José Maria Rangel: "Lula em Campos trouxe energia"
O gerente executivo de Responsabilidade Social da Petrobras, José Maria Rangel (PT), foi o convidado dessa terça (22) do programa Folha no Ar, da Folha FM 98,3. Ele analisou a visita do presidente Lula a Campos no último dia 14 de abril, a falta de representatividade da esquerda no município e a estratégia de comunicação do Governo Federal para frear a queda na avaliação, visando as eleições de 2026. Ex-candidato a deputado e a vereador pelo PT, José Maria também projetou as disputas ao governo do Estado e à duas vagas ao Senado no próximo pleito. Além disso, o petroleiro abordou as consequências da dependência dos royalties e os investimentos da Petrobras na bacia de Campos.
Empenho — “Parabenizar a Aninha, a diretora da UFF Campos, pela persistência em levar Lula para inaugurar os novos prédios da Universidade Federal Fluminense. E para o Lula essa é uma pauta que tem um simbolismo muito grande. Ele fala praticamente em todos os discursos, ele se orgulha muito de ser o único presidente que não tem diploma de curso superior, mas que mais investiu na pauta de educação, tanto na criação de universidades como também na criação dos institutos federais. E à época a Aninha até pediu uma intervenção nossa no sentido de ver com algumas interlocuções que a gente tem em Brasília no sentido de viabilizar a vinda dele a Campos. Mas mérito todo dela, porque é uma pauta extremamente positiva”.
PT Campos — “No que diz respeito ao PT de Campos, se eu não estou enganado, o Lula, a última vez que ele tinha vindo a Campos foi em 2017, na caravana da cidadania. Passou por Campos, fez um comício ali na praça Liceu. Ele sempre essa militância não só da nossa cidade, mas como nas cidades que estão no entorno. Isso obviamente que traz para a gente uma energia muito grande para travar junto a sociedade, nós estávamos falando em conservadorismo há pouco, a nossa região ainda é uma região muito conservadora. Isso traz para a gente uma energia muito positiva no sentido de fato fazer um debate na sociedade, o quanto que nós temos avançado ao longo dos últimos dois anos do governo do presidente Lula”.
Lula em Campos — “E a vinda dele traz para gente essa energia de fato, fazer o debate na sociedade, que muitas das vezes a gente fica meio que inibido a fazer esse debate. Mas eu penso que a vinda dele nos dá essa energia. E para o PT de Campos é mais uma demonstração de que é possível a gente continuar trilhando esse caminho. Por mais que a política não se faça somente no parlamento, de espaços de Câmara, de Assembleias, ela tem que ser feita no dia a dia e também motiva a todos nós a uma disputa que está se avizinhando”.
Elite — “No governo passado, as universidades públicas foram atacadas. Porque a universidade pública é um espaço que busca ser inclusiva, que busca ser diversa, onde o ensino é gratuito e de qualidade. Então, a elite do nosso país não gosta desse tipo de universidades”.
Desempenho regional — “Nas últimas eleições, a região nossa aqui, Norte e Noroeste, não só o PT, mas como as forças progressistas, elas não conseguiram ir bem no processo eleitoral. Eu fui candidato a deputado federal por duas vezes e nas minhas andanças no interior do Estado sempre dizia o seguinte: nós precisamos ter um deputado do campo progressista aqui na nossa região. Infelizmente a gente não tem. Aí pode falar assim ‘ah, mas a Carla Machado é do PT’. Mas, com todo respeito a deputada, ela não é uma deputada progressista na minha concepção. Essa é uma opinião minha. E tanto é verdade que nas últimas eleições ela apoiou a candidatura da delegada, mesmo sendo do PT. Eu acho que a gente tem que continuar fazendo um trabalho de rua, de militância, continuar fazendo a disputa da sociedade”.
