Crítica de cinema: A Múmia
Edgar Vianna de Andrade 12/06/2017 17:12 - Atualizado em 24/06/2017 23:46
Uma grande broca perfura o solo de Londres para construir uma obra pública e encontra um cemitério dos Templários datado do século XII. Os arqueólogos assumem a área. Corta. No novo império do antigo Egito, a princesa Ahmanet (Sofia Boutella) mata o pai, sua nova esposa e seu filho recém-nascido, mas seu amado é assassinado e ela é mumificada viva. Trata-se de uma múmia amaldiçoada. Corta. No norte do Iraque, em meio à guerra, dois soldados corajosos, mas traficantes de antiguidades, envolvem-se com rebeldes e são salvos na hora H pela aviação. As bombas abrem um buraco no chão, mostrando, no meio da antiga Mesopotâmia, uma colossal tumba egípcia. Nick Morton (Tom Cruise), um dos soldados, reencontra a encantadora Jenny Halsey (Anabelle Wallis), arqueóloga que teve um envolvimento amoroso com Nick. Há muitos outros cortes profundos no filme, deixando cicatrizes epiteliais.
Se o eventual leitor acha que o roteiro rocambolesco de David Koepp e Christopher Mc Quarrie para por aí, prepare-se para mais surpresas. Ahmanet apronta muito para conseguir uma preciosidade que lhe foi roubada pelos cavaleiros templários. Ela ressuscita mortos para formar um exército de zumbis. Creio que estamos diante de um filme de terror (?) que, pela primeira vez, reúne múmia e zumbis. Como se dois roteiristas não bastassem para tamanha mistureba, eles pedem a colaboração de Jenny Lumet, Jon Spaihts e do próprio Alex Kurtzman, diretor do filme. Como diz o ditado popular, panela em que muitos mexem o pirão desanda. Mas pasmem. No meio de toda essa confusão, o arquivilão é Henry Jekyll. Sim, a equipe traz de volta o famoso livro “O médico e o monstro”, de Robert Louis Stevenson. Ele é um médico infectologista, advogado e arqueólogo. Se não se controlar com remédios, transforma-se no perigoso Mr. Hyde. E a surpresa aumenta quando percebemos que Jekyll é representado por ninguém mais, ninguém menos que Russel Crowe. Sintomático. Ele sustenta o filme como pode. Mas, quando astros famosos aceitam trabalhar em pastiches, é porque estão sendo superados pelos novos.
A direção é sofrível e perfeitamente dispensável. Um computador poderia assumir as câmaras. Misturando terror chocho com ação desnecessária, o filme não tem boa resolução em nenhum momento. A música de Brian Tyler apela para os ruídos bruscos a fim de causar susto no espectador, já que os seres sobrenaturais não têm este poder. Saí do cinema com a forte impressão de que o filme foi feito para mostrar a juventude e a agilidade de Tom Cruise, tanto quanto a beleza de Anabelle Wallis. Harold Lloyd, na década de 1920, convencia com seu vigor físico. Hoje, os efeitos especiais substituem tudo. Pode-se até pensar que Cruise é apenas uma imagem de computador.
Pra variar, o fim é uma reafirmação que o amor está acima de tudo. Ele vence o mal e salva o mundo e as pessoas. Mais ainda: se a bilheteria for boa (parece que não vai ser), deixa-se, no final, um gancho para continuação.
Ao assistir a esse filme tão desastrado, confesso que senti saudades de “Os olhos da múmia”, de 1918, dirigido pelo genial Ernst Lubitsch, com Pola Negri e Emil Jannings. Foi o primeiro filme do gênero. Tornou-se um clássico.

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