Crítica de Cinema - A força sem brilho
*Felipe Fernandes 21/12/2019 15:34 - Atualizado em 26/12/2019 14:13
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Star Wars: A ascensão Skywalker — Uma das franquias mais importantes e amadas do cinema chega ao seu nono capítulo. “Star Wars: A ascensão Skywalker” promete ser o desfecho (ah vá) para essa parte da franquia, encerrando a história dos personagens clássicos e dando prosseguimento às aventuras dos interessantes personagens introduzidos com o início dessa nova trilogia, que é um caso à parte
O episódio VII (dirigido por J.J. Abrams) foi duramente criticado (apesar de agradar grande parte do público) por copiar a estrutura e muito dos acontecimentos do primeiro filme. Partindo dessas críticas, o episódio VIII (dirigido por Rian Johnson), foi corajoso ao criar consequências reais e fez mudanças consideráveis na franquia, provocando o ódio do lado neg..., digo, de muitos fãs, sendo um filme que dividiu opiniões, mas criou um burburinho muito grande.
A decisão da Disney então foi trazer Abrams de volta para concluir essa trilogia, com a missão de criar um final épico e digno para uma das franquias mais queridas do cinema, ao mesmo tempo em que precisa desfazer algumas decisões do filme anterior. Dá para sentir o tamanho do problema?
Na falta de um novo vilão, a decisão foi trazer Palpatine (Ian McDiarmid) de volta (não é spoiler, está nos trailers). O filme abre com essa informação, não há uma construção de tensão, de suspense, nada, uma decisão preguiçosa que é jogada pelo roteiro e usada como ponto central da história, tudo gira na busca do planeta secreto dos Sith.
O filme tem um ritmo frenético, muita coisa acontece em tela em um ritmo muito acelerado, é difícil de assimilar muito do que acontece. O longa não permite muitos respiros; o desenvolvimento da história e dos personagens acontece sempre em meio à ação, uma proposta sempre arriscada, que aqui não consegue bons resultados.
Finalmente, acompanhamos o trio principal agindo junto, algo inédito até então, e a química entre eles salta na tela. Os personagens funcionam muito bem juntos, e é uma pena que o roteiro de J.J. Abrams e Chris Terrio (Argo) seja uma bagunça: muito forçado nas coincidências, repleto de diálogos terríveis e imprime uma correria que não causa um senso de urgência essencial para esse tipo de filme, mas passa a sensação de que a dupla resolveu condensar ieéias de dois filmes em um só projeto.
O filme recicla ideias antigas (algo que acontece com frequência na franquia). A Ordem Final, que surge das sombras como a maior esquadra já vista e que tem cada cruzador com o poder de fogo da estrela da morte, basicamente é o império da trilogia clássica com um poder de fogo ainda maior e um novo nome.
A necessidade de Abrams “consertar” alguns dos acontecimentos do longa anterior é um problema. Algumas das melhoras ideias dessa nova trilogia surgiram dali. Mas, com diálogos rápidos ou sem maiores explicações, o filme simplesmente desfaz ou desmerece alguns acontecimentos, como a questão da origem de Rey (Daisy Ridley), por exemplo.
A relação entre Rey e Kylo Ren ganha ainda mais força aqui, e se a dualidade da força é um elemento presente em Kylo Ren desde o episódio 7, somente nesse episódio Rey precisa lidar com essa questão. Suas dúvidas nos longas anteriores eram proveniente das opções para salvar os rebeldes, nunca da dúvida dela ser consumida pelo ódio e consequentemente pelo lado negro. Um elemento novo que, por ser introduzido tardiamente, perde força dramática com Rey, o que já não acontece com Ren.
A batalha final no planeta secreto dos Sith é muito escura e, mesmo que isso sirva para intensificar a presença do lado negro ali, fica difícil compreender muito do que acontece. Abrams também faz uso de cortes muito rápidos, uma mise-en-scène confusa, e não consegue trazer a grandiosidade e a sensação de perigo de outras batalhas aéreas da saga, mesmo sendo esta tratada como a maior delas. Falta ao filme um apuro estético muito presente nos dois capítulos anteriores. O próprio Abrams conseguiu criar imagens deslumbrantes no seu trabalho anterior na franquia. Esse filme carece de momentos e imagens marcantes.
Todo o elenco do filme está muito bem, definitivamente não é um problema do longa. Mesmo com um roteiro problemático e previsível, o elenco dá conta, mostrando como, a cada novo filme, cada um dos atores parece muito confortável em seus personagens.
O terceiro ato é a parte mais problemática. Apressado, desconsiderando elementos antigos da franquia, com diálogos sofríveis, tudo acontece de forma apressada. Falta tensão, emoção, surpresa, é tudo muito corrido e previsível. Rapidamente o épico dá lugar à frustração.
Com esse filme, a Disney mostra que seu planejamento pra essa trilogia não funcionou. Fica a sensação de que cada capítulo foi pensado separadamente, em uma tentativa de erro e acerto. Ao tentar dar muito ouvidos ao que os fãs queriam, o estúdio se viu preso a uma necessidade que não permitiu aos filmes ter a originalidade e a emoção dos longas originais.
“Star Wars: A ascensão Skywalker” é uma colcha de retalhos que, no intuito de agradar, não consegue ser um filme marcante, muito menos um desfecho digno de uma saga tão grandiosa. Faltou coesão e coragem para dar continuidade a uma das sagas mais queridas do cinema.

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