Dominguetti reafirma denúncia de propina e é apontado como 'testemunha plantada' na CPI
- Atualizado em 01/07/2021 20:07
Depois de cerca de sete horas de inquirição na CPI da Covid, o policial militar de Minas Gerais Luiz Paulo Dominguetti, que se apresentou como representante da empresa Davati Medical Supply, reafirmou a denúncia sobre pedido de propina de um de um diretor do Ministério da Saúde, teve o celular apreendido e foi acusado por senadores de ser uma "testemunha plantada".
O policial militar foi chamado a depor à comissão parlamentar de inquérito após ter concedido entrevista ao jornal "Folha de S.Paulo", publicada nesta terça (29), na qual disse que em fevereiro deste ano o então diretor de Logística do ministério, Roberto Ferreira Dias, pediu propina de US$ 1 por dose de vacina que seria adquirida pelo Ministério da Saúde. Conforme a reportagem, a negociação envolvia 400 milhões de doses da vacina da AstraZeneca.
Dominguetti disse à CPI que o pedido de propina partiu "exclusivamente" do então diretor de Logística do Ministério da Saúde, Roberto Dias. O policial afirmou ainda que foi solicitado o pagamento de US$ 1 por dose.
"Era US$ 1 por dose. US$ 3,50, excelência, a primeira proposta. A Davati estava ofertando ao Ministério da Saúde 400 milhões de doses", afirmou.
Roberto Dias nega ter feito pedido de propina e vê interesses de "terceiros" na denúncia.
"É importante frisar que ao contrário do que é alegado pelo Dominguetti, o tema propina, pedido de dinheiro, facilitação... NUNCA foi tratado a mesa ou em qualquer outro ambiente em que eu estive presente", disse em nota.
Dominguetti relatou que o contrato não foi celebrado por ser "imoral" e porque seria difícil incluir o dólar extra no contrato e nas notas fiscais.
"Então, por isso que não tem como eu chegar e aceitar qualquer coisa, embora seja imoral também. Mas [não poderia] aceitar qualquer coisa, porque eu teria que tirar do meu bolso para pagar, porque se lá [na oferta] não sai esse valor, como é que eu ia colocar um dólar aqui? Quem ia pagar essa nota, onde eu ia arrumar uma nota para isso? Não existia", prosseguiu.
De acordo com o relato de Dominguetti, o pedido de propina ocorreu em 25 de fevereiro, em um restaurante em um shopping de Brasília.
O policial afirmou que, além do diretor de Logística do Ministério da Saúde, Roberto Dias, um empresário e o tenente-coronel Marcelo Blanco também participaram do jantar.
"Havia o Coronel Blanco no momento e mais um empresário de que eu não me recordo. Ele ficava com uma prancheta, anotando alguns dados, fazendo alguns cálculos. Mas eu não me recordo do nome dele", afirmou.
Marcelo Blanco perdeu nesta quarta (30) uma das funções que desempenhava no Ministério da Saúde – a de substituir, eventualmente, o diretor do órgão, até então Roberto Dias, que foi exonerado nesta terça -feira (29).
Dominguetti afirmou ter tido três reuniões no Ministério da Saúde para tratar da venda das vacinas.
Ainda, segundo o policial, participaram dos encontros Roberto Dias, o secretário-executivo da gestão do ministro Eduardo Pazuello, Elcio Franco, e uma pessoa que ele identificou com Laurício.
"Eu tive a oportunidade de estar com três executivos do Ministério da Saúde: Elcio Franco, Roberto Dias e Laurício. Estive três vezes ofertando as vacinas", relatou.
Dominguetti disse ainda que, quando se encontrou com Elcio Franco, o secretário-executivo não sabia da proposta de venda de 400 milhões de doses da vacina que havia sido feita ao então diretor de Logística da pasta, Roberto Dias.
"Quando estivemos com o Elcio Franco, o que nos espantou [foi] uma proposta de 400 milhões de doses e o coronel não ter conhecimento dessa proposta, que tinha sido protocolada pelo Roberto Dias. Ele [Roberto] não tinha informado o ministério sobre a proposta", disse.
Durante a sessão, o policial militar apresentou um áudio à comissão que seria supostamente do deputado Luis Miranda (DEM-DF) e teve o celular apreendido. Miranda foi o deputado que, junto com o irmão dele, denunciou suspeita de corrupção no contrato de aquisição da vacina indiana Covaxin.
Inicialmente, Dominguetti disse que havia sinais de que o áudio se referia a uma negociação de vacinas.
"Se o seu produto estiver no chão, o cara fizer um vídeo, falar meu nome, Luis Miranda, tenho aqui o produto e tal, o meu comprador entende que é fato e encaminha toda a documentação necessária, amarra, faz as travas, faz os contratos todos e bola para frente", diz Miranda em um trecho do áudio.
No entanto, no áudio, a palavra "vacina" não é mencionada. Posteriormente, o depoente afirmou que não sabia qual era o contexto da gravação.
Luiz Miranda foi ouvido na CPI semana passada e relatou que havia avisado o presidente Jair Bolsonaro sobre irregularidades na compra da vacina indiana Covaxin.
Após a divulgação do áudio apresentado por Dominguetti, o presidente da CPI, senador Omar Aziz (PSD-AM), se reuniu por alguns minutos com outros senadores da CPI e com o deputado Luis Miranda.
Após a reunião, Aziz afirmou que Miranda disse que o áudio seria de 2020 e que não dizia respeito às vacinas.
"O que ele diz é que esse áudio é de 2020, que é uma negociação nos Estados Unidos, não tem nada a ver com Brasil. É um áudio em que nem se falava em vacinas ainda e que está editado aqui para prejudicá-lo. Ele foi agora à polícia levar o áudio completo, fazer denúncia-crime e que irá dispor para gente a edição do áudio", afirmou Aziz.
Após dúvidas da comissão sobre o contexto de um áudio atribuído ao deputado Luis Miranda, foi decidido que o aparelho celular de Dominguetti seria apreendido.
Posteriormente, a Polícia Legislativa do Senado recolheu o aparelho em uma embalagem lacrada na presença dos membros e do advogado do depoente.

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