Começou, no final da tarde desta terça-feira (19), a vacinação contra a Covid-19 em Campos. O primeiro a receber a dose inicial foi um enfermeiro que atua na linha de frente em combate à pandemia. A imunização aconteceu no Hospital Geral de Guarus (HGG) e reuniu autoridades municipais, como prefeito Wladimir Garotinho e o subsecretário de Atenção Básica e Vigilância Sanitária, Charbell Kury, que aplicou a dose. O primeiro lote da CoronaVac chegou ao município nesta manhã. O transporte das caixas foi feito por meio de helicóptero, que desembarcou no aeroporto Bartolomeu Lisandro, em Guarus.

Primeiro campista vacinado no município, o enfermeiro André Luiz Gomes de Oliveira contou que trabalha na área de enfermagem. Ele é casado, tem dois filhos e atua no Hospital Geral de Guarus e relatou que um dos maiores medos que os profissionais da área de saúde têm é infectar a família.

— A gente participa do processo de cuidar, no front da assistência à população. A gente é exposto a todos os momentos, e o maior medo é levar isso para dentro de casa. Até hoje, eu mantenho todo o processo de cuidado, o uso da máscara praticamente o tempo inteiro — e só tiro para comer realmente. Mantenho o isolamento social, tanto meu quanto da minha família. Então, a gente tem todos os cuidados de proteção individual e social e, por isso, eu, meus dois filhos e minha esposa não contraímos — detalhou André, ressaltando que outros familiares também não foram infectados porque são bem orientados.

André foi selecionado pelos colegas de trabalho para receber a primeira aplicação da CoronaVac. Para ele, ser o primeiro imunizado foi uma honra: “Dentro da instituição em que eu trabalho desde que abriu, ter o reconhecimento dos próprios colegas, que, assim que tiveram oportunidade, lembraram de mim em virtude dos diversos trabalhos que fiz aqui dentro, é uma honra para mim”.

O enfermeiro, no entanto, alertou para a necessidade de manter as medidas protetivas contra a Covid-19 mesmo quando a imunização tiver sido feita.

— A vacina, a gente sabe que ela traz uma imunidade, mas o que vai fazer diferença realmente é o cumprimento dessas normas, que são uso da máscara, lavagem das mãos, álcool a 70% e o isolamento social, sem dúvida nenhuma — disse. Ele acrescentou que os que não querem tomar a vacina devem repensar o conceito e ler sobre o processo de imunização para entender o seu funcionamento. “A vacina é o que realmente vai fazer o diferencial a curto e médio prazo em nossa sociedade”, reforçou.

Durante a cerimônia realizada no HGG, Wladimir declarou que as medidas de restrição recentes são duras, mas necessárias, e recordou que o município está na fase laranja para proteger os campistas.

— Eu não tomo isso de bom grado. Eu tomo isso porque é necessário para proteger o nosso povo, por mais que alguns não entendam ou não queiram entender. Eu sempre disse, em todas as entrevistas que dei, que jamais desafiaria a ciência; que aquilo que me fosse colocado como fato, como número, eu jamais iria enfrentar porque o bem maior que nós temos é a vida. A maioria dos servidores que estão aqui está com salários atrasados, mas, mesmo assim, estão dando suas vidas para proteger e cuidar do nosso povo — afirmou.

O prefeito aproveitou a oportunidade para homenagear os profissionais do Centro de Controle e Combate ao Coronavírus (CCCC), que estão há 11 meses na linha de frente. Ele lembrou que, na semana passada, conseguiu mais 10 leitos para a unidade hospitalar.

— Hoje, no dia de hoje (terça-feira), quase todos os nossos hospitais estão com 100% de ocupação. Então, nenhum de nós está livre de precisar de um leito amanhã. Não podemos nos deixar levar por pressões de pessoas que, muitas vezes, não concordam conosco, mas atitudes são necessárias para preservar vidas. Que a gente tenha, daqui para frente, liberdade. É isso que a gente espera com essa vacina. Todo mundo quer sua vida de volta. Ninguém aguenta mais viver o que estamos vivendo, mas, se não tivermos, enquanto sociedade, o entendimento de que ainda estamos em uma fase difícil, vai ser cada vez mais lento o processo de retomada. As atitudes, nós tomamos em sociedade, pensando no coletivo. Não dá para pensar em nichos específicos — reforçou.

Wladimir convidou o vereador Bruno Vianna, filho do deputado estadual Gil Vianna, morto por Covid-19 em maio de 2020, para estar ao seu lado no momento da aplicação da primeira dose da CoronaVac em solo campista. “A Covid é agressiva e, quando ela chega, a gente usa os mecanismos necessários, mas nem sempre conseguimos salvar a vida daquelas pessoas que amamos”, pontuou.

O vereador afirmou que "o sentimento foi de muita emoção e gratidão a Deus por termos a esperança de dias melhores": 

— Hoje, dia em que a morte do meu pai para esse vírus tão cruel completa oito meses, eu pude vivenciar esse momento em nossa cidade, que já teve mais de 500 vidas perdidas para a Covid-19. Temos a primeira pessoa vacinada, um profissional que está na linha de frente no enfrentamento da pandemia. Acredito que hoje seja o início do fim dessa batalha tão dolorosa, que deixou milhares de famílias de luto em todo o país.

Antes da vacinação simbólica, Charbell Kury declarou que a chegada da CoronaVac ao município foi um dos momentos mais felizes de sua vida e afirmou que o infectologista é “batizado na epidemia”:

— Eu trabalho com vacina há 15 anos. A epidemia é o batismo do infectologista. Eu achei que tinha sido batizado na gripe suína, em 2009. É mentira. Eu não fui. Agora, sim, é meu verdadeiro batismo, e é um batismo de fogo de uma doença de tamanha proporção que eu jamais tinha enfrentado. Quando eu vejo que a melhor estratégia entre todas as estratégias, para que a gente possa vencer, é a prevenção. E, de todas as estratégias, a vacinação é uma das mais bem sucedidas. Posso dizer que dia 19 de janeiro é um marco — complementou.

O subsecretário de Atenção Básica e Vigilância Sanitária se emocionou ao relembrar o início da carreira, no Hospital Geral de Guarus, e disse estar orgulhoso por ser servidor público neste momento. Ele também parabenizou e agradeceu ao prefeito Wladimir pelas ações recentes de combate à Covid-19.

— Que dia! Como é bom ser servidor, bater no peito e falar que estou servindo; e como é bom estar aqui neste hospital onde dei meu primeiro plantão como médico. Novembro de 2003, eu estava aqui dando plantão. Quem me deu essa oportunidade foi doutor Cláudio Aquino, que não está mais entre nós. Então, é muito emocionante estar aqui com você neste momento — declarou Charbell, entre lágrimas.