Morte da vereadora Marielle Franco tem repercussão mundial
Suzy Monteiro e Arnaldo Neto 15/03/2018 18:32 - Atualizado em 19/03/2018 17:14
Dor, revolta, pedidos de justiça e, principalmente, a certeza de que a voz da periferia não foi silenciada com o assassinato da ativista e vereadora do município do Rio, Marielle Franco (Psol), e do motorista Anderson Gomes, marcaram o dia seguinte ao crime no Rio, no Brasil e no mundo. Atos se multiplicaram por várias partes do país, inclusive em Campos, onde estudantes, professores e integrantes de movimentos sociais, partidos de esquerda e entidades sindicais fizeram um "protesto contra o genocídio negro" no campus da Universidade Federal Fluminense (UFF) e depois saíram em passeata. No Rio, milhares de pessoas se reuniram na Candelária e cobraram que a morte da vereadora não fique impune. Políticos e lideranças de movimentos sociais também se manifestaram, na maior repercussão da perda de um ativista, desde Chico Mendes, morto no Acre em 1988.
A Organização das Nações Unidas (ONU) pediu “rigorosa investigação”. No Parlamento Europeu, o eurodeputado português Francisco Assis, questionou a alta representante da União Europeia para os Negócios Estrangeiros, Federica Mogherini, sobre “como pretende influenciar as autoridades brasileiras para que este chocante assassínio seja investigado até às últimas consequências”, e “para que seja garantida a segurança das populações e dos ativistas que pugnam pelos direitos humanos das mesmas”.
No ato da UFF, em Campos, a estudante de Serviço Social Bruna Gabriela Nunes diz não ter dúvida do que motivou o crime: “A execução dela foi como se fosse um aviso, mas não vai nos calar. Foi uma execução por ela ser militante dos direitos humanos, ter sido a quinta vereadora mais votada e agora relatar a comissão da intervenção na Câmara do Rio. Tinha 18 anos de luta e há pelo menos dois denunciava atos de violência da polícia”.
Também estudante da UFF, do curso de Ciências Sociais, Thayna Carvalho é membro Coletivo Negro Mercedes Baptista. Ela também acredita que a vereadora carioca foi executada, por estar em defesa das minorias e quebrar um paradigma. “Nós, mulheres negras, sempre fomos ensinadas a ficar caladas, não enfrentar. Então, a morte da vereadora é uma perda que a gente sente muito, principalmente porque a gente também está nessa luta, botando a cara na reta. Agora temos de nos fortalecer para continuar na luta”, afirmou.
A Universidade Estadual do Norte Fluminense (Uenf) divulgou nota lamentando o crime. Mensagens também foram divulgadas por políticos de todo o país, incluindo o presidente Michel Temer (PMDB), o governador do Rio, Luiz Fernando Pezão (PMDB), e o prefeito da capital, Marcelo Crivella (PRB).
Marielle e o motorista Anderson Gomes foram assassinados dentro de um carro, no bairro do Estácio, Rio, na noite de quarta. A vereadora havia acabado de sair de um evento sobre mulheres negras na Lapa. Ela levou quatro tiros na cabeça. Uma terceira pessoa que estava no carro, uma assessora, escapou apenas com ferimentos provocados por estilhaços. Marielle tinha um trabalho voltado para as questões sociais, em especial mulheres negras e denunciava genocídio de jovens negros.
Marielle e Anderson foram velados na Câmara do Rio, e sepultados no fim da tarde desta quinta-feira.
Leo Zanzi, Presidente do Psol em Campos
“A morte de Marielle representa um combustível para que a gente continue lutando. É um momento de muita dor, mas se eles (os assassinos) pensaram que iriam silenciar a mulher negra, de periferia, se enganaram. A luta não vai parar. Marielle falava por nós. Agora, nós vamos falar por ela”.
Lúcia Talabi, Superintendente de Igualdade Racial
“Como mulher e negra, me sinto muito tocada por esse assassinato, que nada mais é que um crime de mando. A Marielle não estava defendendo bandidos! Ela incomodou, com a sua verdade, os verdadeiros bandidos. Marielle foi vítima de querer fazer o melhor, de querer a verdade”.
Mannu Ramos, Ativista
“Marielle foi uma das vereadoras mais votadas no Rio na eleição de 2016. E a sociedade não está acostumada a ver mulheres negras em postos de decisão, de poder. Ela já vinha nesta luta há muito tempo. Denunciava a violência contra jovens e se posicionou contrária à intervenção federal”.

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