Luiz Césio Caetano: "Desafio da indústria é permanente"
Mário Sérgio Junior - Atualizado em 18/10/2025 08:30
Presidente da Firjan, Luiz Césio Caetano
Presidente da Firjan, Luiz Césio Caetano / Rodrigo Silveira
"O desafio da indústria é permanente. O país todo passa por enormes desafios, o Estado do Rio por desafios mais específicos, mas o propósito da Firjan é defender os interesses do setor industrial", declarou o presidente da Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro (Firjan), Luiz Césio Caetano, em entrevista na sede da entidade em Campos nessa quinta-feira (16). Além de falar dos desafios do setor, Luiz Césio destacou o potencial logístico da região e do Estado, reforçando a importância do andamento de projetos como a da ferrovia EF 118, que conectará Nova Iguaçu (RJ) a Santa Leopoldina (ES) passando por Campos, São João da Barra e outros municípios da região. O presidente da Firjan também ressaltou a questão da qualificação de mão de obra e o empenho que a entidade tem feito nesse quesito. Durante sua visita a Campos, Luiz Césio participou da inauguração de um laboratório voltado para o controle de qualidade e padronização dos produtos cerâmicos, que está instalado em unidade cedida pela Firjan ao Sindicato dos Ceramistas, na Baixada Campista.
Desafios – “O desafio da indústria é permanente. O país todo passa por enormes desafios, o Estado do Rio por desafios mais específicos, mas o propósito da Firjan, a missão da Firjan, é defender os interesses do setor industrial. Nesse sentido, nós temos atuado naqueles desafios que são bastante conhecidos pelo sentimento que a população tem, pelas dificuldades que a indústria passa e pelos estudos técnicos e pesquisas que a Firjan faz. Então, nós temos desafios na área da segurança pública, especificamente no caso de roubo de carga, nós temos estudos que indicam que três em cada cinco empresários, olham a insegurança pública como uma dificuldade para investir. Nós temos outro desafio, que é a insegurança jurídica, pelas dificuldades, essa imprevisão que o empresário tem sobre a legislação tributária”.

Fundo Orçamentário — “No momento, estamos passando por uma insegurança, devido ao projeto de lei enviado pelo Executivo à Alerj, que altera o FOT, que é o Fundo Orçamentário Temporário, ele aumenta o FOT, ou seja, a devolução ao Estado, o incentivo concedido pelo Estado, aumenta de 10% para 30% em 2026, e depois, paulatinamente, 10% ao ano. Isso significa que o Estado do Rio está antecipando uma política de benefício fiscal, antes da entrada em vigor da reforma tributária. Então, a indústria do Estado do Rio perderia competitividade frente aos seus vizinhos, como Espírito Santo, Minas Gerais, São Paulo. Nós entendemos que isso não é bom para o Estado do Rio de Janeiro, então nós entendemos que há outras alternativas e fizemos proposta nesse sentido para melhorar a arrecadação do Estado, como o Refis e o PL da transação tributária também é uma alternativa para aumentar a arrecadação do Estado”.

Logística — “Há também desafios quanto à infraestrutura, o Estado do Rio de Janeiro tem um potencial enorme para ser um hub logístico, temos o Porto do Açu, temos a EF 118. São projetos fantásticos, projetos que dariam uma enorme alavancagem ao Estado do Rio de Janeiro, fechando a ligação do Nordeste com o Sul do país pela EF 118, e trazendo o Porto do Açu para a ligação dessa malha nacional, abrindo a oportunidade de, através do Porto do Açu, levar todos os fertilizantes necessários para o Centro-Oeste e trazer de lá os grãos para exportação”.

EF 118 — “A EF 118 nós temos tratado com maior atenção porque é o maior potencial de desenvolvimento do Estado. Nós criamos o InfraLeste, que é um grupo de trabalho composto pelas federações da EF 118, como Rio de Janeiro, Bahia, Espírito Santo, Minas Gerais e São Paulo, exatamente para discutir não só a EF 118 com toda a questão de logística do Sudeste. E estamos também trabalhando com informações, com estudos para a audiência pública, que vai ocorrer para a definição de detalhes do edital para a EF 118. Tem alguns trechos ainda do edital que não estão definidos, como por exemplo o gatilho que justificaria a licitação do trecho de São João da Barra até Nova Iguaçu. É preciso que esses detalhes de como esse gatilho será acionado estejam definidos no edital. E temos também a que já está mais ou menos definido, a ligação de Anchieta até São João da Barra, um investimento de mais de 4,5 bilhões”.

