Campistas em solo mexicano
Matheus Berriel 30/06/2018 15:52 - Atualizado em 01/08/2018 18:37
A bandeira na janela de uma das casas do tranquilo condomínio Puerta Grande, na cidade de Vilahermosa, no México, indica que ali moram brasileiros. A residência de um casal de campistas é a única enfeitada para a Copa do Mundo no local, que simboliza bem grande parte do país. Não que os mexicanos ignorem o futebol, muito pelo contrário, mas nada que se compare ao clima que toma conta do Brasil num ano de Mundial.
Letícia Barcelos Haddad, de 37 anos, é professora de língua portuguesa e literatura. Deixou Campos e seu país há um ano, para viver no México junto ao marido, Vitor Manhães Haddad, que trabalha por lá numa multinacional de petróleo. De cara, o forte tempero na comida mexicana foi o que mais chamou a atenção.
“Eles comem tudo com pimenta, inclusive as frutas. A cerveja também tem pimenta. Eu estranho não encontrar alguns itens tão comuns à mesa brasileira, como a farinha de mandioca, por exemplo. Mas, aos poucos é possível adaptar o paladar ao tempero mexicano”, garante Letícia.
Entre outras diferenças na cultura, também não passa desapercebida a exaltação local aos ancestrais Omelcas e Maias, bem como a mobilização pelo Dia dos Mortos, principal data comemorativa, no início de novembro. O patriotismo é algo de muito valor para os mexicanos, mas nem por isso eles deixam de admirar a Seleção Brasileira, a única pentacampeã, que conquistou o tri em pleno estádio Azteca, na Cidade do México, em 1970, com uma vitória por 4 a 1 sobre a Itália na grande final.
“Os mexicanos são mais patriotas que os brasileiros. Mas, no que diz respeito ao futebol, nada se compara à festa brasileira. Aqui não há decoração nas ruas ou casas. Os dias de jogos são como qualquer outro. O futebol disputa espaço no coração dos mexicanos com o futebol americano. Eles gostam bastante da nossa seleção. Brasileiros moradores de diferentes cidades notaram que, nas lojas, o destaque das vitrines é para a camisa da Seleção Brasileira. Um dia antes da estreia do Brasil, fomos a uma loja e tinha muitas camisas para vender, mas a procura era grande pela do México, que estava esgotada, e pela nossa”, conta a entrevistada, que é torcedora do Flamengo acompanhando o marido “fanático”.
Como no México não é de costume haver folga nos trabalhos em dias de jogos, não existe um grande ponto de concentração dos brasileiros. Os que se conhecem dão um jeito de se reunir para torcer na casa de algum deles. Assim vai ser na próxima segunda-feira (02), dia do confronto entre brasileiros e mexicanos, pelas oitavas de final da Copa.
“O meu coração e o do meu esposo são totalmente brasileiros. Para nós, neste caso, não há a menor possibilidade de torcermos para o México. Talvez porque vivemos aqui há pouco tempo e ainda não temos o sentimento de pertencimento ao lugar. Mas, conheço brasileiros que vivem aqui há cerca de cinco anos e estão aflitos, sem saber para quem torcer”, afirma Letícia.
Na casa dos campistas, onde até as três cadelas de estimação são uniformizadas nas cores brasileiras, a confiança no hexacampeonato é grande. Muito por conta do crescimento do meia Philippe Coutinho, o principal jogador da seleção comandada por Tite até agora, superando o até então apagado Neymar.
“O último jogo, apesar do placar (2 a 0 contra a Sérvia), foi morno. Mas, a confiança é tudo o que nos resta, afinal, temos jogadores excelentes, os melhores do mundo. Meu palpite é 1 a 0 para o Brasil contra o México. Conversando com meu esposo, que é viciado em futebol, cremos que o Philippe Coutinho será o homem decisivo “, diz a brasileira.
Com Coutinho, Neymar e companhia, o Brasil vai enfrentar o México às 11h (de Brasília) de segunda, no estádio de Samara. Só a vitória, com bola ou rolando ou nos pênaltis, garantirá a permanência na Rússia. De qualquer forma vai haver comemoração no México, seja de toda uma nação ou apenas nos pequenos territórios brasileiros, como a casa de Letícia e Vitor.

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