Orlando Thomé Cordeiro e Roberto Dutra: Eleições 2026 em pauta na Folha
Aluysio Abreu Barbosa, Cláudio Nogueira, Gabriel Torres e Hevertton Luna - Atualizado em 22/10/2025 07:52
O articulista Orlando Thomé Cordeiro e o sociólogo Roberto Dutra
O articulista Orlando Thomé Cordeiro e o sociólogo Roberto Dutra / Divulgação
O estrategista político e articulista do Correio Braziliense, Orlando Thomé, e o sociólogo e professor da Uenf, Roberto Dutra, foram os entrevistados desta terça-feira (21) no programa Folha no Ar, da Rádio Folha FM 98,3. Eles analisaram o cenário político estadual, as chances dos campistas Wladimir Garotinho (PP) e Rodrigo Bacellar (União) no próximo pleito e projetaram a disputa a deputado federal e estadual na região. Por fim, comentaram o momento do governo Lula 3 e sua chance de reeleição frente à direita na eleição de 2026.
Rodrigo Bacellar

Orlando Thomé – “Hoje, o cenário para o Bacellar me parece muito difícil. Eu vejo duas possibilidades para ele hoje. A política no Brasil muda muito rapidamente, mas, a preço de hoje, eu vejo dois cenários possíveis para o Bacelar. Ser candidato à reeleição como deputado estadual ou negociar a ocupação de uma vaga no Tribunal de Contas do Estado, a exemplo do que aconteceu com o Pampolha. Esse movimento também está associado ao que nós temos visto em algumas notícias de colunas políticas de que o PL, aqui no estado do Rio de Janeiro e o PL nacional sobre a liderança do Valdemar Costa Neto, não excluem a possibilidade de um acordo com o Eduardo Paes. Seja um acordo formal com a indicação do vice, seja um acordo informal em que o Paes teria o apoio, mas não seria uma coligação formalizada.”

Roberto Dutra – “Eu acho que o protagonismo de Rodrigo é o protagonismo de uma habilidade exímia de negociação política nos bastidores. Conseguiu ser eleito presidente da Alerj com voto de deputado do PSOL. O PT já estava, como se diz, no gato já, mas o PSOL. Ele conseguiu até 100% mesmo e conseguiu, até um certo momento deste ano, a palavra do grupo Bolsonaro, que daria o apoio a ele. Conseguiu tirar o vice da frente. Agora, o que falta a ele é justamente ser um político das ruas, um político do voto, que tenha apelo popular. Ele nunca venceu uma eleição para um cargo executivo. Isso em si não é um indicador de que falta apelo popular.”


Demissão de Washington Reis

Orlando Thomé – “O Bacellar, como disse muito bem o Roberto, essa capacidade de articulação, na minha opinião, sofreu um resvalo no momento em que ele se deixa levar pela por uma ação mais truculenta, que foi esse caso do Washington. Ele quis, na minha opinião, independente de outros motivos não evidentes, mas ele quis mandar um recado: “Eu no governo vou ser assim”. Só que não combinou com os russos. Ele fez isso atropelando, exonerando o Washington Reis.”

Wladimir Garotinho

Orlando Thomé – “No caso do Wladimir, eu acho que ele corretamente está jogando parado, como se diz no futebol. Já que discutimos no primeiro bloco o futebol, ele está jogando parado. Ele é realmente uma noiva cobiçada, não precisa fazer nada nesse momento. Ele pode, inclusive, concluir o mandato dele de prefeito. Acho que nesse cenário de Campos, especificamente com as duas principais lideranças da cidade, quem está numa situação mais difícil em termos da perspectiva de crescimento político é o Bacellar, por conta de tudo isso que falei aqui.”

