Os animais desenvolveram uma estrutura sólida por fora ou por dentro do corpo para sustentar e proteger as partes moles. Nos invertebrados, uma carapaça dura (caracóis e caranguejos) ou mais mole (minhocas e formigas) constitui essa proteção. Nos vertebrados, a estrutura é interna. São as cartilagens e os ossos. A natureza absorve cálcio do ambiente para formar a quitina (esqueleto externo ou exoesqueleto) e a cartilagem e os ossos (endoesqueleto).

Quando o animal morre, as partes moles são logo decompostas, mas o endoesqueleto e o exoesqueleto duram mais, podendo até ser petrificados (fossilizados). Por esse motivo, é comum, nos museus, a exposição de esqueletos de animais (incluindo o humano). A representação do animal geralmente deriva da imitação do corpo com outros materiais.

Em alguns lugares, os ossos foram utilizados como tijolos, como na Torre de Nis, com crânios humanos; a impressionante Capela de Czermma; a Casa mortuária de Eggenburg; a Cabana-Museu de Fósseis, com ossos de dinossauros; a Casa de Ossos, com maçanetas, caixa de correio, escadas e piso feitos com ossos de gado bovino; as barracas com ossos de mamute, construídas entre 19 e 12 mil anos; as impressionantes catacumbas de Paris; e a Capela dos Ossos, em Évora.

Em minha viagem a Portugal, em 2024, visitei a Capela de São Francisco ou dos Ossos, integrante do Convento e Igreja de São Francisco. Enquanto a Igreja e o Convento são construções imponentes em estilo gótico-manuelino erguidas entre 1480 e 1510, a Capela dos Ossos data do século XVII, toda ela construída com cerca de cinco mil ossos humanos (crânios, vértebras, fêmures etc.), provenientes de cemitérios situados em igrejas e conventos da cidade, que já estavam ocupando muito espaço. O cimento pardo foi usado como liga.

A capela foi concebida no espírito do Concílio de Trento, que marcou a Contrarreforma católica, reação à Reforma de Lutero. O objetivo foi mostrar a transitoriedade da vida. Logo na entrada, lê-se a mensagem: “Nós ossos que aqui estamos pelos vossos esperamos”.

Percorri seu interior com o sentimento de reverência. Esqueletos são muito utilizados em filmes de terror. Visitando a Capela dos Ossos, fui invadido por um sentimento de paz e de finitude.

*Escritor, historiador, professor e ambientalista