Morre, aos 96 anos, a atriz e cantora Bibi Ferreira
Matheus Berriel 13/02/2019 15:33 - Atualizado em 15/02/2019 19:16
Bibi Ferreira
Bibi Ferreira / Divulgação
Morreu nesta quarta-feira, aos 96 anos, a atriz, cantora, diretora e compositora Abigail Izquierdo Ferreira. Considerada a diva dos musicais brasileiros, Bibi Ferreira faleceu em casa, no bairro carioca do Flamengo, cinco meses após ter encerrado a carreira de 77 anos. Em 2011, a artista esteve em Campos pela última vez, para apresentar a pré-estreia nacional do show “Bibi in Concert IV — 70 anos de história e canções”, no Teatro Municipal Trianon. Outro espaço campista, o Teatro de Bolso, leva o nome de seu pai, Procópio Ferreira. A mãe também era artista, a bailarina argentina Aída Izquierdo, o que ajuda a explicar a plena identificação com o palco, citada em depoimentos de grandes nomes da cultura campista. O velório acontece nesta quinta-feira, aberto ao público, de 10h às 15h, no Theatro Municipal do Rio. Em seguida, o corpo deve ser cremado.
Filha única, Tina Ferreira disse ao G1 que a mãe se queixou de estar sentindo um pouco de falta de ar. “Então como tem enfermeira, tem tudo, tiramos a pressão, o pulso estava fraco. Imediatamente chamamos o Pró-Cardíaco. Eles vieram muito rápido, muito rápido mesmo, ambulância, médico, tudo, mas quando chegaram ela já tinha partido. Ela morreu dormindo, tranquila”, explicou.
Em setembro do ano passado, Bibi Ferreira usou o Facebook para fazer o comunicado de sua aposentadoria: “Nunca pensei em parar, essa palavra nunca fez parte do meu vocabulário, mas entender a vida é ser inteligente. Fui muito feliz com minha carreira. Me orgulho muito de tudo que fiz. Obrigada a todos que de alguma forma estiveram comigo, a todos que me assistiram, a todos que me acompanharam por anos e anos”, disse na ocasião.
Antes de ser homenageada no 13º aniversário do Trianon, em 2011, Bibi falou sobre sua relação com a planície goitacá: “Em Campos dos Goytacazes, muitas vezes me apresentei e, em algumas dessas ocasiões, dividi o palco com meu pai, Procópio Ferreira, no Cine Teatro Trianon. Em 1946, fizemos a estreia nacional de ‘Pequena Catarina’. Em 1998, estive aqui, na inauguração deste novo Trianon. Tenho um carinho especial por Campos”, afirmou.
Um dos grandes nomes do teatro campista, enquanto ator e diretor, Orávio de Campos Soares se recorda de algumas visitas de Bibi Ferreira à cidade. “Ela teve uma importância muito grande para nossa cultura. Não só ela, como o pai, que dá nome ao Teatro de Bolso. Na construção do teatro, esteve várias vezes em Campos; sempre foi muito amiga da primeira diretoria da Associação Regional de Teatro Amador. Bibi Ferreira deixa de brilhar nos palcos da terra para brilhar no firmamento das grandes estrelas, sem dúvida nenhuma”, enfatizou.
O diretor do Teatro de Bolso, Fernando Rossi, destacou as atuações de Bibi Ferreira interpretando Joana, em “Gota d’Água”, e a cantora francesa Edith Piaf, em “Piaf, a vida de uma estrela da canção”. Além do sobrenome herdado do pai, a artista também é lembrada de outras formas no TB:
— A gente tem um painel fotográfico lindo, logo na entrada do teatro, com Bibi pequena, depois ela já grande. Foi uma mulher incrível, que respirava teatro. Além de uma grande atriz e intérprete, era uma grande diretora, dirigiu grandes espetáculos. Pensamos até, no ano passado, nos 50 anos do teatro, em convidá-la para fazer uma ponte. Mas, ela já não estava muito bem de saúde. Muito idosa, não estava podendo fazer viagens muito longas. Então, ficou um pouco inviável essa possibilidade, que seria incrível. Em abril, o teatro vai estar fazendo 51 anos. Acho que é uma oportunidade de a gente prestar uma grande homenagem à carreira dela, de repente com um vídeo sobre a carreira, um bate-papo com pessoas que a conheceram... — falou Fernando.