Eleição a governador

Orlando Thomé – “Eu acho que em relação a possível candidatura de Flávio ao governo do Estado, eu não acredito. O Flávio, dos três irmãos com mandato, dos três filhos com mandato, ele, o Eduardo e o Carlos, é o mais habilidoso na política. É o menos belicoso, ou como diria Zema, menos “beliscoso”. Ele, na minha opinião, não vai trocar uma eleição certa para o Senado por uma disputa com o Eduardo Paes em que ele pode ir para o segundo turno, pode disputar com chance, mas não é algo certo como a eleição dele para o Senado. Segundo, o Flávio não tem uma relação ruim com o Eduardo Paes. Nos bastidores, eles se conversam. Então, eu não vejo possibilidade nesse momento do Flávio assumir uma candidatura ao governo do Rio de Janeiro. Acho que ele será candidato ao Senado e será reeleito com muita folga.”

Roberto Dutra – O PL chega na eleição de 2026 sem realmente ser um candidato disponível de dentro e realmente competitivo. Isso se explica em parte pela gestão de Cláudio Castro, pela avaliação não tão positiva assim dela. Mas a avaliação do governador não é tão baixa, mas pela incapacidade do bolsonarismo, um movimento tão jovem nesse sentido, de preparar novas lideranças, de escolher prioridade. O principal nome, de fato, não tem como principal opção ir para o governo. E fica uma eleição até aqui, onde quem vai ser o melhor candidato para perder para o Eduardo. Não é para ganhar, é melhor candidato para perder com objetivos outros, como bancada, que são objetivos politicamente significativos.

Eleição a deputado

Orlando Thomé – “Eu acho que a tendência é que nós tenhamos uma representação semelhante à que hoje temos tanto na Assembleia Legislativa como na Câmara Federal. Por que eu digo isso? Porque cada vez mais o peso político eleitoral da região metropolitana, particularmente Baixada Fluminense, tem sido muito expressivo. E tem sido muito expressivo, em grande parte, pelo peso que representa, pela influência que tem as organizações criminosas dominando o território nessa região. É muito difícil você competir nessas condições. Eu acho que mantém, elege um parlamentar federal, com dificuldade, mas elege. E acho que pode ampliar a bancada estadual, acho que pode sair de quatro para cinco. Porque se a divisão entre os dois grupos protagonistas de Campos dos Goytacazes dificulta a eleição de um federal, porque o quociente é maior, porque são menos vagas. No caso estadual, eu acho que tem possibilidade desse bolo ser dividido e passar de quatro para cinco.”

Roberto Dutra – “Não tem como você imaginar uma expansão para deputado federal se o eleitorado não cresce. E se não há um foco, uma transferência do foco de poder Executivo para a região, como seria o caso, por exemplo, se Wladimir fosse candidato a governador ou vice-governador. Talvez um puxador de votos, por exemplo, como o Garotinho exerceu esse papel de puxador de votos para o executivo federal, quando foi candidato ao governo. A nível estadual, sim, me parece possível, dado o peso dessas duas lideranças no Estado.”

Bolsonarismo

Orlando Thomé – “O bolsonarismo, ele ajuda até um determinado momento. Hoje ele está atrapalhando. Ele está atrapalhando e aí você faz com que, por exemplo, o Tarcísio, que poderia ser um candidato eleitoralmente forte para presidente, na minha opinião cada vez mais se distancia dessa disputa para poder disputar a reeleição em São Paulo. Onde ele é muito favorito, qualquer que seja o candidato que venha a enfrentar na disputa pelo governo do Estado. Então, eu acho que o Lula é favorito e agora muito favorecido por esse cenário provocado pela mudança do comportamento do Trump na relação com o governo brasileiro.”
Ações de Eduardo Bolsonaro

Orlando Thomé – “O Eduardo Bolsonaro, por sua vez, radicalizou nesse discurso e o Lula nadou de braçada. Nesse caso, o Lula não jogou parado, mas jogou no contra-ataque. “O Brasil é dos brasileiros. Não podemos aceitar interferência, aqui nós temos uma democracia e não aceitamos”. E o jogo econômico, com a pressão interna nos Estados Unidos por conta dos empresários prejudicados por esse tarifaço brasileiro, levaram a essa mudança de posição do Trump, que deixou o pessoal do bolsonarismo, que estava confiando plenamente nessa aliança, nesse discurso, pendurado num pincel, porque não vão ter o que dizer.”

