Longas filas por comida em Campos comprovam: reabertura do restaurante popular é urgente
23/04/2020 23:02 - Atualizado em 24/04/2020 11:38
Com estimativas de 40% dos funcionários do comércio demitidos e caminhando para o momento mais grave da pandemia, Rafael necessita entender que, assim como o Covid, a fome também precisa ser combatida e compreendida como urgência de saúde pública 
Circulação internet
Nas últimas semanas as longas filas que se formam nas proximidades do Jardim São Benedito, pelo menos 3 vezes ao dia, tem chamado atenção. São cerca de 150 pessoas, a grande maioria ainda não coberta pelo auxílio-emergencial da Caixa, atingidas pelos efeitos da pandemia, buscando diariamente o direito de se alimentarem junto à iniciativa das freiras do Mosteiro da Santa Face.
As freiras redentoristas realizam este trabalho já há cerca de 40 anos em Campos, no entanto, o número cada vez maior de pessoas tem demandado cada vez mais insumos e mobilizado diversas pessoas em campanhas de arrecadação de alimentos para a continuidade da distribuição das refeições.
No entanto, nem só da providência divina a população mais carente de Campos pode sobreviver.
ECONOMIA ÀS AVESSAS
A interrupção do restaurante popular em Campos foi um dos mais severos ataques à população mais carente, trabalhadores informais, desempregados e população em situação de rua. Juntamente ao fim da passagem popular, foi o cartão de boas vindas do prefeito Rafael Diniz, que seguindo uma cartilha de austeridade para alcançar uma suposta economia nas contas públicas, provocou o crescimento da pobreza e do desemprego na cidade.
A situação marcante da fome em Campos já vinha sendo denunciada por diversos grupos organizados pela reabertura do restaurante popular ao longo dos últimos anos. Nos conselhos, os embates eram constantes uma vez que a prefeitura tentava emplacar uma retomada que segregava e limitava o número de usuários potenciais da política.
A FOME VAI AUMENTAR
Algumas estimativas já apontam que cerca de 40% dos funcionários do comércio de Campos foram demitidos, o que deverá intensificar ainda mais a procura por comida na cidade.
As mobilizações pela reabertura do restaurante popular já vinham deixando claro a urgência da retomada de uma política que pudesse aplacar a fome de uma população marcada por uma prefeitura gerida por técnicos incapazes de possuir qualquer sensibilidade social, responsáveis por contribuir na intensificação da gritante desigualdade em nosso município.
Agora, com o avanço do Covid-19, a diminuição das doações para a população em situação de rua e o aumento do desemprego, não há alternativa mais viável que a reabertura do restaurante.
A CDL em Campos deverá pressionar nos próximos dias o prefeito Rafael Diniz pela reabertura gradual do comércio. Tendo isso em vista, conforme a quarentena estiver sendo afrouxada ao longo das próximas semanas, a procura por emprego deverá ser intensa, denotando mais uma vez o caráter assistencial do restaurante popular não só à população de rua e às famílias abaixo da linha da pobreza, conforme desejava Rafael e sua equipe, mas a todos trabalhadores que necessitarão se alimentar na busca por ocupar novamente algum posto de trabalho.
Diretamente proporcional deverá ser o crescimento do número de infectados, atingindo diversas famílias, em especial das classes mais baixas, o que ressalta a necessidade desta parcela da população estar bem nutrida para enfrentar o pior momento da pandemia.
OPERAÇÃO
A retomada do funcionamento do Restaurante Popular deveria dialogar com diversas outras políticas implementadas ao longo desta quarentena, sendo entendida como ferramenta essencial para a preservação da vida das pessoas.
Para evitar que se repita o cenário de aglomeração identificado nos arreadores do Jardim São Benedito, a reabertura do restaurante ainda permitiria uma maior organização da logística de distribuição das refeições, seja a partir da entrega de quentinhas ou controlando o acesso das pessoas ao espaço.
O Decreto de Calamidade Pública permite a Rafael implementar a retomada do restaurante em caráter de urgência, uma vez que flexibiliza o cumprimento das obrigações financeiras, licitatórias, orçamentárias e fiscais, diante da necessidade de adoção de medidas de enfrentamento da emergência em saúde pública.
Em resumo, enquanto toda a população carente não estiver coberta por qualquer política de proteção social como, por exemplo, o auxilio-emergencial, é impossível descartar a necessidade da reabertura do restaurante popular numa cidade tão desigual e com boa parte de seus moradores atuantes na informalidade, que mesmo com a pressão de alguns setores para o afrouxamento do isolamento social, ainda irá sofrer muito, seja pelo vírus ou pela fome.

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    Gilberto Gomes

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