Guilherme Belido Escreve - Preso há 90 dias e na frente dos presidenciáveis soltos
07/07/2018 15:08 - Atualizado em 09/07/2018 18:55
Eleição e futebol guardam algumas similaridades. Não há jogo vencido de véspera, não existe favoritismo que não possa ser revertido e cada jogo conta sua própria história. Ainda na sexta, a vitória da Bélgica sobre o Brasil não deixou de trazer certa surpresa. Ou, quando nada, não foi o resultado mais esperado.
Em eleição, a mesma coisa: ninguém assegura vitória antes da hora, qualquer favorito pode ser batido e cada eleição é uma eleição – com peculiaridades distintas da anterior e da seguinte.
Sem ir longe, o pleito de 2014 mostrou isso. Até o início de agosto, Dilma Rousseff reinava sozinha nas pesquisas, com percentuais acima dos 30%. Aécio Neves orbitava em torno dos 20% e Eduardo Campos chegava perto dos 10%.
Com a tragédia de 13 de agosto, que vitimou o candidato do PSB, Marina Silva, sua vice, mesmo hesitando um pouco em assumir a chapa, quando o fez, em poucos dias ‘atropelou’ Aécio, abrindo diferença de aproximadamente 10 pontos para o senador tucano.
Não há dúvida que o acidente aéreo que tirou a vida de Eduardo Campos provocou uma comoção nacional que acabou favorecendo sua companheira de chapa. Contudo – e aqui temos um dado importante – na virada de agosto para setembro – Marina passou à frente também de Dilma. Neste particular, evidenciou-se muito mais a aceitação e identificação do eleitor para com o discurso da ex-senadora do Acre do que pela fatalidade de Campos.
Em outras palavras, Marina cresceu – e muito – graças a seus próprios esforços e ao discurso diferenciado que rompia com os parâmetros da velha política. Bom que se diga, na chamada ‘onda Marina Silva’, se a eleição fosse no comecinho de setembro, Marina teria ido para o 2º turno e na frente de Dilma.
Mas, embasando o que se observou no início do texto, Dilma não tardou para recuperar a posição e Marina, que até bem perto da eleição manteria a dianteira sobre Aécio, acabou perdendo fôlego e ficando de fora do 2º turno. Da mesma forma, também Aécio chegou a revezar com Dilma o primeiro lugar e até a véspera o pleito estava indefinido.
Desta vez, pode ser diferente
Já na eleição presidencial de 2018 e a despeito de, aparentemente e com tanta confusão, ser a mais imprevisível das imprevisíveis – o que, em tese, seria um típico exemplo do que se ponderou acima – poderemos ter um pleito tão atípico que, ao invés do costumeiro padrão inesperável, venha ocorrer o contrário.
Vejamos: na pesquisa Ibope divulgada há 10 dias, o ex-presidente Lula da Silva aparece com 33% das intenções de voto e Jair Bolsonaro 15%. Mesmo que tenha saído outra ou esteja no forno, dificilmente trará alterações significativas.
O que vemos, portanto, é Lula, com sua gigantesca popularidade, ‘segurando’ a eleição e impedindo avanços de terceiros enquanto Bolsonaro vai consolidando o 2º lugar, com o dobro dos votos atribuídos a Marina Silva (7%). Assim, com o petista, impedido pela Lei da Ficha Limpa, não tem como emplacar sua candidatura, quanto menos se mexe no tabuleiro, mais fácil fica manter posições.
Bem entendido, nada tem a ver com a prisão ou eventual soltura do ex-presidente via recursos no Supremo. A impossibilidade decorre da Justiça Eleitoral e do que assenta o Tribunal Superior Eleitoral no sentido de vetar candidatos condenados por tribunal colegiado – caso de Lula.
Logo, salvo mudança na legislação mais que pacificada, Lula teria que empurrar até onde der e, na última hora, apontar o sucessor. Mas, pelo que se vê das opções entre os nomes do PT, a transferência de votos dificilmente se daria em quantidade expressiva.
Preso, segue com mais votos que os soltos
Com a ressalva de que campanha eleitoral tem o condão de alterar quadros e pesquisa é sempre a fotografia do momento, não há como negar que Lula da Silva – que ontem completou três meses preso – consegue, sem palanque, sem pronunciamentos e sem se dirigir à população, não apenas manter como ampliar sua popularidade junto ao eleitor.
Qual – pergunta-se – estaria sendo a reação dos demais pré-candidatos ante essa circunstância? Percorrem o Brasil, participam de encontros e debates, dão entrevistas aos mais diferentes órgãos, gastam sola de sapato e muita saliva sem, contudo, chegar perto do líder petista que desde a caravana de março não fala ao povo.
Tendo em conta que a campanha eleitoral 2018 é de tiro curto (a propaganda gratuita é de apenas 35 dias), fica difícil imaginar mudanças bruscas, tais como Bolsonaro fora do 2º turno ou candidatos hoje com 1% chegando na frente de Marina, ou Ciro, ou Geraldo Alckmin, ou Álvaro Dias.
A razoabilidade da projeção é endossada pela simulação sem Lula: Bolsonaro, 17%; Marina, 13%; Ciro 8%, Alckmin 6% e Álvaro Dias 3%.
Temer só cai
Seria plausível imaginar que a alternativa a esse conjunto de fatores poderia vir do Palácio do Planalto. Contudo, impressiona a “capacidade” do presidente Michel Temer de cair. Em junho, cresceu o número dos que avaliam o governo como ruim ou péssimo. Entre os que não confiam no presidente, o percentual subiu, bem como o índice dos que desaprovam o governo.
Portanto, a continuar nessa toada, Temer chega no final do ano ‘batendo’ recorde histórico de impopularidade. É dizer: desse mato não sai cachorro.

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