Roberto Dutra – “Informações de diversas fontes dão conta de que Eduardo Bolsonaro já constituiu uma espécie de núcleo dentro da própria família, um tal de um eduardismo, defendendo um reforço ideológico, um adensamento da identidade ideológica do bolsonarismo. Inclusive propondo rever adesões como ao liberalismo de Paulo Guedes. Tem um vídeo dele de julho do ano passado elogiando o Getúlio Vargas, elogiando até Jango e falando que a gente tem que olhar a história do Brasil sem esse entorno ideológico. Então, eu acho que esse é um fator central.”

Cálculo de Eduardo para 2026

Roberto Dutra – “Há um cálculo, por parte de Eduardo, que é o mais assanhado, mais arrojado dos filhos, em termos de tomar o lugar do pai. Na minha opinião, um cálculo consciente de que é melhor perder para o Lula velho, no último mandato, do que deixar que, com o nosso apoio, ganhe um candidato da direita, alguém que não seja leal ao nosso projeto. “Daqui a quatro anos, meu pai vai estar preso, não sei nem se vai estar vivo, e eu vou tirar de mão de qualquer tipo de apoio”. Então, acho que o paralelo com o PT de 2018 faz todo sentido. A diferença, claro, é que o PT tinha uma unidade política que o bolsonarismo não tem.”

Eleitorado evangélico

Roberto Dutra – “Lula tem demonstrado, no final de carreira política, que ainda está em forma politicamente. Muita sensibilidade social, a comunicação dele melhorou, o afastamento da primeira-dama de funções indevidas, que a primeira-dama jamais deveria ter ocupado, contribuiu muito. Inclusive entre os evangélicos, a rejeição de Janja, ela está aí nas igrejas e tudo, mas eu não acredito que isso tenha um efeito. Então, o Lula pode sim (avançar sobre o eleitorado evangélico). Porque é um candidato evangélico que já votou no PT. Não precisa de muito cavalo de pau, não. Bastam sinais, a indicação de um ministro evangélico para o STF, por exemplo.”

Orlando Thomé – “Há uma pesquisa de campo muito interessante, que também está disponível, com a presença do Juliano Spyer, autor de livros e tem teses nessa área do mundo evangélico. Ele trouxe um dado que é interessantíssimo, que contraria um pouco essa percepção. Ele disse que, historicamente, o Lula tem tido, no eleitorado evangélico, um percentual de votos da ordem de 30%. Então, o Lula, não o PT. Isso tudo apesar de o PT e a esquerda não saberem como lidar com o mundo evangélico. Nesse diálogo que nós tivemos, no Derrubando Muros, tem um rapaz que é evangélico e ele estava confirmando essa percepção, dessa dificuldade de compreensão e de diálogo com esse segmento.”

Favoritismo de Lula

Orlando Thomé – “No quadro eleitoral, desde o início, mesmo quando o Lula estava vivendo um ano muito difícil, que foi 2024, o Gabeira já falava nas suas colunas. E eu concordo com ele, que o Lula era o favorito. Eu sempre considerei o Lula favorito à reeleição, por duas razões. Primeiro, porque estar no governo é um poder muito forte nas eleições. Tão forte que, apesar de todos os equívocos cometidos pelo Bolsonaro, ele quase ganhou a reeleição. Então, a primeira coisa é isso. E, nesse sentido, o Lula e o PT são muito mais experientes e têm muito mais unidade interna em torno da figura do Lula do que o bolsonarismo, que, no plano nacional, se dividia.”

Roberto Dutra – “Eleitoralmente, a situação para o Lula está muito positiva, favorita mesmo. E, de fato, eu acho que esse cálculo do Eduardo Bolsonaro é o mesmo que era feito com o PT, sem fazer nenhum julgamento de valor. A política é isso. Ninguém entrega o poder. Atribui-se a Zezé Barbosa essa frase, não sei se é dele. Perguntaram quando ele deixou o poder? Ele disse: “Meu filho, a gente não deixa o poder. É o poder que deixa a gente”. Então, ninguém vai entregar o poder. O Ciro reclamava: “O PT não me entrega o poder”. Ninguém entrega o poder. O bolsonarismo não vai entregar esse poder assim fácil.” 

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