Caio e Rafael Diniz — “Com todo respeito ao Rafael Diniz, ao Caio Vianna, mas eu não considero (progressistas). Considero que eles tenham essa questão do campo progressista, porque, veja bem, o Caio está onde hoje? Caio, se eu não me engano, ele está em PSD. Então, na minha visão, o que eu lamento é os políticos eles pulam de legenda a uma matemática eleitoral. Eles vão para legenda onde eles têm mais chance de se eleger. E essa movimentação política, ela é feita o tempo todo. Por exemplo, eu posso afirmar aqui, uma pessoa que eu tenho um carinho e um respeito muito grande que é a Odisseia do campo progressista. Para não ficar só no PT, da Natália, do Psol, é do campo progressista. Eu não preciso de mandato para fazer política. Então com todo respeito pelo Rafael, ao Caio, também não os considero políticos do campo progressista, são políticos que veem ali a viabilidade eleitoral do momento e se abrigam em alguma sigla”.
Processo eleitoral — “O que deixa a gente um pouco mais sentido é que são dois (Tezeu e Natália) grandes quadros jovens, com potencial grande. A gente sabe disso. Só que o processo eleitoral, para quem faz política como a gente faz, ele machuca muito, porque ele é muito desgastante. Reunião na casa, panfletagem, acorda cedo, vai para lá, vem para cá. E quando você pega e as urnas se abrem e você não leva, isso machuca. Eu fui candidato três vezes, não me elegi, então isso vai desgastando no processo. Porque o eleitor também, ele chega um momento que ele não quer perder o voto dele. E aí aquilo que hoje foi 3.000 ou 3.500 votos, amanhã já não é mais. Então isso também é ruim para a gente”.
Voto da esquerda — “Eu procuro ser muito pé no chão. Eu corri praticamente sozinho no campo da esquerda. A Natália era candidata a prefeita, Odisseia candidata a prefeita, então não ache que esses três mil votos foram votos do Zé Maria. É um campo que na hora de votar, o cara falou assim, quem é o candidato que tem mais chance? É o Zé Maria, eu vou despejar voto nele. Essa eleição para vereador, nós tivemos o Tezeu, a Odisseia, a Natália no campo do Psol, tínhamos o Maycon no campo do PCdoB, tínhamos o Gilberto. Então o voto da esquerda, ele se pulverizou muito”.
Proporcional — “Se você for analisar as últimas eleições, a gente patina ali nos 16 ou 17 mil votos no campo da esquerda. Acho que na eleição proporcional isso não chega lá porque a gente não consegue eleger ninguém. Então, a Câmara Municipal de Campos, ela vem, na minha visão, num vazio de debate político há muito tempo. Porque por mais que a gente tivesse um vereador ou uma vereadora, eu penso que o debate seria outro”.
Prejuízos nas plataformas — “Eu não vi, só ouvi dizer que o prefeito tem dito que vem dificuldade por aí, não sei o que, a plataforma P-53, a plataforma de Cherne. Campos tem o orçamento de R$ 2,8 bilhões, quantas cidades no país tem o orçamento de R$ 2,8 bilhões? E você não vê um vereador para levantar a voz e falar assim ‘cara, que que é isso? Por que essa dificuldade com o orçamento de R$ 2,8 bilhões? Vamos fiscalizar para onde está indo dinheiro?’. Se você listar as 20 cidades, as maiores cidades com orçamento desse, você vai ver que Campos tem um orçamento significativo e a gente ainda fica achando que R$ 2,8 bilhões é nada, é dinheiro de pinga. Por exemplo, cadê a venda do futuro que foi feita. Passados 30 anos do recebimento de royalties, por que nós continuamos dependendo dos royalties?”
Desespero — “Toda vez que tem um soluço na produção de petróleo, que a gente sabe que é um bem finito, a gente fica preocupado, tenso, que não vai ter dinheiro para isso, não vai ter dinheiro para aquilo. A gente não vê a cidade de Campos progredir nesse sentido de soltar as amarras ou se preparar de uma forma robusta para o dia que o petróleo acabar. Por mais que a Petrobras esteja voltando a investir na bacia de Campos, mas é algo que, como toda a produção de petróleo, vai entrar em declínio. Daqui a pouco não vai ter mais nada e a gente não se não se preparou para isso, lamentavelmente”.
