Candidatos denunciam desorganização e irregularidades durante Prova Nacional Docente na UENF, em Campos
Maria Laura Gomes 26/10/2025 17:57 - Atualizado em 27/10/2025 16:25
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UENF / Maria Laura Gomes


O problema enfrentado por candidatos que realizaram a Prova Nacional Docente (PND) na Universidade Estadual do Norte Fluminense Darcy Ribeiro (UENF), em Campos, nesse domingo (25), como falta de salas, cadeiras e materiais, também foi constatado em outros estados. Vídeos que circulam em grupos de WhatsApp de professores de Campos mostram candidatos alocados em um refeitório, agrupados em uma única sala e fazendo a prova no pátio da Escola Estadual Brigadeiro Gavião Peixoto, em São Paulo. De acordo com o G1, a situação se repetiu em São Luís, capital do Maranhão. Mais de 60 candidatos não conseguiram realizar a PND devido à falta de carteiras nas salas de uma instituição de ensino estadual.



“Dia da PND na Escola Estadual Gavião Peixoto. Olha a quantidade de professores sem carteira para a realização da prova e alocados em refeitório. Não tem como. A prova deveria ter sido iniciada às 13h30. Agora são quase duas horas e a gente não tem como realizar a prova”, disse um candidato de São Paulo em um vídeo.
“Pegamos a prova aqui agora. Todo mundo sem lugar para sentar. É só pegar a prova e fazer no pátio”, relatou outro candidato de SP.

Além da falta de salas, cadeiras e materiais na Uenf, em Campos, os candidatos ainda relataram outras irregularidades como envelopes de prova violados, ausência de revista, fiscais sem identificação e impedimento de registrar ocorrências em ata.

A prova estava marcada para começar às 13h30 e terminar às 19h, mas a confusão começou antes do início. De acordo com os relatos, alguns candidatos ficaram em pé na fila por um longo tempo porque não havia cadeiras suficientes nas salas. Depois, foram realocados para outro prédio sem controle de presença. As listas de assinatura foram feitas em folhas de rascunho, e candidatos afirmam que foram intimados a se retirar ao tentarem registrar as falhas em ata.

A professora de português Julianna Boticelli contou que o grupo foi transferido de prédio sem organização ou segurança adequada. Segundo ela, não foram disponibilizados envelopes para guardar objetos pessoais, como determina o edital. Além disso, os envelopes das provas chegaram abertos e em desordem.

“As provas chegaram todas abertas, umas dentro do envelope e outras fora. Quando pedimos para registrar isso, disseram que não poderíamos escrever na ata e que devíamos confiar na boa-fé deles”, relatou Julianna.
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Após as reclamações, a Polícia Federal foi acionada e, após comparecer ao local, informou que não houve crime. Os agentes solicitaram ao coordenador a confecção de uma ata relatando o ocorrido e orientaram os candidatos a procurar novamente a Polícia Federal caso o documento não fosse entregue, para que as medidas cabíveis fossem adotadas.

Outro candidato, o professor de história Miguel Oliveira, reforçou que a falta de estrutura comprometeu a lisura do exame. “Não havia assentos suficientes, fomos colocados em uma sala improvisada, sem revista, sem lacre de objetos e com os pacotes de prova já abertos. Os fiscais estavam sem identificação e fomos coagidos a realizar a prova mesmo diante das irregularidades”, contou.

Um dos coordenadores do polo, que preferiu não se identificar, afirmou que o problema ocorreu porque o Inep não liberou salas suficientes para a aplicação. Segundo ele, a UENF possui salas lacradas e outras que não podem ser utilizadas sem autorização da direção da universidade, o que limitou a capacidade de acomodar os candidatos.

A Prova Nacional Docente (PND) é realizada anualmente pelo Ministério da Educação (MEC) e pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep). O exame tem como objetivo auxiliar estados e municípios na seleção de professores para as redes públicas de ensino.

Os candidatos aguardam agora o posicionamento oficial sobre a ata reserva e irão acionar o Ministério Público Federal para solicitar a anulação da prova em Campos.
Em resposta às manifestações relativas à aplicação da Prova Nacional Docente, a UENF esclareceu, através de nota, que "sua participação se limitou à cessão de espaço físico para a realização do exame, sem qualquer envolvimento na organização, coordenação ou execução da prova".

A universidade informou que, antes do evento, foi realizada uma reunião com os responsáveis pela organização da Prova Nacional Docente, ocasião em que a UENF apresentou um mapa completo das salas de aula disponíveis, incluindo a quantidade de carteiras e a capacidade de cada ambiente. "Após a análise das informações, a equipe organizadora optou por utilizar apenas dois prédios do campus", disse parte da nota.

A UENF ressaltou ainda que não teve acesso a informações sobre os procedimentos logísticos, operacionais ou de segurança adotados para a aplicação do exame, bem como não participou da seleção de fiscais, candidatos ou da distribuição das salas.

"A Universidade reafirma seu compromisso com a transparência, a ética e o apoio a iniciativas voltadas à educação pública, mas destaca que qualquer ocorrência relacionada à realização da Prova Nacional Docente deve ser encaminhada diretamente aos órgãos responsáveis por sua organização e aplicação", finaliza a nota.
Em nota enviada à Folha na tarde desta segunda-feira (27), o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep) informou que assim que tomou conhecimento dos relatos de possíveis intercorrências na aplicação da Prova Nacional Docente por meio de seu sistema de monitoramento, notificou a empresa aplicadora, a Fundação Getúlio Vargas (FGV), para que fossem tomadas todas as providências contratuais previstas.
“A empresa aplicadora afirmou que ao ser noticiada pelo Inep adotou de forma imediata ações de remanejamento, buscando assegurar o atendimento a todos. Os relatórios de avaliação estão sendo minuciosamente analisados para garantir as condições de equidade e pleno direitos dos participantes”, disse a nota enviada pela assessoria de comunicação do Instituto.

Por fim, o Inep reiterou seu compromisso com a lisura da execução dos seus exames e reforçou que serão adotadas todas as medidas necessárias para que nenhum participante seja prejudicado.

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