Uenf: resistência para continuar
Jane Ribeiro 24/06/2017 22:32 - Atualizado em 26/06/2017 09:24
Uenf
Uenf / Antônio Leudo
O sonho de uma vida estável, sem dívidas foi por água abaixo para a técnica administrativa, Ezilane Barbosa dos Santos Machado, 52 anos, servidora da Universidade Estadual do Norte Fluminense (Uenf), concursada desde 2002. Ezilane conta que sempre viveu bem financeiramente até o governo do estado começar a atrasar e parcelar os salários dos servidores. Um processo que vem se arrastando há mais de um ano. Dinheiro que tinha de reserva não existe mais, os cortes foram feitos, a escola das duas netas está com a mensalidade atrasada. Uma situação considerada por ela como constrangedora.
— Me sinto hoje totalmente ultrajada, sem perspectiva de receber os atrasados. Hoje eu não compro mais nada, estou devendo no comércio e faço doce para vender no bazar daqui da Uenf. Meu filho mais novo depende de mim, minhas netas estão com as mensalidades da escola atrasadas. O governador Luiz Fernando Pezão (PMDB), está querendo tirar de nós a esperança, mas nós somos resistentes e vamos ficar aqui até o último momento, lutando pela universidade que é hoje um exemplo para todo o Brasil — declarou Ezilane.
Ezilane Barbosa
Ezilane Barbosa/Antônio Leudo
Essa semana, o pagamento de abril foi depositado, mas a situação dos servidores ativos e inativos ainda continua crítica e está difícil sobreviver em um clima de incerteza. Promessas de pagamento não são cumpridas. A crise que afeta a Uenf está muito longe de ter um fim. A maior universidade de Campos e região opera com uma dívida estimada em R$ 20 milhões, desde outubro de 2015. Sem repasse para manutenção dos serviços de segurança, compra de material e pagamento de fornecedores a tão sonhada Uenf está sendo massacrada cruelmente.
O reitor Luís Passoni, informou que a situação é caracterizada como a maior e pior crise que a Uenf já passou em sua história, a ponto de não se ver um ponto de esperança. Ele conta que os professores, os técnicos e terceirizados já não tem mais estímulo para trabalhar. As dívidas contraídas pelos servidores vêm ao longo dos últimos meses atrapalhando o andamento das atividades.
— Vivemos um dia por vez e, garantir o funcionamento da segunda melhor universidade do Estado do Rio é hoje um ato de resistência. Estamos sobrevivendo bravamente por amor ao que fazemos. A incerteza de que vamos superar essa crise ainda está longe de sabermos. Nada é hoje mais importante para os servidores do que ter os salários colocados em dia. Precisamos imediatamente de repasses orçamentários regulares e depósito. Aqui as nossas esperanças é de que, juntos, nossa voz seja ouvida e consigamos chegar a uma solução — disse o reitor.
Pagamento em dia ficou só na promessa
O governador Pezão, havia garantido o pagamento em dia dos servidores e bolsistas a partir dos vencimentos de abril, condicionando os outros meses atrasados à aprovação do Plano de Recuperação Fiscal no Congresso Nacional e os pacotes das cinco medidas enviadas por ele à Alerj. As leis foram aprovadas e a promessa não foi cumprida. Segundo Passoni o problema da universidade é ainda maior.
— Começamos sofrer ataque também na autonomia administrativa. Estão barradas todas as progressões, nomeações, e todos os concursos de reposição de pessoal estão sendo impedidos na Casa Civil. Difícil manter a qualidade dos trabalhos realizados na universidade— declarou o reitor.
Em nota, o governo do estado informou que logo após a publicação da sanção do Regime de Recuperação Fiscal, no Diário Oficial da União, em 22 de maio, o Governo do Estado do Rio de Janeiro iniciou imediatamente as conversas com o governo federal para a homologação do plano estadual. A expectativa é que essas conversas evoluam satisfatoriamente, visando à estabilidade financeira do Estado, assim como a regularização dos salários dos servidores públicos estaduais o mais rapidamente possível.
A perda da estabilidade financeira e dependência
Esperança por dias melhores. Essa é uma frase que não existe para os aposentados e pensionistas. Stela Martins, 56 anos, aposentada há cinco anos, diz que a vida dela virou de cabeça para baixo desde que o governo começou a parcelar os salários e atrasou o 13º salário. Ela, hoje tem dívidas acumuladas e conta com o apoio dos filhos para comprar remédios e até mesmo alguns alimentos. Sobreviver como aposentado tem sido um desafio, segundo ela.
— Sou aposentada por invalidez e nunca pensei passar por essa situação. Sempre tive um padrão de vida equilibrado sem depender de ninguém e de repente me vejo com o pagamento parcelado e cheia de contas para pagar. O que o governo do estado fez e continua fazendo com todos os servidores é desumano, uma covardia. Até quando nós vamos resistir a essa situação não se sabe. Vivemos o hoje, o amanhã ninguém sabe o que vai acontecer — desabafou Stela.

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