Candidato único a presidir Alerj?
Aluysio Abreu Barbosa e Aldir Sales 19/01/2019 17:58 - Atualizado em 28/01/2019 16:28
Antônio Leudo
Prefeito duas vezes de Paracambi e deputado estadual em quarto mandato, André Ceciliano chegou à presidência da Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro (Alerj) por força das circunstâncias: as doenças do presidente Jorge Picciani (MDB), depois preso pela operação Cadeia Velha, e do primeiro vice-presidente Wagner Montes (PRB). E é o favorito a permanecer no cargo, agora pelo voto dos seus pares. Na verdade, Ceciliano chega a apostar nesta entrevista à Folha que será candidato único à presidência da Casa. Seu maior trunfo é a capacidade de conciliação, característica oposta à radicalidade do partido ao qual sempre pertenceu, mesmo quando o criticou: o PT. Apostou também em um novo ciclo do petróleo na Bacia de Campos e analisou os sete deputados estaduais do Norte e Noroeste Fluminense.
Folha da Manhã – O senhor chegou à presidência da Alerj pelos acontecimentos. Não era uma coisa prevista. E hoje você é o principal candidato a permanecer no cargo, eleito para presidente. Como, além do destino, está se arrumando para se consolidar pelo voto?
André Ceciliano – Estou agora terminando o terceiro mandato de deputado.
Folha – Foi prefeito de Paracambi, na Região Metropolitana.
Ceciliano – Fui prefeito de Paracambi duas vezes. A primeira eleição que disputei foi para prefeito de Paracambi e perdi...
Folha – Por pouco mais de 90 votos.
Ceciliano – Por 97 votos. Depois, em 1998, me elegi deputado e fui o terceiro vice-presidente da Assembleia. Naquela época, em 1999, 2000, como terceiro vice-presidente, assumi, em mais de 80% das vezes, no plenário, a direção dos trabalhos. Depois me elegi prefeito, duas vezes, e agora vou para o quarto mandato. Aconteceram alguns atropelos do ano de 2017 para cá, alguns incidentes.
Folha – As operações Cadeia Velha e Furna da Onça?
Ceciliano – Aconteceu a doença do presidente (Jorge) Picciani, aconteceu a doença do deputado Wagner Montes (segundo vice-presidente), e eu assumi como presidente já em julho de 2017. Na verdade, estive à frente da presidência do plenário muitas vezes antes também.
Folha – Mas nunca com a perspectiva de ficar.
Ceciliano – Não com isso. Justamente por ser o segundo vice. Aí vem novembro e tem o afastamento judicial dos deputados (Picciani, Paulo Mello e Edson Albertassi, presos na operação Cadeia Velha, acusados de corrupção). Naquele momento, com a doença do Wagner, diria que assumi definitivamente. A cada 30 dias, ele pedia licença, até outubro de 2018. E era um momento muito difícil, quer seja pelos afastamentos judiciais dos deputados, quer mesmo pela crise econômica do Governo do Estado. Fizemos uma travessia dura, difícil, mas conseguimos ter uma tranquilidade na Assembleia entre oposição, base do governo. Ouvindo os deputados, ouvindo as lideranças dos partidos, fazendo uma pauta propositiva, dando muita transparência na administração. Economizamos, em 2017, R$ 325 milhões do orçamento. Em 2018, de um orçamento de R$ 1,6 bilhão, deixamos de receber R$ 258 milhões do duodécimo do governo e repassamos de volta para o Estado R$ 120 milhões das nossas economias, para ajudar no pagamento do 13º. Economizamos R$ 378 milhões em 2018. Aí vem a eleição de 2018, começa a se falar da possibilidade de candidatura. Eu evitei de falar até a eleição, em outubro. Alguns deputados, partidos, me cobravam de que eu teria que ser o candidato.
Folha – O seu nome já tem sido falado há algum tempo, não?
Ceciliano – É. Aí, passada a eleição, o meu xará, André Corrêa (DEM), começou a se movimentar e eu também passei a me movimentar. Na primeira semana após a eleição, tive uma conversa com vários partidos e cheguei a ter comigo 19 partidos e 41 apoios (de 70 deputados). Logicamente, começa a disputa, entram outros atores, inclusive externos, e o número de apoios caiu para 29. Aí teve o problema da operação Furna da Onça (10 deputados foram presos, incluindo André Corrêa).
Folha – Sobre loteamento de cargos no Detran, corrupção, propina...
