Fidelense homenageia garotos rubro-negros
Matheus Berriel 16/02/2019 14:11 - Atualizado em 20/02/2019 18:05
Divulgação
Homenagear vítimas de tragédias não é novidade para o desenhista Jhansey Oliveira, de 33 anos, que no final de 2016 foi tema de matéria da Folha da Manhã por ter desenhado as vítimas do voo da Chapecoense, entre elas o atacante campista Bruno Rangel. Porém, o incêndio que atingiu o Ninho do Urubu há pouco mais de uma semana, deixando 10 jogadores de base mortos e três feridos, mexeu diretamente com o interior do artista natural de São Fidélis. Além de se colocar no lugar do próximo, como fizeram inclusive torcedores de clubes rivais do Flamengo, ele viu a tragédia recente com o olhar de um rubro-negro apaixonado.
— Um sentimento de tristeza, porque eram todos adolescentes, com um futuro brilhante pela frente, e terminaram daquela forma. Muito triste. Espero, com meus desenhos, passar força, carinho e respeito aos familiares e às outras pessoas diretamente ligadas às vítimas — disse Jhansey.
Ficou pronto na última quarta-feira (13) o desenho do volante Jorge Eduardo dos Santos, de 15 anos, uma das vítimas fatais do fogo no Centro de Treinamento do Flamengo. Antes dele, já haviam sisdo desenhados a lápis os rostos de Arthur Vinícius Freitas, Athila Paixão, Bernardo Pisetta e Gedson Santos, todos de 14 anos; Crhstian Esmério, Pablo Henrique da Silva, Vitor Isaías e Samuel Thomas Rosa, de 15; e Rykelmo Viana, de 16.
— Pretendo entregar os meus desenhos aos familiares das vítimas, o objetivo é esse. Não tenho contato com as famílias, mas tenho alguns amigos que trabalham no Flamengo. Posso tentar, de alguma forma, chegar até aos familiares das vítimas — explicou Jhansey. Em 2017, ele esteve no Maracanã para entregar desenhos a vários jogadores e membros da comissão técnica rubro-negra. Na ocasião, torceu pelo time de coração no estádio pela primeira vez. E foi pé quente, pois o Flamengo goleou a Chapecoense por 4 a 0, em jogo válido pela Copa Sul-Americana. O artista ainda foi presenteado com camisas do clube, uma delas doada para o projeto “Um Sorriso de Esperança (USE)”, que realiza ações de caridade em São Fidélis.
Além dos jogadores da Chape e do Flamengo, Jhansey também fez homenagens póstumas ao jornalista Ricardo Boechat, morto na última segunda-feira (11), e a conhecidos do artista que deixaram a vida de forma trágica.
— Desenhar pessoas falecidas, que morreram tragicamente, é complicado. Uma situação totalmente diferente do que desenhar uma pessoa que está viva, com saúde. Mas, também, dá mais força e foco para eu desenvolver um trabalho melhor e homenagear essas pessoas através dele — explicou.
Como nunca fez curso de desenho, o rapaz de origem humilde adjetiva a arte de desenhar como “dom, talento”, algo que “vem do alto, de Deus”. O hobby, inclusive, virou profissão. Se no caso de homenagens ele presenteia os envolvidos, também faz desenhos para serem comercializados, seja de grandes personalidades ou simplesmente pessoas interessadas. O preço depende do tamanho da folha, variando de R$ 50,00 a R$ 1.500,00. O lucro, segundo ele, é “suficiente para pagar as contas, está dando para sobreviver”.
— Ultimamente, eu tenho feito mais desenhos para pessoas de fora da cidade, e aí eu envio pelos Correios. A quantidade, depende. Faço uns 10 por mês — afirmou.
A principal crítica de Jhansey é sobre a falta de apoio. De acordo com o desenhista, muitas pessoas elogiam as obras, mas não compram ou querem pagar barato. Em relação aos empresários, ele recebe ajuda esporádica de alguns fidelenses, como doações e patrocínio para viagens. A ausência de incentivo, lamenta, é maior por parte do poder público:
— Em São Fidélis, os artistas da nossa terra não são valorizados e nunca vão ser. Infelizmente, é a realidade. A gente tem que sair daqui para divulgar o nosso trabalho lá fora e ser valorizado. Se ficar aqui, infelizmente, vai ser mais um. Há vários artistas que, se for citar, a maioria dos governantes e da sociedade nem sabe quem são. Gente que está na mídia. É uma pena eles não valorizarem os trabalhos. Não só os meus, mas o de outros artistas da cidade. Tem muita gente boa que canta, dança... Mas, infelizmente, alguns dos que se acham grandes não querem nos dar oportunidade, não querem deixar a gente crescer. A realidade é essa. Em São Fidélis, o artista não é valorizado.

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