Laboratório aos ceramistas — “Há um ano eu estive aqui e conversando com eles (do Sindicato dos Ceramistas), nós tínhamos naquele local uma unidade móvel da Firjan Senai, e eu sugeri que por que eles não absorviam esse serviço para valorizar a atuação do sindicato na sua base industrial e também com a possibilidade de maior atividade nesse sentido, junto à sua base, e até a possibilidade de levantar algum recurso pela prestação desse serviço. Foi muito bem aceita a ideia, nós fizemos um contrato de comodato, cedemos os equipamentos para o Sindicato dos Ceramistas, e hoje estivemos lá com a grande satisfação de ver o início dos trabalhos numa instalação muito bem construída, utilizando materiais próprios da fabricação deles, como tijolos, como revestimentos. Ficou muito interessante”.

Produção — “Na região tem 114 cerâmicas e é necessário dar um apoio para que elas possam fazer o seu controle de qualidade, ou seja, controlar a qualidade da sua produção. Através desse laboratório, com os equipamentos que estão lá instalados, poderá ser feito o controle de qualidade da produção. Levar as amostras da produção para esse laboratório para fazer os ensaios. Então isso é bem instantâneo porque ele sabe se a produção dele está dentro do parâmetro ou não”.

Futuro — “Eu acho que é importante que a gente consiga minimizar esse desafio de insegurança jurídica, de insegurança pública, melhor infraestrutura, mas também a tecnologia da informação está batendo na porta de todas as indústrias e serviços de um modo geral. E, nesse sentido, nós estamos inaugurando ainda este ano um centro de referência em tecnologia da informação. Nós chamamos de Digitec, lá no Rio de Janeiro. São 2.500 metros quadrados, são 13 laboratórios em cibersegurança, em IA. Teremos certificações também para os alunos e pretendemos ter lá 800 alunos sendo qualificados, capacitados, para atender não só a indústria, como também serviços para a indústria e a para a população de um modo geral”.

Mão de obra — “A mão de obra é uma preocupação mundial. No mundo todo há dificuldade de mão de obra. No Brasil também, no Rio de Janeiro também e nessa região também. Nós da Firjan, assim que tomei posse ano passado, eu determinei a criação de um grupo de trabalho da empregabilidade para analisar o que era possível para nós contribuirmos para minimizar a questão da falta de mão de obra E definimos algumas estratégias, traçando três linhas a seguir com base no relatório final. Uma nós já entregamos, que é o escritório de carreira. O escritório de carreira tem o propósito de conectar a demanda com a oferta. Nós fazemos oferta e a indústria tem demanda. Nós criamos ferramentas para fazer essa conexão. E uma das ferramentas é uma plataforma digital, Emprega-Indústria, que nós adquirimos lá com os nossos companheiros do Paraná, estamos implantando aqui ainda esse ano, e será uma plataforma com diversas vieses de identidade entre demanda e oferta. Então, você tem os 50 +, temos o PCD, temos mulheres, então tem diversos vieses para identificar essa oferta com demanda. E, por último, uma terceira ferramenta para ser utilizada dentro desse projeto de empregabilidade é utilizar os migrantes que tem no Brasil, através do programa Acolhida. Nós fizemos um convênio para utilizarmos esses migrantes, qualificando esses migrantes. O governo, através do Acolhida, faz toda a regularização desse migrante. Nós fazemos a qualificação e a indústria poderá utilizar essa mão de obra que tem excelente qualidade”.

Setor energético — “Entendemos que nenhuma energia vai eliminar outra, quer dizer, uma integração dessas energias. Então, seja a energia fóssil, seja a energia renovada, cada uma terá o seu nicho de mercado, o seu marketing share. Essa região é extremamente bem dotada de possibilidades para desenvolver o eólico. Tem 13 projetos de eólico no Brasil, no Rio de Janeiro, e aqui nessa região tem 11 projetos sendo propostos para licença. Então, acho que é uma oportunidade de Campos avançar nessa integração energética, do fóssil para o renovável”.

Tarifaço — “Eu acho que é um desafio que a gente pode tornar oportunidade. Porque a indústria está procurando novos mercados. Há questões geopolíticas complicadas a serem superadas, mas obriga a indústria a se mexer, a achar alternativas em não depender de um único mercado. O risco que existe de depender tanto de um único mercado. O Rio de Janeiro, especificamente, não foi tão impactado. O impacto foi em 2% das exportações, com um valor aproximadamente de R$ 130 milhões, mas esse impacto é principalmente em pequenas e médias empresas.

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