Guilherme Belido Escreve - Se sabem o que precisa ser feito, por que não fazem?
09/02/2019 17:13 - Atualizado em 12/02/2019 17:26
  • Ciclovia Tim Maia

    Ciclovia Tim Maia

  • Ônibus soterrado em deslizamento

    Ônibus soterrado em deslizamento

No dia 25 de janeiro, o rompimento da barragem Mina Córrego, em Brumadinho (MG), desencadeou uma avalanche de lama tóxica que destruiu parte das localidades vizinhas, levou fazendas, sítios e provocou desastre ambiental sem proporção. E o pior: até dois dias atrás, já havia contabilizado mais de 150 mortes.
Na 4ª-feira (06), a forte tempestade que caiu sobre o Rio, com chuvas ainda mais intensas no trecho que liga o Leblon a São Conrado, via Niemeyer, deixou um rastro de destruição e matou seis pessoas.
A cidade ainda enxugava as lágrimas quando outra tragédia, avassaladora e de tristeza descomunal, foi anunciada no início da manhã de 6ª-feira (08), dando conta de incêndio que atingiu o alojamento das categorias de base do Flamengo, no Ninho do Urubu – CT do clube, localizado em Vargem Grande – matando dez meninos com idade entre 14 e 16 anos e deixando outros três feridos.
Nos três episódios estão presentes a falta de prevenção, a negligência, a inobservância a avisos de alertas e até mesmo o descumprimento ao determinado por autoridade constituída. E nos três episódios está presente o desrespeito à vida humana.
No caso do danos provocados pelo temporal no Rio, situação que se repete ano após ano, logo surgiram manifestações de todos os lados condenando a ciclovia, a ponte tal, as árvores tais, essas e aquelas estruturas, etc. Então, pergunta-se: se tanta gente – analistas de riscos, especialistas, engenheiros, etc. – sabia dos graves riscos e da iminência de novos eventos, por que não denunciaram antes com a mesma veemência que fizeram depois da tragédia?
Rio é palco recorrente de desastres
A exemplo do que acontece Brasil afora, a cada tempestade, vários pontos do Rio apresentam cenário de devastação. Isso sem que nenhuma providência efetiva seja tomada.
No caso da Ciclovia Tim Maia, ocorreu um acidente por ano desde a inauguração, em 2016, no governo de Eduardo Paes, o “nervosinho” do ‘Departamento de Propinas da Odebrechet’. O primeiro desabamento aconteceu três meses após a entrega da obra, matando duas pessoas. Depois um segundo e agora o terceiro. É inacreditável.
Ainda mais absurdo, a Prefeitura do Rio garantiu, há menos de um mês, a segurança da estrutura. “Agora ela não cai mais” – disse o prefeito Crivella, montado num rolo compressor. Só que caiu.
Crivella justificou que na 1ª vez foi uma onda de baixo para cima; na 2ª, o peso da terra que deslizou num temporal de 2018; e agora, porque a ciclovia “não estava preparada para receber uma força lateral.” E argumentou: “É impressionante como essas tragédias inesperadas ocorrem”.
Ora, se “não estava preparada”, como é que foi liberada? Dizer que “desta vez” foi por causa da encosta que caiu e do tubo da Cedae que empurrou a construção para o mar, é desconhecer a mais rudimentar noção de segurança. Por isso existem protocolos de segurança, estudos técnicos, análises de risco e tudo o que se faz necessário para antever e evitar acidentes dessa natureza.
A Ciclovia Tim Maia é muito bonita... acompanha o traçado da Niemeyer, etc. e tal – mas já provou que é imprestável. Deve ser demolida antes que caia pela quarta vez.
A própria Niemeyer deve ser observada com atenção e algo precisa ser feito para evitar o colapso do Rio a cada chuva forte. Afinal de contas, foi uma tempestade severa, mas nada que possa ser visto como desastre ambiental ou tsunâmi. O fato é que as encostas não são vistoriadas, os alagamentos ocorrem nas mesmas áreas, os postes caem por falta de manutenção, as sirenes não tocam e por aí segue.
Vítimas do incêndio no Ninho do Urubu
Vítimas do incêndio no Ninho do Urubu / Divulgação
Eles queriam jogar futebol, mas não acordaram
Não se tem notícia de algo similar com tamanha carga de devastação. A tragédia que chocou o Brasil e o mundo traz peculiaridades que tornam difícil o comentário, visto que o infortúnio remete a sofrimento indescritível.
Dez meninos morreram durante incêndio no alojamento do CT do Flamengo. Eles dormiam. Tinham entre 14 e 16 anos e sonhavam vestir um dia, como profissionais, a camisa do time mais popular do País.
Se ao escrever me emociono e tenho dificuldade de seguir neste pequeno texto, penso em como devem estar os pais, os irmãos e demais familiares desses garotos que certamente deles ouviam os planos e os sonhos de um futuro que não virá.
Em matéria do jornal O Globo, o jornalista Carlos Eduardo Mansur pôs em destaque de sub-título: “Crianças morrem no lugar que sonhavam transformar numa segunda casa”.
No texto, assinala: “Seja pelo número de mortes ou pelas circunstâncias de um desastre que vitima crianças, interrompe sonhos e destrói famílias, o incêndio no CT do Flamengo é o acontecimento mais devastador já sofrido por um clube carioca”.
A causa teria sido um curto-circuito no ar condicionado. A Prefeitura do Rio disse que o dormitório não tinha licença e que chegou a emitir um edital de interdição.
O MP do Rio também havia pedido a interdição do alojamento, afirmando serem precárias as condições oferecidas aos atletas da base.
 
 

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