Ceciliano – Detran é transversal, na verdade. Tem outros argumentos, mas aí é mais na relação com o governo. Também estão querendo criminalizar que o deputado indique cargo na cidade. Se for assim, vamos ganhar a eleição e dar o cargo para adversário. Por exemplo, fui prefeito de Paracambi duas vezes. A minha secretária de Educação é diretora da Faetec lá e recebe oitocentos e poucos reais, fora o salário, que ela é funcionária do Estado.
Folha – Você então creditaria a operação Furna da Onça a uma criminalização equivocada da política?
Ceciliano – Não, não. Queremos o seguinte: direito à ampla defesa para todos os parlamentares. E, depois, eu apoio a Lava Jato, acho que tem que investigar. Não pode fazer absurdos, mas sou a favor das investigações, que os deputados tenham direito à ampla defesa, mas o que não pode é criminalizar a questão dos municípios. Isso ainda pode ter outros desdobramentos porque encontraram, com o Albertassi, uma suposta lista. Inclusive, está muito errada a lista. Teve parlamentares citados lá que nunca tiveram cargo no governo, mas se achou por bem colocar o nome do João, do José para dizer que o cargo era dele e não era. Mas isso é uma outra história. Então veio a disputa com meu xará...
Folha – O André Corrêa.
Ceciliano – Ele saiu do jogo. Aí o PSL, o partido do Bolsonaro, elegeu...
Folha – O senhor é do PT. Depois do fenômeno Bolsonaro nas urnas de outubro, não impressiona que seja favorito à presidência da Alerj?
Ceciliano – Acho que é pelo trabalho desse tempo em que fiquei interinamente. Estou em sintonia com as urnas. Em 2014, tive 31.207 votos e, agora, tive 46.893. Eu cresci 50,2%, votando com o governo naquelas mensagens difíceis, alienação da Cedae, teto de gasto. E estando à frente dos trabalhos na Assembleia naquele momento. Por exemplo, teve um momento que o Estado do Rio de Janeiro poderia perder os policiais militares das ruas. E a única forma de voltar a dar um certo equilíbrio era o governo assinar o plano de recuperação fiscal junto ao governo federal. Eu fui prefeito, sei como é estar do outro lado do balcão. Na Assembleia, a coisa mais fácil é fazer discurso e votar contra. Você não contribui e não se compromete com nada. Tem os famosos bonequinhos. Tem momentos em que você começa a votar e precisa ter uma posição. Muitas vezes, votei contra o meu partido. Por alguns momentos, o partido pediu a minha expulsão, me suspendeu por oito meses. E eu votando com o governo, com toda uma oposição muito dura nas redes sociais. E eu cresci 50% dos votos.
Folha – O ex-vice governador Francisco Dornelles (PP) chegou a dizer que, se todos os petistas fossem como o senhor, ele também se filiaria ao PT.
Ceciliano – (Risos) O Dornelles é uma figura encantadora, inteligentíssima. E ele conviveu conosco antes, com o governador Pezão, e agora, no final, com ele mesmo. Aí, em 2018, já não tinha mais base do governo. E nem o governador eleito também tem algo grande. Claro, tem a possibilidade de ter agora, a partir de fevereiro. Mas conseguimos, eu e mais cinco, quatro deputados... Aí mesmo, na condução da Assembleia. Na presidência, é uma coisa, mas, na questão da base do governo, foi no prestígio de mais três ou quatro deputados, que foram convencendo mais três, quatro. O governo não tinha mais nada, e conseguimos fazer essa travessia em um momento de crises econômica e política duras. O Dornelles conviveu conosco nesse período e é uma figura que é preciso conversar com ele e gravar porque vai contando uma história atrás da outra. É um grande ensinamento. Fiquei muito feliz com as palavras do Dornelles porque ele viu como conduzimos as votações do orçamento, do Fundo Estadual de Combate à Pobreza, a extensão da calamidade pública na área financeira. E, muitas das vezes, ajudando muito o governo, trocando muito com a Casa Civil, com os secretários. Tivemos um papel importante. O carinho dele é excelente e era assim com o governador Pezão também. Ele reconhecia o nosso trabalho. Aonde ia, falava do período que passamos à frente da presidência. E agora isso é consequência. Temos PSDB, PP, DEM e temos Psol, PSB conosco. Construímos isso. E é como você coloca, o PT mesmo com todo o desgaste... Isso é fruto do trabalho. Mas isso é sorte? Estava preparado? Acho que é um conjunto de tudo, acho que Deus sabe todas as coisas.
