Patrimônios vivos: o exemplo que vem de Vassouras
Edmundo Siqueira 11/05/2022 15:46 - Atualizado em 11/05/2022 20:01
https://museuviladevassouras.org.br/obra/
https://museuviladevassouras.org.br/obra/ / Marcos Gusmão
A imagem mental que se forma quando ouvimos falar em “patrimônio histórico material” é a de casarões ou palácios que foram sedes de entidades relevantes, públicas ou privadas, construídos em séculos passados. Porém, mais que um conjunto de bens materiais com valor histórico, os patrimônios possuem em suas paredes um registro, e mesmo quando invisíveis — ou marcados na alvenaria — contam histórias, ensinam sobre o passado e orientam futuros de um povo.

Em Campos, os patrimônios estão esquecidos e, portanto, impossibilitados de cumprirem com seus objetivos educacionais. As poucas construções que resistem ao descaso de décadas estão em estado deplorável, salvo raras exceções, como o Solar do Colégio, que abriga o Arquivo Municipal, e o Solar do Visconde de Araruama, onde está instalado o Museu Histórico.

Bons exemplos não faltam, Brasil afora. No município de Vassouras, Centro-Sul do estado do Rio de Janeiro, de pouco mais de 40 mil habitantes, está sendo restaurado uma construção erguida em 1853, inicialmente para abrigar o Hospital da Santa Casa de Misericórdia de Vassouras, e anos mais tarde, em 1910, passaria a funcionar como o Asilo Barão do Amparo (G1).

Embora hoje seja um bom exemplo de preservação do patrimônio, a antiga Santa Casa de Vassouras tinha sérios riscos de desmoronamento em 2011. Um incêndio deixou o imóvel em condições precárias. Até que em 2017, o casarão foi adquirido pelo Instituto Vassouras Cultural, onde obras de contenção e reparo foram iniciadas. Em 2019, o espaço começou a ganhar vida, com a criação do Museu Vila de Vassouras — espaço que pretende reunir pesquisas históricas e, cumprindo uma das missões primeiras do patrimônio, preservar a memória e a identidade do local, naquele caso do Vale do Café. O espaço também será palco de eventos culturais.

PATRIMÔNIO VIVO EM VASSOURAS
https://museuviladevassouras.org.br/obra/
https://museuviladevassouras.org.br/obra/ / Marcos Gusmão
A construção, que hoje abriga o Museu e tem mais de 150 anos, fica localizada na parte alta da praça Barão do Campo Belo, em Vassouras. O Hospital da Santa Casa, que era mantido por uma irmandade financiada basicamente pelo dinheiro dos barões do café, prestou relevantes serviços àquela população, assim como o Asilo Barão do Amparo, este que iniciou suas atividades no início dos anos 1910. Para os vassourenses o casarão é uma referência, repleto de memórias afetivas.
https://museuviladevassouras.org.br/obra/
https://museuviladevassouras.org.br/obra/ / Marcos Gusmão
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https://museuviladevassouras.org.br/obra/ / Marcos Gusmão


Segundo o site da iniciativa — criado exclusivamente para divulgar e dar transparência às ações no agora Museu Vila de Vassouras —, o coordenador geral do projeto, Mozart Serra, precisou agir rápido e realizar as intervenções emergenciais devidas quando se deparou com estado do prédio após o incêndio. Iniciou o reparo do prédio, com escoramento, descupinização, proteção externa e substituição do telhado, o que aconteceu “antes mesmo do primeiro traço do projeto arquitetônico chegar ao papel". Ainda segundo o site institucional, "o estado das paredes de adobe, do telhado, do assoalho, do madeiramento, das estruturas e das cintas pedia por medidas urgentes — era necessário trocar o pneu com o carro em movimento”.

— Foi um sentimento de esperança ter a chance de dar vida àquilo, de transformar aquele conjunto quase destruído em um equipamento cultural de grande impacto. É um desafio que instigaria qualquer um. Tínhamos que projetar novos espaços, mas preservando parte da história do imóvel. É um prédio muito importante e muito presente na vida da cidade e que estava abandonado à vista de todos. A restauração e ressignificação de um prédio desses podem ser simbólicos do resgate da autoestima de toda a comunidade — diz relato, publicado no mesmo espaço, do arquiteto Maurício Prochnik. 

BONS EXEMPLOS 
Cidades históricas, como Campos e Vassouras, devem aproveitar o que seu passado deixou de patrimônio. Além dos ganhos econômicos, turísticos, comerciais e principalmente culturais, que são trazidos com o uso racional e cuidadoso dessas construções, preservá-las significa trabalhar a educação patrimonial, tão importante na formação de identidade e de aprendizado das novas gerações, com os erros e acertos do passado.


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