Comitê do Baixo Paraíba estabelece em 2,30 m cota média para Lagoa Feia
Ícaro Abreu Barbosa 21/04/2021 13:20 - Atualizado em 22/04/2021 17:41
  • Canal Caxeixa em níveis alarmantes: abastecido com águas provenientes da Lagoa Feia, é responsável pelo fornecimento de água à produtores da Baixada Campista

    Canal Caxeixa em níveis alarmantes: abastecido com águas provenientes da Lagoa Feia, é responsável pelo fornecimento de água à produtores da Baixada Campista

Os membros do Comitê do Baixo Paraíba definiram nesta terça-feira (20) o nível da cota média da Lagoa Feia para o período de outono e inverno do ano de 2021. Foram postas três alturas médias em debate: 2m, 2.15m e 2.30m. Na votação ganhou o grupo formado pela Companhia Estadual de Águas e Esgoto (Cedae), prefeitura de Quissamã, Instituto Federal Fluminense, que votaram levando em conta o abastecimento de água da população de Quissamã, proveniente da Lagoa Feia. A decisão não agradou aos produtores rurais de Campos, que dizem perder “centenas de hectares de produção” com a decisão de uma cota média mais alta.
Um dos principais articuladores da proposta de cota mais alta foi José Armando Barreto, produtor agrícola e aquícola. Para ele, foi vital para a segurança hídrica regional a aprovação da proposta de 2.30m em função do período de estiagem, previsto para os próximos cinco meses.
— Estamos no início da estiagem, período de pouca ou nenhuma chuva. Historicamente, as chuvas abastecedoras só voltam no próximo verão; de agora a cinco meses. Por isso, os baixos níveis, como defendido pelo grupo de produtores rurais do Sindicato Rural e da Asflucan, colocam em risco o abastecimento humano de toda a população do município vizinho de Quissamã, além de toda e qualquer atividade produtiva local — explicou José Armando, justificando sua posição pela necessidade de assegurar segurança hídrica, produção de alimentos, abastecimento humano e sustentabilidade ambiental de todo o sistema hidráulico da Lagoa Feia.
A posição de nível médio mais elevado também foi defendida por Vanuza Mota da Fonseca, bióloga e representante concursada da Cedae no comitê do Baixo Paraíba. “Nós já tivemos problemas para captar água por conta do nível da lagoa, e sabemos que temos que respeitar um nível mínimo”, disse. Ela justificou sua posição complementando que: “A aprovação de níveis menores para o período de estiagem poderia acarretar em problemas para a produção de água: 2,30 m é o nível mínimo e favorece uma maior quantidade de captação e melhor qualidade da água bruta”.
Representando o Sindicato Rural, Ronaldo Bartholomeu dos Santos, que votou à favor da cota média em 2m, redarguiu e confessou estar “decepcionado”: “Tentamos mostrar para as pessoas que a Lagoa Feia não tem eficiência de drenagem, mas mesmo assim eles foram coniventes. O problema é o seguinte: várias propriedades rurais e centenas de hectares de terra vão continuar inundados, como todos sabem. Aconteceu que não quiseram entender a realidade da região. Enquanto o sistema de drenagem estiver no estado que está, não podemos ter uma cota nessa altura e agora vamos continuar amargando prejuízo. Infelizmente, quem vai perder empregos é a população de Campos e nós, produtores, vamos continuar pagando a conta”.
A academia também votou favorável à cota mais alta. Representando o IFF, o Dr. Vicente Oliveira, professor no doutorado de Recursos Hídricos da instituição, afirmou que votou na cota mais alta pela região se encontrar no início de um período seco. “É estratégico termos uma cota mais alta”, pontuou. Para ele, os produtores rurais querem que as cotas médias fiquem bem baixas para favorecer suas terras, mas o olhar da instituição é na direção do fornecimento de água às 27 mil pessoas de Quissamã.
A organização sem fins governamentais, Ecoanzol, representada pela Luiza Salles, argumentou que a gestão de recursos hídricos é dinâmica e elucidou: “Dado ao que temos acompanhado, 2.30m é um bom índice pra manter a Lagoa Feia equilibrada. Mas esse nível deve ser acompanhado de forma técnica pois a natureza não é cartesiana”. 
Para Luiza, neste momento, o índice definido em votação assegura a produção rural da região e garante o acesso aos recursos hídricos da lagoa. 

ÚLTIMAS NOTÍCIAS