Dependência de royalties — “Vejo com muita tristeza a nossa cidade ainda ficar principalmente dependente das receitas dos royalties. Se a gente olhar um pouquinho para o lado, nós vamos ver Maricá, vamos ver Niterói, duas cidades que receberam, passaram a receber royalties há pouco tempo e que já tem um fundo soberano robusto. Inclusive com o prefeito de Maricá dizendo que quer comprar a SAF do Vasco. A gente ri, mas você vê como os caras estão com dinheiro. Ou seja, os caras já entenderam que esse é um bem finito e que vai acabar. E Campos, lamentavelmente, não consegue”.
‘Petáculo’ — “Aonde está esse orçamento de R$ 2,8 bilhões? A nossa cidade é referência em quê? A nossa cidade é ‘petáculo’ em quê? Eu fico me perguntando isso toda vez que eu vejo o Instagram. A rodoviária de Campos é um horror, é uma falta de respeito com o cidadão, com a cidadã, negócio absurdo. Fora isso, você pega a saúde, a educação, vários outros aspectos, segurança pública e você não vê a nossa cidade deslanchar. Quantas cidades no país tem um orçamento como o orçamento de Campos. E várias cidades tem um orçamento muito menor e com a qualidade de vida muito melhor”.
Investimentos — “A gente já falava lá atrás que nós não temos dúvida que ainda tem óleo. Nós temos pré-sal, então agora para isso você tem que explorar, tem que procurar, tem que investir. E, até para as pessoas saberem, nós saímos de um investimento de 73 bilhões de dólares da Petrobras, o governo passado, para 110 bilhões de dólares no atual governo. Então a Petrobras, na Bacia de Campos, estava sendo sucateada. Os campos de produção sendo vendidos, não tinha mais investimento em exportação e produção. Então com isso obviamente os campos vão declinando e hoje você já tem tecnologias e você consegue dar um sobrevida aos campos de produção. Volto a dizer, é necessário investimento”.
Produção — “A Petrobras ela está voltando a investir pesado. Você não consegue movimentar uma empresa como a Petrobras da noite para o dia. Então nós saímos de R$ 73 bilhões de investimento e já estamos em R$ 110 bilhões de investimento em várias áreas que são fundamentais para a gente. Exploração e produção, refino. A própria área de fertilizantes é uma área que foi simplesmente fechada na companhia. E aí nós estamos falando de fábricas que foram abandonadas, como as duas fábricas de fertilizantes, tanto em Sergipe como na Bahia, do Paraná em Araucária, em Mato Grosso. Que tudo tem a ver com o dia a dia da população”.
Projetos — “Quando a gente chega na Petrobras, os investimentos previstos para a área de responsabilidade social, que eu hoje respondo, eles estavam na casa de R$ 73 milhões. Hoje, o investimento que nós temos para essa área de responsabilidade social, só para projetos socioambientais, nós estamos falando de R$ 480 milhões. Então é um salto bastante significativo. São projetos que, na sua essência, têm que ser estruturantes, que possam mudar a realidade das pessoas que estão ali em torno das nossas operações e também a preservação do meio ambiente.”
Herança — “Estava vendo uma entrevista do Sidônio há poucos dias atrás em que ele fala que um dos equívocos nossos foi não dizer o estrago que foi feito no governo passado. E eu avalio que ele está correto. Porque se você não demonstrar a terra arrasada que o país estava, as pessoas não vão ter a exata dimensão do que elas têm hoje. Muito provavelmente não vão dar valor”.
Comunicação — “Acho que com essa mudança na Comunicação, no sentido dela ser mais propositiva, de demonstrar o que o governo de fato está fazendo, isso tende a aprovação do presidente Lula deslanchar. Então nós estamos falando de um governo que mesmo com o Congresso, que a gente sempre acha que o mais conservador foi o passado, mas é esse. Em que a pauta prioritária hoje, ao invés de discutir o dia a dia da população, é discutir o projeto de anistia. O episódio que todos nós assistimos, não foi montage, não foi nada, de depredação de prédios dos Três Poderes. E o Congresso quer pautar, quer discutir a anistia, e ameaçando que se não for votado ele vai bloquear a pauta, vai fazer obstrução pra não votar pautas de interesse da sociedade, como por exemplo, a isenção do imposto de renda pra quem ganha até R$ 5 mil”.