O ator e dramaturgo Adriano Moura usou verso de Chico Buarque para homenagear Bibi: “Mais do que uma atriz, foi uma resistência. Morrer aos 96 anos, vivendo de sua arte num país como o Brasil, é tarefa para poucos. Ela nasceu no ano da Semana de Arte Moderna, em 1922, e morre numa época em que sua arte sofre forte ataque de novos detratores. Bibi tinha um estilo muito peculiar para cantar, dirigir e encenar. Sua partida pode ser ‘a gota d’Água’”.
A presidente da Fundação Cultural Jornalista Oswaldo Lima, Cristina Lima, foi às lágrimas ao falar da atriz:
— Eu me emociono. Ela me foi apresentada por meu pai (Oswaldo Lima). Guardo recordações muito boas das nossas idas ao Rio para assistir aos musicais dela e do pai. Eu sempre imaginei que esse dia chegaria, mas a gente fica com o coração apertado. Está indo todo mundo embora. É muito triste. Mas, fazer o quê? Ela teria que partir um dia. Resistiu bastante. Sempre pensei que, no dia em que ela partisse, eu ia ficar muito abalada. Mas, vambora. Mais gente nova vem aí. Quem conheceu Bibi, não esquece o que assistiu e o que ela representou para o teatro brasileiro — declarou.
Diretora-presidente do Grupo Folha da Manhã de Comunicação, Diva Abreu Barbosa estava no Trianon na apresentação de Bibi em 2011. Também foi ao Rio para assisti-la atuando. Nas palavras de uma admiradora, o resumo da ópera:
— Ela nasceu num berço de artistas, no palco. Estou pasma de ela ter morrido. Achava que ela fosse “imorrível”, imortal ela já era. Deixou o nome dela na cena artística do país. “Imorrível”, infelizmente, não foi. Aplausos para uma vida brilhante.
Saullo Oliveira, ator
“Bibi era uma diva do teatro. A gente tem a Fernanda Montenegro na televisão e teve a Bibi Ferreira no teatro. Coloco assim. E como interpretação é interpretação, independente de ser no teatro, no cinema, ela foi uma das maiores, senão a maior, além da contribuição dela como intérprete musical. Saiu do teatro musical e virou uma das grandes intérpretes da música brasileira. Um domínio de palco... A presença cênica dela era muito forte”.
Pedro Fagundes, ator e diretor teatral
“O ano de 2019 está sendo marcado por grandes perdas, a gente está ficando pobre culturalmente falando. É uma tristeza imensa, o teatro brasileiro perde uma grande diva, uma das maiores estrelas. Perda irreparável. É realmente incrível o trabalho que ela realizava, uma energia sobrenatural no palco. Tinha uma presença marcante, voz incrível, encenação maravilhosa. A gente se despede de Bibi com muita tristeza e já com muita saudade”.
Lucia Talabi, atriz
“A Bibi foi, simplesmente, uma artista completa. Vai-se uma ancestral das novas atrizes, inclusive eu. Era uma mulher de um conhecimento vastíssimo, que deixou um legado para todos nós. Soube levar a vida de amor à arte de uma forma que eu acho que ela morre muito feliz, completa, plena. Cumpriu sua missão e nos deixa um material muito vasto de estudo, de referência, para que a gente possa ter um exemplo a seguir e um orgulho de ela ser brasileira”.
Beth Araújo, professora
“Eu poderia gastar todas as palavras da língua portuguesa e seriam inúteis diante da grandeza dela. Para mim, Bibi era um dos alicerces quase que insubstituíveis da cultura brasileira. Era uma exímia atriz, filósofa diante da vida no bom sentido da palavra. Tinha uma visão profundamente dimensionada do ser humano, do mundo, da vida. Não era uma mulher que você pudesse curti-la só no teatro. Você poderia ouvi-la como uma mestra da vida”.

ÚLTIMAS NOTÍCIAS