Alerta contra relações abusivas
Jéssica Felipe 24/06/2017 21:31 - Atualizado em 26/06/2017 09:24
No Brasil, a cada 4 minutos uma mulher é vítima de agressão no relacionamento
No Brasil, a cada 4 minutos uma mulher é vítima de agressão no relacionamento / Rodrigo Silveira
“Não é amor quando você é chamada de expressões pejorativas para diminuir sua auto estima”. Essa é uma das frases da Campanha #NãoÉamorQuando, lançada nas redes sociais no início desse mês. A iniciativa veio da secretaria de Políticas para as Mulheres do Governo Federal e abre um espaço de discussão sobre relacionamentos abusivos, realidade sem distinção de sexo, condição sexual ou idade. Para as vítimas, a internet tem se tornado um espaço importante de apoio e informação. Outras campanhas marcaram esse tema nos últimos tempos, entre elas, #EuViviUmRelacionamentoAbusivo e #MeuAmigoSecreto.
Relações abusivas independem de gênero, no entanto, os dados apontam que as mulheres são as mais atingidas por esse tipo de situação. No mundo, cerca de 70% delas sofrem violência ao longo da vida. No Brasil, a cada quatro minutos uma mulher é vítima de agressão, revela uma pesquisa recente do Instituto Avon.
Para Manuela Xavier, professora de psicologia da Universidade Federal Fluminense (UFF) de Campos, o machismo é uma questão histórica, baseada numa construção de gênero ultrapassada. Nesse tipo de relação a culpa recai sobre a mulher. “A vítima é ele, e a culpa é dela. Ao maior estilo Chico Buarque ao cantar ‘te perdoo por te trair’, o marido perdoa a mulher pelas agressões as quais ele mesmo a submete, o que dá início a um novo ciclo de culpa-amor-ódio-violência-culpa”.
Para a psicóloga, campanhas como essa são de extrema importância para se pensar políticas públicas, que conscientizem as mulheres que certos comportamentos tão enraizados e naturalizados na relação, são na verdade abusivos e criminosos.
Lia Castanho, de 20 anos, é estudante de história na UFF-Campos e pesquisa assuntos relacionados à mulheres. Para ela “os relacionamentos abusivos são sempre complexos porque envolvem sentimentos e com o tempo geram uma certa dependência, por isso são tão difíceis de chegarem ao fim. Demora, mas quando nós mulheres percebemos a situação, é libertador colocar um ponto final”, afirma a jovem.
Segundo a secretária especial de Políticas para as Mulheres, sinais, gestos e ações que indicam que o relacionamento caminha para violências devem ser sempre observados. “Muitas mulheres sofrem violência e não se dão conta. Quando são xingadas, são expostas em grupos, tem sua alto estima ferida ou até mesmo perdem a autonomia sobre seu patrimônio”, explicou.
Experiência traumática na vida de jovem
Para quem viveu um relacionamento abusivo, as lembranças parecem sempre constantes. É o que aconteceu com um jovem de 19 anos, moradora de Campos, que teve a identidade preservada.
— Eu namorava um cara e ele era muito ciumento, tinha ciúmes até do meu gato, acredite. Por causa disso, a gente sempre terminava, mas eu acabava voltando porque ele dizia que ia se matar, que eu não podia fazer isso porque ele tinha feito tudo por mim, que eu não era nada sem ele. Até que um dia, ele me ameaçou de morte e de agressão física também. Passei a ter medo dele e acreditar nas coisas que ele dizia, foi quando descobri que isso era um relacionamento abusivo, com chantagem emocional e ameaças. Eu avisei aos meus familiares da situação e aos amigos mais próximos e eles me ajudaram a terminar. Registrei um boletim de ocorrência e, hoje em dia, ele não pode se aproximar de mim. Foi muito difícil de sair, mas eu me sinto liberta, aquilo não era vida. Tenho certeza que se continuasse seria agredida, ou pior — revelou a jovem.
Os relacionamentos abusivos podem ser denunciados através do número 180. A ligação é gratuita e pode ser feita anonimamente.

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