. É indiscutível que Rodrigo Bacellar é um homem conhecido e poderoso no meio político fluminense. O problema agora está no eleitor reconhecer seu rosto — falou.
O cientista político Hamilton Garcia, professor da Universidade Estadual do Norte Fluminense Darcy Ribeiro (Uenf), mencionou a indefinição da família Bolsonaro. Para ele, uma candidatura de Flávio Bolsonaro não está descartada, mesmo com o apoio de Castro à Bacellar.
— A se confirmar as candidaturas de Eduardo Paes (PSD) e Flávio Bolsonaro (PL) – respectivamente, segundo a Genial/Quaest (fev25), com 29% e 20% das intenções de votos – podemos ter, em tese, um governador eleito fora do pacto com a máquina política formada em torno da Alerj, que domina a política fluminense historicamente. Todavia, chegando ao segundo turno Bolsonaro ou Bacellar, contra Paes, ambos se coligariam para derrotar o lulismo, consolidando o poder da máquina, levado ao cume pelo atual governador — analisou Hamilton.
Na análise de Hamilton Garcia, Bacellar chega ao posto de incumbente através de articulações que levaram ao impeachment do ex-governador Wilson Witzel.
— Bacellar se apresenta como o candidato da máquina pública que, por meio da Alerj, cassou Wilson Witzel, garantiu a posse do vice (Cláudio Castro), lhe deu condições de governabilidade no restante do mandato, e o reelegeu no primeiro turno de 2022, num momento de extrema fragilidade do Executivo, já abalado pelos escândalos de corrupção revelados pela Operação Lava Jato e suas ramificações estaduais — falou Hamilton.

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