Folha – O João Peixoto (DC), que é um deputado experiente, disse recentemente à Folha que, na negociação para o apoio do DC à sua candidatura, ele tinha colocado o nome de Jair Bittencourt (PP) para ser primeiro vice na sua chapa. Isso aconteceu?
Ceciliano – O grupo do Márcio Pacheco (PSC, que chegou a colocar sua candidatura à presidência com apoio da bancada do PSL, mas depois desistiu para compor com Ceciliano e ser líder do governo na Alerj) tinha 13 deputados. Teve um momento na Assembleia, é igual na Câmara de Vereadores, que você constrói uma maioria. Se você ficar fora da composição, você perde presidência de comissões, perde espaço para administrar a Casa, perde espaço na mesa diretora. Sentamos e conversamos com o Márcio. Ele entendeu que o melhor era fazer uma composição conosco, isso nos deu uma maioria tranquila e folgada. E o Jair vai ser nosso primeiro vice.
Folha – O João estava fechado com o Márcio.
Ceciliano – Isso, ele estava apalavrado com o Márcio.
Folha – E a escolha do Jair foi fruto da conversa com o João?
Ceciliano – Com o João, com o Márcio, com todos os deputados que convivemos diariamente na Alerj. O Jair é um deputado experiente, já foi secretário estadual de Agricultura, prefeito de Itaperuna.
Folha – Muito se falou que o convite do Witzel ao Márcio Pacheco para assumir a liderança do governo na Alerj foi um gesto de aproximação à sua candidatura. Foi uma bandeira branca do governador?
Ceciliano – O que é o ótimo? É o governador ter um aliado na presidência da Assembleia, sempre lembrando que os poderes são independentes e harmônicos. Teve um momento em que o governador achou que, através do Márcio, não teria uma maioria, e o Márcio, como único deputado eleito pelo partido do governador (Chiquinho da Mangueira também foi reeleito, mas foi preso na Furna da Onça), conversou com o Witzel. Foi o que ele me contou, que iria retirar a candidatura. Todo esse período que passei na presidência foi um histórico de entendimento, de construir. Não é um histórico de ser radical, de fazer oposição.
Folha – O Márcio também reclamou que, embora tivesse o apoio do PSL, não tinha de todos os deputados da legenda.
Ceciliano – O PSL queria que ele retirasse a candidatura. Ele me disse que fui numa reunião onde estavam o Novo, PSL, ele e mais um grupo. E eles queriam que o Márcio retirasse a candidatura. Mas o fato é que chega o momento em que você constrói a maioria e, com a vinda do Márcio, ele nos deu a tranquilidade da maioria. Temos conversado com todos os deputados. Tem o partido Novo que não conversamos. Falamos sobre administração, mas não especificamente sobre a eleição.
Folha – Houve conversa com alguém do PSL?
Ceciliano – Com alguns deputados, isoladamente, houve, sim. A gente passa, conversa. Está se encaminhando para ter uma candidatura única. Pela experiência na Alerj, diria que teremos uma única chapa. Para formar uma chapa, seria necessário ter 13 deputados. Pelo que a gente conhece da Alerj, pelo que já viveu, diria que teremos uma única chapa com alguns parlamentares fazendo abstenção.
Folha – Como analisa essa chegada do PSL com forte apoio popular e que, apesar de ter a maior bancada da Alerj — 13 eleitos, mas com recontagem dos votos perdeu uma cadeira —, está se isolando na hora de fazer política?
Ceciliano – Se voltarmos lá no Brizola, o PDT, se não me engano, elegeu 23 ou 26 deputados, e ele não fez a presidência da Assembleia. Fazer um, 13 ou 20 é uma bancada expressiva. Mas você tem que construir. Dos 12 deputados do PSL, tem o Gil Vianna que teve uma passagem pela Assembleia, uma pessoa que temos um respeito muito grande. Mas não tem um nome lá que conseguiu fazer uma coalizão. É importante fazer uma bancada grande? É, mas, se voltarmos historicamente, nem o Garotinho conseguiu fazer a presidência. Se não me engano, ele elegeu 16 ou 17 deputados. Com o Brizola, foram 23 do PDT e o presidente foi o José Nader. O que temos de positivo? A relação com os deputados, seja do Psol, do DEM. Temos uma relação boa. Tem um deputado com 48 anos de mandato, o Átila Nunes (MDB), que agora ficou na primeira suplência. Ele me confessou que nunca um parlamentar teve tanta liberdade como no meu mandato. Dividir o poder, soubemos fazer isso muito bem, por conta de ouvir os líderes.
