Folha Letras - O Genial "Zé do Pato"
- Atualizado em 26/11/2025 14:45
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Herbson Freitas*
Tenho um verdadeiro fascínio, uma forte obsessão pela história de José Carlos do Patrocínio, nascido na planície goitacá, que, no último dia 09 de outubro, completou mais um ano de nascimento.Ocupo, com muita honra, na Academia Campista de Letras, a Cadeira de número 21, cujo patrono é o inolvidável abolicionista brasileiro. Na mocidade, fiz, na FEC – Federação dos Estudantes de Campos, uma palestra sob o título “Características de um Abolicionista”, homenageando o nosso campista que acompanho há anos.
Meu saudoso irmão Gipson Antunes de Freitas, escritor e desenhista, foi amigo de um dos filhos de Patrocínio de nome Maceu Carlos de Oliveira Patrocínio, tendo trabalhado com ele no grupo Sul América Capitalização.
E eu, admirador dessa figura ímpar, quando soube, no passado (2014), que Campos se preparava para comemorar os 160 anos de nascimento do ilustre conterrâneo, comecei a desenvolver um trabalho no sentido de provar, ou melhor, exaltar ainda mais os méritos do homenageado, o que faço agora também. Patrocínio foi farmacêutico, jornalista, escritor, poeta, inventor, boêmio e, principalmente, abolicionista. Apelidado de brincadeira pelos colegas jornalistas de “Zé do Pato”, que surgiu quando ele construiu e lançou um balão, que não subiu, cuja ideia foi de Santos Dumont, seu amigo.
Patrocínio deixou uma considerável bagagem poética dos mais variados gêneros. O “Rimário Campista”, pequeno livro de sonetos, editado por Constant & Queiroz, em 1931, com 40 trabalhos de ilustres campistas, como Azevedo Cruz, Ignácio de Moura, Gastão Machado, Sílvio Pélico Fontoura, João Antunes de Freitas, meu pai, Obertal Chaves, Flamínio Caldas, Eloy Ornelas e tantos outros, publica, em sua primeira página, o soneto intitulado “O Século”, do poeta José Carlos do Patrocínio.
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Patrocínio realmente era um homem à frente do seu tempo, em todos os sentidos da vida. Nunca se esqueceu de sua terra. Aqui esteve em 1885, precisamente no dia 11 de março, permanecendo por quase uma semana, tendo os campistas o recebido e o acompanhado com entusiástica manifestação de regozijo. O povo o ovacionou e o Clube Abolicionista, existente naquele tempo em Campos, hospedou-o, e ele fez duas conferências, com a participação dos líderes campistas Carlos de Lacerda, Manoel Franco, Álvaro de Lacerda, Pedro Albertino e outros.
As conferências foram realizadas no Teatro São Salvador (existia naquela época), cujos temas foram os seguintes: “A Abolição da Escravatura” e “A defesa da raça negra”. O público compareceu em massa.
Muitos não sabem, mas Patrocínio amava Campos. Em 1877, escreveu num preito de saudade, o poema “Recordação de Campos”, que a crítica considera como uma das mais belas exaltações à terra campista, finalizando: “Como outrora ligou-se à minha infância// liguei também até a mocidade//não pela glória que eu não tive nunca,//mas pelo coração, pela saudade”.
Que beleza! Que simplicidade e humildade desse autêntico gênio! Patrocínio sempre lembrou de sua terra natal. E Campos também, sua terra, nunca deixou de reverenciar o seu nome, com diversas homenagens, que poderiam ser muito mais.
Geralmente, os grandes vultos e a própria sociedade não lhes dão o devido valor. Patrocínio tinha uma ligação muito grande com Campos. Quando Nilo Peçanha foi homenageado em Campos, numa de suas visitas, Patrocínio foi o primeiro a recebê-lo. Estava sempre presente. E o final da vida do nosso herói? Foi de pobreza, doente, praticamente abandonado. Morreu escrevendo um artigo em defesa (sempre “em defesa” de alguma coisa). Dessa vez em defesa dos animais. Dizia ele: “Eu tenho pelos animais um respeito egípcio.Penso que eles têm alma, ainda que rudimentar, e que eles sofrem conscientemente as revoltas contra a injustiça humana”.
Difícil falar tudo sobre José Carlos do Patrocínio. Ele foi tudo (ou quase tudo). Deixou uma bagagem de feitos, dentre eles, mais um: o romance “Mota Coqueiro”. A obra relata fielmente o assassinato de Mota Coqueiro e a quem se deve a extinção da pena de morte no Brasil, que existia.
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Patrocínio, que como jornalista editou alguns jornais, como “Os Ferrões”, vive entre nós no Panteão dos Heróis Campistas. Ele e dona Bibi, sua esposa, como era chamada, assim como outras figuras ilustres, aguardam a reforma do referido monumento, que se encontra precisando urgentemente dessa providência.
Por fim, o gênio retornou e vive entre nós!
*Acadêmico

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