*Felipe Fernandes
- Atualizado em 24/12/2025 09:38
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Filme: Avatar - Fogo e cinzas - Oriundo dos efeitos especiais, o canadense James Cameron é um artista que tem o sci-fi enraizado em sua filmografia. Diretor de clássicos como os dois primeiros filmes de "O Exterminador do Futuro", "Aliens: O Resgate" e o subestimado, "O Segredo do Abismo", o gênero deve muito ao cineasta, que redefiniu o cinema de ação e ficção científica do final do século XX.
Lançado em 2009, Avatar chegou aos cinemas cercado de expectativas. Não apenas por marcar o retorno de Cameron ao gênero, mas também por ser seu primeiro filme após o sucesso absurdo de Titanic. E o longa realizou o que parecia impossível: superou a bilheteria de Titanic e se tornou o filme de maior arrecadação da história.
Avatar pode ser considerado uma síntese do cinema do diretor. O filme reúne temas recorrentes, estilo narrativo e a ambição técnica presentes em suas obras anteriores. Somos apresentados ao planeta Pandora e a toda a beleza e complexidade de sua vida nativa.
O longa aborda temas relevantes, como a importância da relação interdependente entre homem e natureza, a ciência como ferramenta de interlocução entre povos, o confronto homem versus máquina, além da colonização e da relação entre diferentes espécies, tudo isso em uma mistura eficiente de ação e romance.
Lançado em 2022, "Avatar: O Caminho da Água" apresenta uma história de vingança relativamente preguiçosa, utilizada como justificativa para expandir o universo de Pandora, agora acompanhando a família Sully em sua convivência com o povo da água.
Filmado em conjunto com o longa anterior, "Avatar: Fogo e Cinzas" é uma continuação direta. Ambos os filmes funcionam praticamente como uma única história de mais de seis horas de duração, se consideradas as somas de seus tempos. Partindo do sentimento de luto decorrente dos acontecimentos do clímax do filme anterior, o longa assume uma carga dramática mais pesada, intensificando os conflitos familiares nas particularidades de cada membro da família.
Diferente dos filmes anteriores, este não oferece momentos de respiro ou contemplação do planeta, elementos que sempre foram o grande diferencial da franquia. Não há nada de realmente novo apresentado. Os povos do vento e do fogo carecem de fascínio e acabam se tornando meros detalhes na guerra entre humanos e Na’vis.
O povo do fogo surge com uma promessa de antagonismo bem introduzida, especialmente na figura da líder Varang, mas rapidamente se transforma em simples peões ao lado dos humanos, deixando uma clara sensação de potencial desperdiçado.
O filme explora o aspecto espiritual, quase místico, por meio da relação da jovem Kiri com a deusa Eywa. Chama a atenção o fato de esse universo espiritual ser composto majoritariamente por figuras femininas, com a própria deusa sendo reconhecida como do sexo feminino, como se o acesso ao divino estivesse reservado às mulheres. Assim como o dom da vida, o contato com o sagrado parece pertencer a elas.
O ritmo do filme é extremamente intenso, com diversas ações ocorrendo simultaneamente e envolvendo diferentes personagens. Cameron já demonstrou em outros trabalhos ser brilhante nesse tipo de construção frenética, mas aqui a escala é ainda maior. Tudo é grandioso e imponente, o que contribui para uma experiência cansativa, sobretudo devido à longa duração e à escassez de momentos de pausa.
Ainda assim, Cameron consegue fechar os arcos dos personagens principais, costurando ações e consequências que atravessam os três filmes. Não é uma tarefa simples, mas se mostra recompensadora para os fãs mais dedicados.
Avatar se consolida como uma narrativa sobre o confronto do homem, retratados como “o povo do céu” e, portanto, os verdadeiros alienígenas da história, com toda a vida nativa de um planeta que luta por sobrevivência. Essa alegoria é reforçada pelo embate entre o protagonista Jake Sully, um ex-fuzileiro que se tornou Na’vi, e o coronel Quaritch, representação direta do imperialismo armado.
Trata-se de uma clara alegoria às ações dos colonizadores sobre os povos originários: homens gananciosos em busca de riquezas que destroem um ecossistema formado por espécies codependentes que vivem em harmonia.
Além da crítica, os filmes são verdadeiros espetáculos visuais e propõem um conceito de respeito e interação entre espécies dentro daquele universo ficcional, uma utopia sci-fi que apresenta uma visão moral de mundo integrada à natureza, à espiritualidade e ao respeito por toda forma de vida.
James Cameron entende o cinema como uma ferramenta de entretenimento e reflexão sobre a humanidade e os caminhos que traçamos enquanto sociedade. Avatar se apresenta como seu testamento artístico: uma declaração de suas crenças cinematográficas e éticas.