Ainda sem apresentar planos para a educação municipal, Wladimir pactua escola cívico-militar em Campos
Defendida por grupos bolsonaristas, a proposta prevê a implantação de ao menos uma escola cívico-militar no município e camufla o real problema da educação em Campos: a falta de investimento.
Divulgação Internet
Nesta terça-feira o prefeito Wladimir Garotinho se reuniu com o vereador e pastor da Igreja Universal, Anderson de Matos, para debater a adesão do estado do Rio de Janeiro e da cidade de Campos à proposta de escolas cívico-militares do governo federal.

A reunião apontou o alinhamento entre o prefeito Wladimir e as demandas dos grupos bolsonaristas na cidade de Campos. Vale destacar que até o momento o prefeito ainda não divulgou qualquer plano para a educação municipal ainda no contexto da pandemia.

Em vídeo divulgado nas suas redes sociais, o vereador e o prefeito alegam que a proposta prevê fortalecer o ensino público de Campos, no entanto, o ranking das melhores escolas públicas do país ainda aponta um desempenho inferior das escolas militares no Brasil, em relação a demais instituições públicas.

Entre as 10 melhores escolas públicas no ranking divulgado pelo MEC em 2017, 7 eram institutos federais ou colégios de aplicação ligados a universidades federais, 2 escolas estaduais e apenas 1 colégio era militarizado.

O vereador Anderson, que também é um defensor do “Escola Sem Partido”, esquece de destacar em seu vídeo o teor ideológico das escolas cívico-militares. O ex-ministro Weintraub deixou claro em dezembro de 2019 que o programa não é para formar melhores cidadãos ou seres humanos com maior capacidade crítica, mas sim “para garantir que nossa bandeira verde e amarela jamais será vermelha”. A fala foi durante o anúncio das 54 escolas cívico-militares em 2020.
As escolas cívico-militares se tornaram bandeira do governo Bolsonaro durante as desastrosas passagens dos Ministros Vélez Rodrigues e Weintraub, em meio a severos cortes no orçamento do ensino federal.

Os defensores das escolas cívico-militares gostam de citar os bons resultados e a “ordem” dos Colégios Militares, mas há uma diferença fundamental: estas unidades, de responsabilidade das Forças Armadas para formar futuros militares, investem em média R$ 19 mil ao ano por estudante. Nas escolas públicas que serão militarizadas no projeto de Bolsonaro, o investimento atual é em média de R$ 6 mil por aluno anualmente, por isso, o governo prometeu um aporte de R$ 54 milhões para o programa de militarização, cerca de R$ 1 milhão para cada escola cívico-militar. Ou seja, muitos municípios são levados a aderir a um programa disciplinar nebuloso para garantir recursos.


Assim como os Colégios Militares, os Institutos Federais têm ótimos resultados, também devido ao investimento mais alto (R$ 16 mil ao ano por aluno). Porém, são sistematicamente difamados e atacados pelo atual governo, que teme a liberdade de expressão e manifestação nestas instituições, liberdade essa que é determinantemente vedada nas escolas militares, onde os alunos são, por exemplo, proibidos de participarem de manifestações com os uniformes das escolas e iniciativas democráticas como a criação de Grêmios Estudantis não é incentivada.

Pra finalizar, a militarização das escolas é apontada como solução para escolas violentas, em locais de vulnerabilidade social. Muitos especialistas questionam por que a polícia e as Forças Armadas não solucionam os problemas no bairro ao entorno da escola, como é sua função. Conforme aponta a Prof. Dra. Catarina de Almeida Santos, da Faculdade de Educação da Universidade de Brasília (UnB): “o que a polícia, que não entende de educação, está fazendo dentro das escolas? Se a justificativa é que a escola está violenta, a resposta é que a violência está na sociedade em que a escola está inserida. Se a polícia não está dando conta da insegurança na sociedade, por que ela vai dar conta da escola?”
Por Gilberto Azeredo Gomes às 22:56

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