Edgar Vianna de Andrade - O Natal em dois filmes
*Edgar Vianna de Andrade - Atualizado em 17/12/2025 07:46
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“A loja da esquina”, dirigido por Ernst Lubitsch em 1940, e “A felicidade não se compra”, de 1946, com direção de Frank Capra, têm pontos de contato. Ambos os diretores eram europeus. Lubitsch já era famoso por seus filmes na Alemanha quando foi convidado a trabalhar nos Estados Unidos. Capra, italiano, mudou-se mais cedo para o país que estava absorvendo diretores e artistas europeus. Lubitsch passou a dirigir filmes estadunidenses ambientados na Europa, enquanto Capra mergulhou de cabeça no país que o adotou. Os dois eram estrangeiros, como vários outros diretores e artistas que se consagraram nos Estados Unidos. Hollywood deve mais aos estrangeiros que aos norte-americanos.

Ambos os filmes são dramas com toques de comédia. Ou comédias românticas. Ambos são estrelados por James Stewart. Ambos tangenciam o Natal, mas não são, como se costuma dizer, filmes sobre o Natal. Lubistsch ambienta seu filme numa Budapeste anterior à Cortina de Ferro, enquanto Capra vai para uma cidade do interior dos EUA. Ambos os filmes são concebidos no realismo romântico norte-americano. Capra vai mais fundo que Lubitsch nessa direção.

“A loja da esquina” conta com o famoso toque de Lubitsch. O dono da loja, o par romântico e os demais funcionários aparecem travestidos em outros filmes do famoso diretor. Ele gostava de insinuar infidelidade e algo indefinido em suas comédias. Ele sabe fazer a câmara falar. Ele mostra uma mão no interior de uma caixa postal à procura de cartas. Não sendo encontradas, aparece um rosto aflito, ainda pelo enquadramento da caixa. Esta comédia romântica tornou-se modelo para outras do gênero. O Natal só aparece no fim.

“A felicidade não se compra” é um legítimo filme estadunidense. Capra busca aquilo que se entende por espírito dos Estados Unidos. Os norte-americanos diriam “O espírito da América”, como se apenas os Estados Unidos representassem o continente americano. Capra é mais assumido que Lubitsch. A tradição norte-americana de cinema entende que a verdadeira alma do país se encontra no interior, na classe média, no casamento, na família, nos pequenos negócios, na luta contra os magnatas. Todos esses traços são encontrados no filme de Capra.

O personagem de James Stuart renuncia a uma bela carreira de arquiteto para assumir os negócios do pai. Ele enfrenta a concorrência de um magnata. Não pôde lutar na Segunda Guerra Mundial por ter ficado surdo de um ouvido quando criança. Ele ama sua esposa (Donna Reed) com quem tem vários filhos. Enfim, apesar de tudo, ele é um homem feliz. Mas é levado a uma situação crítica. Pensa em se matar, mas, no Céu, um anjo de segunda categoria (ainda sem asas) é designado para salvá-lo. O homem infeliz é confrontado com um mundo sem ele. A vida vale a pena. Seus amigos (a cidade quase toda) salvam-no da infelicidade (uma dívida com o magnata). O anjo ganha asas e a felicidade (que nunca deriva do dinheiro) prevalece num glorioso Natal.

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