Denúncia: Pacientes relatam falta de exame de carga viral no HGG, em Campos
Júlia Alves 17/04/2025 13:25 - Atualizado em 17/04/2025 17:10
HGG
HGG / Divulgação
A Frente LGBTQIAPNB+ do Norte Fluminense emitiu uma nota nesta quinta-feira (17) denunciando sobre a falta de realização do exame de carga viral para pessoas que vivem com o Vírus da Imunodeficiência Humana (HIV), em Campos dos Goytacazes. De acordo com a nota do coletivo, esse problema perdura há cerca de um mês e diz ainda que a justificativa dada pelo Hospital Geral de Guarus (HGG), onde foi registrada a situação, é relacionada a falta de tubos específicos para a coleta do exame. 
Segundo a nota do coletivo, o HGG é o hospital de referência para a realização do exame de carga viral na região, fundamental para o acompanhamento e o tratamento adequado da infecção pelo HIV. A nota diz ainda que “pacientes relataram que a justificativa dada pelo HGG é a falta de tubos específicos para a coleta do exame”.
Em Campos, a Associação Irmãos da Solidariedade acolhe pessoas que vivem com o vírus HIV e a presidente da entidade, Fátima Castro, abordou a importância da realização desse exame e falou sobre situação.
“O exame da carga viral é muito importante para avaliar a progressão da doença, indicar o início de terapia e para determinar a eficácia dos anti-retrovirais. Ele mede a quantidade de vírus no sangue e é usado para monitorar infecções virais. O que eu espero, enquanto presidente de uma Associação que tem centenas de pacientes que também precisam desse exame, é que essa situação da falta dele seja resolvida o mais rápido possível”, comenta.
O psicólogo Salvador Corrêa, de 40 anos, vive com HIV há 14 anos. Ele reforça a relevância da realização do exame e lembra que se trata de um direito garantido por lei.
“A ausência do exame de carga viral compromete o acompanhamento clínico de forma grave. Sem esse exame, não há como saber se o tratamento está sendo eficaz ou se há falha terapêutica e risco de resistência viral, o que poderia levar ao agravamento do quadro de saúde, inclusive à progressão para Aids. Essa falha viola a Portaria GM/MS nº 29/2013, que estabelece a Política de Prevenção e Controle das DST, do HIV/Aids e das Hepatites Virais, e os Princípios do SUS, como a integralidade, universalidade e equidade. Também contraria o que está previsto na Lei nº 12.984/2014, que define o preconceito contra pessoas vivendo com HIV como crime, e implica numa forma institucional de negligência e exclusão”, esclarece.
Salvador contou como ficou sabendo sobre a situação da falta desse exame em Campos.
“Soube por meio de relatos de amigos e pacientes que vivem com HIV e que não estavam conseguindo realizar o exame. Isso tem gerado insegurança e apreensão nas redes de cuidado e nos espaços de escuta que compartilho, como profissional da saúde e como pessoa vivendo com HIV”, conta.
Ele relata ainda que conseguiu fazer o exame através do plano de saúde, mas ressalta a situação de pessoas que não possuem plano.
“Eu consegui fazer o exame por meio do plano de saúde, mas, e quem não tem? Essa é a grande questão. Pessoas sem acesso à saúde estão sendo deixadas à própria sorte. Isso fere o direito constitucional à saúde, previsto no artigo 196 da Constituição Federal, e a garantia de acesso universal e igualitário aos serviços de saúde do SUS”, comenta Salvador.
A Fundação Municipal de Saúde informou que, nesta quinta-feira (17), realizou a distribuição de seis mil tubos de coleta de sangue às unidades de saúde. 
Confira a nota do coletivo na íntegra:
Denunciamos a interrupção da realização do exame de carga viral para pessoas que vivem com HIV no município de Campos dos Goytacazes, no Norte Fluminense. Há cerca de um mês, o Hospital Geral de Guarus (HGG) – referência para realização de carga viral na região – não está ofertando o exame, fundamental para o acompanhamento e o tratamento adequado da infecção pelo HIV.
Pacientes relataram que a justificativa dada pelo HGG é a falta de tubos específicos para a coleta do exame. Como um hospital desse porte pode permanecer há um mês sem insumos básicos para a realização de um exame tão vital? Trata-se de uma negligência grave que coloca em risco direto a vida e a saúde de centenas de pessoas que dependem da continuidade dos cuidados para manterem sua carga viral indetectável.
O Ministério da Saúde estabelece, por meio de suas diretrizes, que o exame de carga viral deve ser realizado regularmente, como parte essencial do cuidado integral às pessoas vivendo com HIV. Esse monitoramento permite avaliar a eficácia do tratamento antirretroviral e tomar decisões clínicas fundamentais para a saúde e a qualidade de vida da pessoa usuária.
A ausência do exame não só fere o direito à saúde como também compromete os esforços de prevenção da transmissão do HIV, inclusive os objetivos da política de indetectabilidade = intransmissibilidade (I=I).
Diante da gravidade da situação, exigimos que a Prefeitura de Campos dos Goytacazes, a Secretaria Municipal de Saúde e o Hospital Geral de Guarus tomem providências imediatas para restabelecer a oferta do exame de carga viral. A vida e a dignidade das pessoas que vivem com HIV não podem esperar.
Campos dos Goytacazes, 17 de abril de 2025
Frente LGBTQIAPNB+ do Norte Fluminense

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