Violência: um problema de todos
16/06/2018 17:28 - Atualizado em 18/06/2018 13:25
O crescimento dos indicadores de violência em Campos, especialmente na área de Guarus, vem sendo destaque em discussões entre autoridades ligadas à Segurança Pública e da sociedade civil organizada. De um lado, comandantes e delegados apresentam números, com a responsabilidade de promover resolução. De outro, os representantes da população cobram o estabelecimento da sensação de segurança. Dentro da intervenção federal na Segurança Pública do Rio de Janeiro, voltada quase exclusivamente, e ainda sem resultados visíveis, para a capital fluminense, há a possibilidade de ações integradas com o Exército em Campos. A notícia foi dada pelo secretário de Estado de Segurança, general Richard Nunes, em visita ao município e confirmada pelo comandante do 8º Batalhão de Polícia Militar (BPM), tenente-coronel Fabiano Souza, e pelo delegado titular da 146ª Delegacia de Polícia de Guarus, Luís Maurício Armond, porém, ainda sem efetividade. Enquanto isso, bandidos ligados à facções criminosas, em guerra, fazem moradores reféns da violência.
Para o sociólogo Hamilton Garcia, professor da Universidade Estadual do Norte Fluminense – Darcy Ribeiro (Uenf), a escalada da violência é um fenômeno nacional ligado a fatores primordiais: a rentabilidade do tráfico de drogas, aliada a baixa qualificação profissional da população; a insuficiência e desorganização das forças de segurança nas esferas federal, estadual e municipal; e a desvalorização de valores humanos com a degradação da família e “desautorização” dos pais.
— O problema do crime no Brasil, hoje, é o negócio da droga, um business muito rentável, em que gira muita economia. Com essa economia com alto nível de desemprego, baixa capacitação da mão de obra, a droga é uma forma de trabalho, ilegal. Juntando isso ao fato de que o sistema de repressão é um sistema falho, onde as polícias não laçam energia entre Guarda Municipal, Polícia Civil e PM, à penitenciária ser uma escola do crime e com a decadência dos costumes, a desagregação da família e uma série de elementos econômicos, culturais e sociais, se tem esse resultado. Um negócio que está no Brasil todo — disse o sociólogo acrescentando ainda que a Lei 13.010, que alterou o Estatuto da Criança e do Adolescente, e garantiu o direito de serem educados sem castigos físicos ou de tratamento cruel, deixou muitos pais sem saberem como educar. “Não é o direito de espancar, mas o direito de castigar, de punir. É o direito de autoridade”, acrescentou levando em conta a falta de informação e formação de muitos brasileiros.
— Uma parte muito grande da população é muito rude, não tem acesso ao discurso psicológico. Então, quando você tira dela a palmada, ela não tem nada pra colocar no lugar — pontuou.
Para o delegado titular da 134ª DP do Centro, Geraldo Rangel, deve-se exigir a excelência dos serviços. “A população tem que cobrar, está no papel dela de cobrar dos órgãos públicos. Cabe à população exigir, cada vez mais, melhores serviços, tanto na segurança pública, quanto na saúde, quanto na educação ou no transporte”, disse.
Já o comandante do 8º BPM conta com maior participação da população e com o entendimento de que a PM age na consequência de onde a sociedade falha. “Eu acho que a população participa, mas poderia participar mais, com as denúncias. No meu ver a questão não é só mais uma questão de polícia, é muito além. É questão social. Se não tiver políticas públicas efetivas, a situação não vai melhorar. Nós temos que ter cursos profissionalizantes, esporte, porque se não tiver isso, a gente vai combater a criminalidade sem ir ao cerne da questão. Primeiro a gente tem que entrar com o social, não adianta entrar com a polícia, com a repressão, tem que ter a parte preventiva. Só repressão não resolve o problema”, disse.
Prefeitura em ação diferenciada no Eldorado
A Prefeitura de Campos está ouvindo os moradores do Parque Eldorado e proximidades para conhecer as prioridades da comunidade para o Centro de Artes e Esportes Unificados (CEU). A Secretaria de Desenvolvimento Humano e Social (SMDHS) vem realizando reuniões, com a participação de moradores. Iniciadas na gestão passada dentro do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC 2), as obras da Praça CEU são financiadas pela Caixa Econômica Federal e estão sendo finalizadas pela atual gestão.
Destinado à prevenção à violência em geral, o espaço é idealizado para abrigar ações culturais, esportes e qualificação para o mercado de trabalho. A administração contará com a interação da SMDHS, da Secretaria de Educação, Cultura e Esporte; da Superintendência de Paz e Defesa Social e Superintendência de Igualdade Racial (Supir), além da Fundação Municipal da Infância e Juventude (FMIJ). A Praça CEU ainda contará com a participação ativa da comunidade e da sociedade civil organizada.
O projeto dialoga diretamente com a proposta exposta em reunião da Supir e outros órgãos da Prefeitura. De acordo com o diagnóstico feito pela superintendência, o Eldorado é um dos bairros que mais conta com concentração de população negra em Campos. O estudo expôs a necessidade de que, através do trabalho integrado de secretarias, políticas públicas transversais de igualdade racial sejam postas em prática em áreas como esta.
Semana com tiroteios e escolas fechadas
A violência não deu trégua na última semana. Na noite sexta-feira, foram três homicídios — dois deles na região de Guarus — e quatro baleador, entre eles crianças e adolescentes. São 113 homicídios no ano, segundo dados da Folha, sendo quatro neste mês.
No subdistrito de Guarus ocorreram, ainda, dois casos de trocas de tiros em uma mesma rua, em menos de 24 horas. Na última quarta, um homem de 29 anos foi baleado quando pedalava pela rua Juiz Antônio Braga, no Santa Rosa. No dia seguinte, na mesma rua, um adolescente de 17 anos também foi baleado durante troca de tiros entre bandidos de facções rivais. Um dos disparos atingiu os vidros da Escola Municipal Professora Eunícia Ferreira da Silva. O menino não era aluno.
Em março deste ano, algumas escolas do bairro chegaram a ficar fechadas após alguns cartazes serem colados, em postes do lugar, com mensagens impondo lei e criando uma suposta rede de proteção por parte do tráfico. Agora, a guerra do tráfico voltou a interromper as aulas nessa semana. Quatro unidades escolares localizadas no Santa Rosa foram fechadas na última sexta. A previsão é que as aulas sejam retomadas nesta segunda.

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