Edgar Vianna de Andrade - Os cem filmes melhores do século XXI
*Edgar Vianna de Andrade 02/07/2025 08:46 - Atualizado em 02/07/2025 08:46
Reprodução


Mais de 500 produtores, diretores, artistas e críticos foram reunidos pelo jornal “New York Times” para a seleção dos melhores filmes do século XXI. Faltam ainda 75 anos para o século acabar e já se faz uma lista. Muitos filmes ainda serão produzidos até lá. Talvez até mesmo o cinema seja substituído por alguma nova arte ou tecnologia. Sabemos como são essas listas. Elas variam com o tempo. Na lista do
século XX, Orson Welles e Alfred Hitchcock se revezaram no primeiro lugar. Nos próximos dez, vinte, cinquenta, setenta e cinco, deve acontecer o mesmo com a lista do século XXI.
O ganhador desta primeira lista foi “Parasita” (2019), do coreano Bong joon-ho. Ele participou do grupo que escolheu os filmes, mas não votou nele mesmo. Modéstia. O Brasil figurou apenas com “Cidade de Deus”, em 15º lugar, logo depois de “Bastardos inglórios”, de Quentin Tarantino.
Procurei animações na lista e encontrei apenas quatro: “A viagem de Chihiro (2001, 9° lugar), deHayao Miyazaki; “Wall-E (2008, 34º lugar), de Andrew Stanton; “Up: altas aventuras” (2009, 50º lugar), dePete Docter, e “Ratatouille” (2007, 73° lugar), de Brad Bird. “A viagem de Chihiro” é uma obra-prima. Todo ele concebido em stop-motion, é um trabalho de artesão, como sempre fez Hayao Miyazaki. O roteiro é
sombrio e meio assustador para crianças. Parece um mergulho no Japão antigo. A menina Chihiro entra num mundo mágico e assombrado com seus pais, que viram porcos. Com ajuda de um menino também enfeitiçado ela precisa salvar seus pais da bruxa, dos demônios, dos encantamentos. É uma animação mais para adultos que para crianças.
“Wall-E” é uma joia saída dos estúdios Disney. Uma das poucas, depois dele se render a animação computadorizada e pasteurizada. Wall-E é um robô que cuida da limpeza da Terra depois da grande catástrofe causada pela crise ambiental. Em outro canto do mundo, as pessoas são alimentadas como gado e frango de corte. Elas são gordas e sedentárias. Trata-se de uma melancólica distopia meio incompatível com a Disney.
“Up, altas aventuras” foge um pouco dos roteiros estereotipados da Disney/Pixar por enfocar a vida de um homem que realiza seu sonho na velhice, mas “Ratatouille” deixa a desejar para figurar na lista. Fico me perguntando como “Happy feet”, computação gráfica dirigida por George Miller em 2006, ficou de fora da lista. A animação é fantástica e inovadora, digna de um diretor que se arroja na câmara e na
fotografia.
Faço a mesma pergunta com relação a “Rango” (EUA, 2011), experiência de Gore Verbinski em animação. O resultado foi altamente criativo. O filme saiu dos estúdios da Nickelodeon Movies, GK Filmes e Blind Wink. O diretor fugiu da polarização Disney/Dreamworks.
Só pelos filmes de animação, percebo que a lista dos melhores filmes do século XXI apresenta dois problemas: foi elaborada a partir de muitas pessoas que, embora ligadas ao cinema, não têm uma visão crítica da arte; e se mostra muito prematura. O título deve ser “Os melhores filmes do primeiro quartel do século XXI”. Mesmo assim, com ressalvas.

ÚLTIMAS NOTÍCIAS