Lô Borges, um dos fundadores do Clube da Esquina, morre aos 73 anos em Belo Horizonte
03/11/2025 10:03 - Atualizado em 03/11/2025 10:39
Um dos fundadores do Clube da Esquina, Lô Borges se apresentará no Sesc na próxima sexta-feira
Um dos fundadores do Clube da Esquina, Lô Borges se apresentará no Sesc na próxima sexta-feira / Foto: João Diniz/Divulgação
Morreu, aos 73 anos, em Belo Horizonte, o cantor e compositor Lô Borges, um dos nomes mais importantes da música brasileira. A informação foi confirmada nesta segunda-feira (3) pela família do artista. Ele realizou um show em março deste ano no Sesc, em Campos, e os ingressos esgotaram em poucos minutos.

Lô Borges estava internado na Unidade Terapia Intensiva (UTI) desde 17 de outubro. Ele foi hospitalizado devido a uma intoxicação por medicamentos e precisou de ventilação mecânica. No dia 25 de outubro, passou por uma traqueostomia.

Em parceria com Milton Nascimento, Lô foi um dos fundadores do Clube da Esquina.

O mineiro coleciona sucessos atemporais como "Um girassol da cor do seu cabelo", "O trem azul" e "Paisagem da Janela".
O blogueiro do Folha 1, Matheus Berriel, entrevistou o artista após o último show dele em Campos, em março deste ano. Na conversa, Lô Borges revelou álbum de inéditas com Zeca Baleiro, comentou reconhecimento ao "Clube da Esquina", evidenciou parceiros menos midiáticos e falou sobre carinho do público de Campos.
O jornalista e diretor da Folha da Manhã, Aluysio Abreu Barbosa, entrevistou o compositor em meados dos anos 90, antes de um show em Grussaí, São João da Barra, e lamentou a morte do artista.
“Compôs parte importante da trilha sonora da vida de muita gente. Revolucionou a MPB e, sem exagero, a música do mundo, junto de Milton Nascimento, com o disco “Clube da Esquina”. Tive a chance de entrevistá-lo em meados dos anos 1990, antes de um show que deu no restaurante “Boca de Luar”, em Grussaí. Era também uma figura humana generosa e gentilíssima. Perda precoce e irreparável à música brasileira”, lamenta.
Vida e obra
Sexto filho de uma família de 11 irmãos, Salomão Borges Filho nasceu no bairro Santa Tereza, na Região Leste de Belo Horizonte, e se mudou ainda criança para o Centro da cidade, durante uma obra na casa em que vivia. A mudança temporária transformou, para sempre, a vida de Lô e a música brasileira.

Aos 10 anos, nas escadas do Edifício Levy, na Avenida Amazonas, ele conheceu o vizinho Milton Nascimento.
"Sentei na escadaria, dei de cara com um carinha tocando violão, era o Bituca. Eu tinha 10 (anos), e ele tinha 20. [...] Fiquei vendo o Bituca tocando violão, e ele assim comigo: 'Você gosta de música, né, menino?'", contou Lô Borges em entrevista ao programa Conversa com Bial, em 2023.
A moradia no centro ainda rendeu outro encontro.

"Dois meses depois, ao acaso também, andando pelas ruas do Centro de BH, eu conheci o Beto Guedes, que também tinha 10 anos, andando numa patinete. Eu fiquei encantado pela patinete, abordei o cara, o cara era Beto Guedes", disse.
Clube da Esquina
A família Borges voltou a morar no Santa Tereza, e Lô, já mais velho, seguiu os passos dos irmãos e tomou gosto pela música nas ruas do bairro boêmio.

Milton Nascimento, que já não era mais vizinho, continuava frequentando a casa da família Borges.
"Tocou a campainha lá na casa da minha mãe, era o Milton Nascimento falando: 'Cadê o Lô?'. 'Ah, o Lô tá na esquina, num lugar que eles chamam de 'clube da esquina', ele está lá'. Aí o Bituca veio com o violãozinho dele, comecei a mostrar a harmonia que eu estava fazendo, era uma harmonia do Clube da Esquina, ele começou a fazer a melodia, e aí a gente fez a parceria Clube da Esquina. E na época ele já era famoso, eu era anônimo", contou Lô Borges.
E foi nas esquinas das ruas Divinópolis com Paraisópolis que músicas conhecidas mundo afora foram escritas. O Clube da Esquina se transformou em movimento musical e, em 1972, virou o nome do disco que foi considerado, mais de 50 anos depois, o maior álbum brasileiro de todos os tempos.

O disco também foi eleito o nono melhor de todos os tempos de todo o mundo no ranking da revista norte-americana "Paste Magazine", que listou 300 discos icônicos da história da música mundial.

No mesmo ano em que assinou o álbum Clube da Esquina, Lô Borges gravou e lançou o primeiro disco solo, o Disco do Tênis.
Pausa e retomada
O sucesso repentino fez com que Lô Borges desse um tempo dos palcos. O artista viveu um período em Arembepe, na Bahia.
"Eu estava vivendo a minha vida, tocando violão, eu não parei de compor, as canções foram se avolumando na minha vida, aí eu voltei em 78, com muito mais maturidade e fiz um álbum que eu considero um dos melhores álbuns que eu já gravei, que já compus, que é o Via Láctea".
Em 1984, Lô Borges fez sua primeira turnê por todo o Brasil com o disco Sonho Real. Na década de 1990, uma parceria com Samuel Rosa, na música "Dois Rios", trouxe Lô de volta aos holofotes.

Desde 2019, o artista mantinha a tradição de lançar um álbum de músicas inéditas por ano. O último foi Céu de Giz, em agosto de 2025, uma parceria com Zeca Baleiro.
Com informações do G1

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