Ação conjunta contra "rolês"
Ícaro Abreu Barbosa 30/12/2020 11:08 - Atualizado em 30/12/2020 22:41
Rodrigo Silveira
Os baderneiros travestidos de motociclistas e seus escapamentos modificados com estraladores torbal entraram na mira das autoridades. “Nós vamos começar operações contra essas motos barulhentas imediatamente”, informou o comandante do 8º Batalhão de Polícia Militar (BPM), tenente-coronel Luiz Henrique Barbosa, após a reunião, na tarde dessa terça-feira (29), com autoridades da Polícia Rodoviária Federal, da 134° e 146° Delegacias de Polícia Civil; coordenadores da Guarda Civil Municipal da atual e próxima gestão, Diogo Costa e Carlos Augusto Leão; procuradores do Município; o atual secretário de Segurança de Campos, Darcileu Amaral, e o próximo secretário, Cabo Alonsimar. A intenção é que não haja descontinuidade nas ações desenvolvidas.
Já nesta quarta-feira (30), diversos motociclistas foram abordados e encaminhados para a delegacia em vários pontos da cidade. De acordo com a PM, as ações aconteceram na Penha, Nova Brasília, Pelinca e Guarus e o saldo foi de 14 motos apreendidas.
Grupos de motociclistas estariam planejando um grande “rolê” para o Réveillon na cidade e, ao que tudo indica, seria um tiro em seus próprios pés. O comandante Luiz Henrique declarou que haverá uma operação para “coibir a prática de forma incisiva”.
As ações desses motociclistas já acontecem em Campos, em locais como a avenida Nazário Pereira Gomes, onde, no último dia 26, quando a Polícia Militar intensificou sua abordagem e alguns baderneiros foram parados pelas guarnições após a circulação de vídeos de um “rolê. Também acontecem “eventos” do tipo em outros municípios da área de abrangência do pelo 8º BPM, como São João da Barra, onde sete motos foram apreendidas no último dia 24.
Serão desenvolvidas ações criminais e administrativas, integradas entre as forças e comprometidas com a repressão de qualquer irregularidade. Cada situação será analisada individualmente. Ponto defendido pelo Cabo Alonsimar, futuro secretário de Segurança Pública de Campos. “Cada força fará sua parte, todos fazendo o trabalho em conjunto. Estamos trabalhando em cima disso (dos ‘rolês’). Esse foi o primeiro encontro de outros que vão acontecer entre as forças. Tentaremos resolver dentro da legalidade e, se tiver dentro da legalidade, nós vamos até apreender o veículo”, declarou.
A Prefeitura de Campos diz que busca solucionar o problema. Ao longo das últimas semanas foram intensificadas operações conjuntas entre a Guarda Civil Municipal (GCM) e o Departamento de Trânsito do Estado do Rio de Janeiro (Detran-RJ) para coibir possíveis irregularidades encontradas no trânsito, especialmente em motocicletas. Está em trâmite um convênio para que o município também possa atuar em casos de flagrante de adulteração de veículos, como instalação do estralador, “para evitar maiores ruídos no trânsito. Contudo, em casos como estes, ainda se faz necessária a atuação do Estado”, informou em nota a Prefeitura.
Em enquete produzida no Instagram do Folha1, 94% dos votantes, entre mais de 200 votos, afirmaram conviver com a realização de “rolezinhos” em seus bairros.
— Todos os dias, no Parque São Caetano, eles (motociclistas) começam por volta de meia-noite e só param às 4h da manhã — denunciou um dos leitores, que preferiu o anonimato, mas relatou que os idosos do bairro não conseguem dormir quando começam os estouros. Mais denúncias deram conta da mesma coisa acontecendo no IPS e no Parque Maciel. “É uma baderna só”, lamentou outra leitora. “Desperta um sentimento de incapacidade, frustração e indignação”.
MP recomenda que PM revise procedimentos
O Ministério Público do Estado do Rio de Janeiro (MPRJ), por meio do Grupo de Atuação Especializada em Segurança Pública (Gaesp), expediu no último dia 22 uma recomendação à secretaria de Polícia Militar do Rio de Janeiro para a revisão e atualização de normativas que regulamentam a abordagem de motocicletas pelos diferentes serviços de policiamento da corporação.
O MP-RJ recomendou a revisão de protocolos e procedimentos operacionais, assim como a realização de estudos de caso de diversos episódios de morte ou ferimento de civis após abordagem de motocicletas pela polícia. Com os estudos, será possível, a partir dos equívocos dos casos concretos, identificar falhas estruturais da corporação, seja no âmbito das normas, dos procedimentos operacionais ou do treinamento. Os estudos de casos e as conclusões deverão ser encaminhadas ao Gaesp.
Foi solicitado no documento que se providencie atualizações do currículo do Curso de Formação de Soldados e do Curso de Formação de Oficiais, garantindo capacitação adequada para a tropa sobre a abordagem de motocicletas.
A recomendação foi expedida após o Gaesp ter identificado, através de inquéritos policiais e casos de repercussão, padrão de óbito decorrente de abordagem policial, sobretudo de motocicleta “suspeita”, em que o condutor supostamente desobedece ordem de parada, com consequente disparos de arma de fogo que o atingem de forma letal, incapacitante ou ainda que atingem a terceiros.
O prazo para entrega dos estudos de caso e das conclusões é de 45 dias, assim como para apresentação de atos normativos, protocolos e procedimentos operacionais revisados — a contar da entrega dos estudos de caso. Para comprovação de atualização de currículo, o prazo é de 30 dias a partir da entrega dos atos normativos revisados, sob pena de ajuizamento de ação civil pública.
  • Motos apreendidas

    Motos apreendidas

Roberto Uchôa sugere apreensão de motos
A reunião segue a linha do projeto defendido pelo Policial Federal e pelo especialista em segurança pública Roberto Uchôa. Para ele, todas as motos que gerassem desconfiança de terem passado por alguma modificação para emissão de maiores ruídos deveriam ser coletadas e apreendidas nas delegacias de Polícia Civil.
— Elas seriam apreendidas para que fosse feita a perícia. Com isso, você poderia atestar ou não a modificação da moto. Mas, só a apreensão e o tempo que vai demorar para a moto ser avaliada pela perícia vão resultar em alguns meses sem a circulação desses veículos — disse Roberto Uchôa.
— Quando esses motoqueiros acharem que a qualquer momento suas motos podem ser apreendidas, você já desestimula. Sem inventar a roda você resolve o problema. Mas, precisamos de liderança para assumir o desgaste político que isso vai trazer — enfatizou o agenda da Polícia Federal e especialista em segurança pública.
Em artigo sobre o tema, Uchôa disse torcer pela solução do problema, que tem interferido no sossego da população:
— Será que vão assumir o desgaste de fiscalizar a bagunça que está essa cidade ou continuaremos reféns dos arruaceiros? Teremos um policial militar na secretaria de Segurança Pública municipal que sabe o que precisa ser feito, agora nos resta aguardar e torcer para que o receio do desgaste não seja maior do que a vontade de fazer o certo.

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