Família busca esclarecer se enterrou paciente certo por Covid-19 em Campos
Ícaro Abreu Barbosa 29/09/2020 23:03 - Atualizado em 30/09/2020 21:08
Em Campos, três filhos foram à Justiça para saber se o corpo que sepultaram era do pai, vítima da Covid-19. O caso de João Manoel Barcelos, 70 anos, dado como morto e enterrado no dia último dia 19, virou assunto nas redes sociais no início desta semana, após declaração em vídeo de um dos filhos, o pastor evangélico Jonellis Barcelos, sobre a falta de certeza se o pai está vivo ou morto, devido a informações desencontradas do Hospital Beneficência Portuguesa, onde funciona o Centro de Controle e Combate ao Coronavírus (CCC) do município, e à não realização de reconhecimento do corpo.
A Justiça, na segunda-feira (28), deu 48 horas, a contar da entrega do mandado expedido pelo juiz Ralph Manhães, para a Beneficência Portuguesa disponibilizar as imagens do sistema de monitoramento do dia da morte do paciente, os relatórios clínicos completos e o depoimento do médico responsável pela assinatura do atestado de óbito. Os documentos foram entregues em menos de 24 horas, ainda na manhã da terça-feira (29), e já se encontram nas mãos do advogado dos filhos de João Manoel Barcelos.
— Ainda vou analisar os vários documentos entregues e tomar as medidas cabíveis, mas todo o processo é público, e as informações sobre o caso estão disponíveis na internet e no sistema do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro — afirmou o advogado Alexander Da Mata.
Em 19 de setembro, os filhos de João Manoel receberam uma ligação do hospital, no horário do almoço, informando sobre a morte do paciente. Segundo os familiares, eles logo entraram em contato com a unidade de saúde e fizeram um pedido para que um dos filhos, Jonellis Barcelos, fosse fazer o reconhecimento do corpo para a realização dos ritos fúnebres. Contudo, o hospital vetou o reconhecimento devido ao protocolo estabelecido para os casos de Covid-19 em Campos, que não permite o contato com o corpo das vítimas por parte dos familiares.
— Mesmo relutantes, acatamos e acionamos a funerária para preparar o velório e o sepultamento do meu pai, ocorrido na manhã do dia seguinte — relatou Jonellis.
No entanto, por volta das 19h do dia seguinte (20), Janaína Barcelos, também filha de João Manoel, atendeu a outra ligação oriunda do hospital, esta para dar informações sobre o quadro clínico do paciente. Desde então, a incerteza tomou conta da família e deu origem aos questionamentos sobre a real condição de João Manuel — que apresentava um quadro de Alzheimer — e se havia sido ele, de fato, a pessoa sepultada na véspera.
Ainda de acordo com os filhos, após o telefonema do dia 20, eles foram liberados a entrar no CCC, usando equipamentos de proteção individual (EPIs), para confirmar se João Manoel estava ou não internado lá. O paciente não foi localizado.
Em meio à insatisfação com o ocorrido, Jonellis Barcelos ressaltou que a atitude de publicar um vídeo sobre o caso nas redes sociais não teve caráter político.
— Estamos deixando bem claro que não temos nenhuma conotação política, até por isso a Prefeitura não foi alvo de nenhuma ação judicial. É uma questão familiar. Eu e minha irmãs, os três filhos do João Manoel Barcelos, estamos buscando o direito de saber se enterramos ou não nosso pai, se ele está vivo ou morto. Estamos seguindo nossos costumes religiosos e queremos ter certeza que velamos e enterramos nosso pai — enfatizou.
Advogado analisa documentação fornecida
Após ter sido procurado pelos filhos de João Manoel, o advogado Alexander da Mata abriu três processos distintos por danos morais e apuração do real destino do paciente, que deu entrada no CCC no dia 23 de agosto.
Além de atender aos mandados expedidos por decisão judicial, a Beneficência Portuguesa abriu sindicância para apurar o ocorrido e prestar esclarecimentos sobre o caso. Foi fornecida quantidade considerável de documentos para o advogado.
— Caso as respostas não sejam esclarecidas com o fornecimento do material solicitado judicialmente e com a sindicância e apuração da Beneficência Portuguesa, a única alternativa será a exumação do jazigo, numa fase posterior, até por questões sanitárias, já que o cadáver está em estágio inicial de decomposição — pontuou Alexander da Mata.
Além de passar a situação a limpo, os filhos de João Manoel também tentam obter indenização por danos morais. O conteúdo dos documentos entregues ainda passa por análise.

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