Aprovação de Lula — “Quando você vai analisando o que aconteceu durante aquele período, você vê uma vitória gigante. O que foi gasto na eleição pelo Bolsonaro, o que foi tentado fazer para que o Bolsonaro ganhasse a eleição, para tentar impedir que o Lula tomasse posse. A gente viu que foi uma vitória gigante. E o governo do presidente Lula, com várias ações, valorização do salário mínimo, valorização dos ganhos salariais, das categorias de negociação, enfim. Eu não tenho dúvida que quando isso tudo começar a aparecer com mais intensidade, a aprovação dele volta a subir. E apesar de saber que a eleição é uma eleição difícil, porque o país ainda é polarizado, o PT e o presidente Lula tem todas as condições de vencer o pleito eleitoral em 2026”.
Voto — “Esse dito centro, na realidade, eu vejo como a população vai definir o voto dela baseado no dia a dia dela. Se a vida melhorou, se a vida piorou, se a comida chega na mesa mais barata, se ela está empregada, se não está empregada. Ela vai definir o voto dela a partir desses elementos. E nesse quesito, eu digo que nós temos muito mais condições de atrair esse eleitorado. É um eleitorado que a gente pode dizer que é o nem, nem. Nem direita, nem esquerda. Ela vai fazer essa avaliação”.
Estado do RJ — “A gente tem que pensar muito qual o destino que nós vamos dar para o estado do Rio de Janeiro. Eu olho com muito desânimo a situação do nosso Estado. E às vezes chega me bater um certo pessimismo e achar que não tem jeito para o Estado. Segurança pública do nosso Estado é um caos. É um Estado que é dominado pela milícia ou pelo tráfico. E que se a gente não se atentar disso, a gente só pode mudar isso no processo eleitoral, a gente vai de novo caminhar para uma situação de muita preocupação aqui no estado do Rio de Janeiro”.
Falta de entendimento — “Quem é esse tal de Witzel? Depois eu fui pesquisar e o Witzel era candidato a governador. Chegou no domingo, quando abre as urnas, o Witzel está no segundo turno. Então, assim, são esses movimentos. E, para mim, toda tranquilidade, é um movimento muito articulado, do pessoal de milícia, de tráfico. Esses segmento, eles entenderam muito bem aonde que é disputa de poder. Coisa que nós ainda não entendemos. O campo progressista ainda não não entendeu. O MST está entendendo agora. Tem lançado o candidatos, tem tido êxito no processo eleitoral”.
Paes — “Penso que o Eduardo Paes é um candidato fortissimo. Não sei ainda, não está definido quem será o candidato da direita. Vi algumas notícias, de Wladimir vice do Eduardo, eu acho que o Eduardo vai buscar um vice da Baixada, não sei quem, mas ele vai buscar. Tem um peso eleitoral nessa disputa muito grande, a Baixada Fluminense é o colégio eleitoral gigantesco. Então acho que ele vai procurar um vice ali no sentido de fortalecer a sua posição”.
Senado — “O campo progressista também vai jogar peso nas eleições do Senado. Inclusive muitas das vezes abrindo mão de candidaturas a governo do Estado, fortalecer as nossas bancadas no Senado. Então vai ser uma disputa, eu diria que bastante acirrada nas eleições do Senado”.
Duas vagas — “Acho que o progressista tem que ter a maturidade de entender o que representa essa eleição do Senado, para que pelo menos das duas vagas a gente consiga uma. E unir forças no sentido de botar essa uma de fato lá no Senado. E ver quem é o nome. Eu já ouvi falar no Marcelo Freixo, candidato ao Senado. Poderia unir o Psol e o PT”.
Duas vagas — “Acho que o progressista tem que ter a maturidade de entender o que representa essa eleição do Senado, para que pelo menos das duas vagas a gente consiga uma. E unir forças no sentido de botar essa uma de fato lá no Senado. E ver quem é o nome. Eu já ouvi falar no Marcelo Freixo, candidato ao Senado. Poderia unir o Psol e o PT”.