Por meio das mais diversas expressões, a arte exerce um papel fundamental na preservação da memória coletiva. Ela guarda, registra e ressignifica tempos, lugares e narrativas que, sem esse olhar, talvez se perdessem. Nos espaços urbanos, onde as mudanças são constantes, a arte se revela um recurso potente para documentar, despertar sensibilidades e reforçar o vínculo de pertencimento a um território.
A exposição póstuma “Denancy Anomal: sua cidade como maior fonte de inspiração”, que será inaugurada no próximo dia 24 de outubro, no Museu Histórico de Campos, presta uma merecida homenagem ao artista campista que soube eternizar, em suas pinturas, um olhar sensível sobre o patrimônio cultural de sua terra natal.
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Com curadoria de Genilson Soares, fotografia de Mauro Ramalho e coordenação geral de Graziela Escocard, a mostra é uma realização da Fundação Cultural Jornalista Oswaldo Lima, em parceria com o amigo e colecionador das obras do artista, Gottfried Stützer Junior, que fará a doação de 15 obras para o acervo permanente do Museu Histórico.
A exposição conta ainda com o apoio do Instituto Histórico e Geográfico de Campos dos Goytacazes, reafirmando o reconhecimento e a importância de Denancy Anomal na preservação da memória artística e cultural campista.
O pintor Denancy Mello Anomal nasceu no dia 24 de outubro de 1918 em Vila Nova, 20º distrito de Campos dos Goytacazes, RJ. Filho de Cornelio de Souza Anomal e Otilia Mello Anomal, desde muito jovem demonstrou uma sensibilidade artística singular e notável habilidade para os trabalhos manuais.
No ano de 1932, com apenas 14 anos, Denancy deixou o interior e mudou-se para a sede do município, com o objetivo de continuar seus estudos em um ambiente mais propício ao seu desenvolvimento intelectual. Matriculou-se no tradicional Instituto Comercial de Campos, onde concluiu sua formação em Contabilidade. Após o término do curso, iniciou sua trajetória profissional no setor público, ingressando no Centro de Saúde de Campos. Lá, desempenhou inicialmente as funções de contador e, mais tarde, foi promovido ao cargo de Chefe de Seção, onde permaneceu até se aposentar.
Em 24 de outubro de 1945, Denancy uniu-se em matrimônio a Nair Maciel. Desse casamento nasceram dois filhos: Cláudio José Maciel Anomal (in memoriam) e Maria Auxiliadora Maciel Anomal, que herdaram do pai o apreço pela cultura e o senso de responsabilidade social.
Ao longo de sua vida, Denancy consolidou-se como um dos mais autênticos e representativos artistas plásticos da região. Autodidata por vocação, buscou também formação acadêmica, aliando o aprendizado técnico à sua sensibilidade natural. Seu trabalho é amplamente reconhecido pelo valor documental e histórico. Com um olhar atento ao passado e às paisagens locais, registrou em suas pinturas diversos cenários emblemáticos da cidade e do entorno: o Cais da Lapa, antigas igrejas, casarões históricos, as belezas naturais do Pontal em Atafona, além do sempre presente rio Paraíba do Sul.
Mas não foi apenas na pintura que Denancy deixou marcas tão pessoais. Ele também era um marceneiro de grande habilidade e confeccionava as próprias telas, molduras e até os móveis de seu atelier. Sua arte era completa: do esboço à moldura, tudo passava por suas mãos talentosas.
Paralelamente ao trabalho pictórico, Denancy cultivava a poesia. Era um apaixonado pelas palavras, e deixou como legado uma expressiva produção de trovas e sonetos. Participava ativamente da vida cultural campista e integrava entidades literárias e artísticas, como a Academia Pedralva de Letras e Artes e a União Brasileira de Trovadores (UBT). Fez parte em 1977 do primeiro Conselho de Cultura de Campos e ministrou aulas de pintura no Palácio da Cultura. Além disso, era um dedicado orquidófilo, cuidando com esmero de seus jardins floridos, que rodeavam a casa e o atelier, localizados na Rua Barão de Miracema, 40, no Centro de Campos.
Denancy Mello Anomal faleceu em 26 de junho de 1980, deixando um legado artístico e cultural de grande valor. Em homenagem ao artista, a Câmara Municipal deu seu nome a uma rua no Parque Fundão e ele tornou-se Patrono da cadeira nº 13 do Instituto Histórico e Geográfico de Campos dos Goytacazes.
Seu nome está registrado no Dicionário Brasileiro de Artistas Plásticos (MEC - 1973) e no Guia Internacional das Artes (Léo Christiano - 1982), reafirmando sua importância e seu lugar na história das artes no Brasil.
*Pesquisador de história regional e ocupante da Cadeira nº 26 na ACL