Nélio Artiles: Sequelas da Covid
Nélio Artiles Freitas - Atualizado em 25/11/2021 17:45
Infectologista Nélio Artiles
Infectologista Nélio Artiles / Rodrigo Silveira
As sequelas da Covid-19 são muitas e multifacetárias. Sem dúvida a pior delas se refere às perdas de tantas pessoas queridas neste tempo, com longos sofrimentos entre familiares. Porém, estamos vivenciando severas consequências na esfera política, econômica e social, em decorrência da incompetência de gestão e falta talvez de uma ação mais contundente e efetiva da sociedade civil neste contexto. A história certamente irá contar e demonstrar os descaminhos trilhados neste momento de tanta fragilidade de nossa gente.
Mas o que mais ficou machucado foram os setores que já vinham em sofrimento crônico: a educação e a saúde. Na saúde tivemos quatro ministros em um incrível período de 12 meses, entre lentidão nas ações, omissões e negociações nebulosas ainda não esclarecidas. Na educação não foi diferente, com o mesmo número neste nefasto rodízio, trazendo balbúrdias e fumaças, sem, portanto, perceber nossa principal deficiência, que é a falta de uma educação digna e condizente de um país continental.
Como médico e professor, tive a oportunidade de sofrer na carne nestas duas atividades. Uma saúde pública sucateada com muitas carências antigas e afloradas no meio desta crise trágica que vivemos, mas que foi de certa forma enfrentada com muito empenho, zelo e esforço pelos profissionais de saúde, que nunca foram tão percebidos, mas infelizmente não valorizados como deveriam.
Na educação houve uma grande cisão do processo ensino aprendizagem em todos os níveis: básico, fundamental e superior. O longo período em que as crianças ficaram longe fisicamente da escola trouxe sequelas importantes, que podem interferir em seu desenvolvimento neurocognitivo por um bom tempo. Mas em outro extremo não foi diferente: no nível superior, estudantes que passaram a ter seus cursos apenas à distância e o nível de estudo caiu bastante, já que avaliações passaram a ser feitas com pesquisas, comunicação em redes sociais, falta de atividades práticas, mexendo profundamente em seu progresso acadêmico.
No retorno recente às atividades presenciais pude perceber que houve um baixo grau de aprendizagem neste período e uma falta de amadurecimento sobre o que realmente fica, entre o estudar e o aprender. Há uma necessidade premente em programar resgates e recuperações, assim como olhar para estes aprendizes, em todos os níveis de escolaridade, com amor, compaixão, utilizando, além da sensibilidade, toda a competência pedagógica, devido ao risco de um sério comprometimento no processo de formação profissional.

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