Folha – O senhor vê hoje a postura do governador diferente da bancada do PSL? Ele também se elegeu com o mesmo discurso mais conservador contra tudo que está aí, mas que vem tentando negociar através da política.
Ceciliano – Até brinquei com ele em um momento. Falei: “Governador, o senhor tem todo o direito de lançar um candidato, mas, para ganhar, tem que ter 36 votos. Só que, para governar, 36 votos não resolvem. O senhor vai precisar de 42 votos para aprovar projeto de lei complementar, emendas. Vai precisar de 36 presentes porque, às vezes, o sujeito passa, dá a presença e vai embora. Se o senhor me ajudar, vou ajudar o senhor na governabilidade, não vou criar problema algum. E se o senhor não me ajudar, não tem problema algum. Não vou criar problema para o senhor”. Não é da minha índole. A Assembleia é um poder independente e harmônico. Acho que ele entendeu isso também. Ele pode não ter uma experiência administrativa, mas tem uma vivência. Ali o sujeito sabe para que ele vai se meter em uma coisa que pode rachar a Casa? Como não é do meu feitio prejudicar ninguém, acho que foi bom para ele ficar fora da disputa.
Antônio Leudo
Folha – Tudo que o senhor está falando sobre conciliação parece o oposto do PT. O partido já anunciou que vai fazer oposição sistemática ao governo Bolsonaro. Você tem uma história longa no partido, já foi prefeito duas vezes, deputado quatro vezes. Na eleição a presidente, o Estado do Rio votou com o PT, nas duas vitórias de Lula e de Dilma. E agora Bolsonaro fez 59,8% no primeiro turno e 67,9% no segundo no Estado. Ao que atribuiu isso?
Ceciliano – É o desgaste. Indiscutivelmente o presidente Lula fez um mandato excepcional, mas a Dilma, na minha opinião, fez um mandato com muitas críticas, principalmente na área da economia. Eu participo de alguns debates, todas as semanas, na Baixada e nunca deixei de criticar a política econômica da Dilma. Em 2012, 2013, 2014. Ela foi para uma reeleição, ganhou, o país dividiu e não soube construir a maioria. Ela não atendia aos parlamentares. Passada a eleição de 2014, na minha opinião, ela que elege o Eduardo Cunha para presidência da Câmara. Ela faz um movimento de confronto com o Eduardo e ele, malandro que era, construiu a maioria e se elegeu presidente. Aí ela mandava as mensagens para a Câmara de que era preciso cortar e as mensagens voltavam piores do que iam. Eram as tais pautas bombas. Ficamos assim em 2015 e, em 2016, deu no que deu.
Folha – O senhor disse que foi suspenso do PT por oito meses. Já pensou em deixar o partido?
Ceciliano – Não, não. Vou dizer agora, por exemplo. Muitos deputados procuraram e disseram: “Ah, se você não fosse do PT”. Mas o presidente da Assembleia tem que ser o presidente do Parlamento, não pode ser do PT, do PSL, do Psol. E essa independência construímos nesses dois anos. Dizer que vou sair do PT para ser candidato à presidência ou ter um cargo a mais, isso eu acho besteira, é falta de caráter. Sempre, graças a Deus, abrimos portas na política. Se está difícil para quem constrói, imagina para quem briga. Independente das posições partidárias, eu respeito o PT, sempre tive muita liberdade no partido, é o meu único partido. É um momento político, temos que respeitar. O Bolsonaro ganhou com algumas propostas, assim como o governador Wilson, e precisam governar. E, para isso, precisam do Parlamento. É bom que seja assim, ter os contrapesos. Senão vamos viver um regime de exceção.
Folha – O senhor falou anteriormente sobre os deputados presos. Mas como vai ficar a situação dessa legislatura, com seis parlamentares presos?
Ceciliano – Na eleição da mesa, para ter a presidência no primeiro turno, são necessários 36 votos. O quórum não vai cair.
Folha – Não tem possibilidade de chamar suplentes agora?
Ceciliano – Temos que respeitar o regimento interno. Ele diz que, salvo por motivo de força maior, o deputado que não conseguir tomar posse no dia 1º de fevereiro terá 30 dias mais 30 dias. Tem que se aguardar esse período para tomar alguma posição sobre os deputados afastados.
Folha – Qual sua expectativa para o governo Witzel?
Ceciliano – Primeiro, acompanhamos muito em relação aos números do Estado. Vem de uma crise muito grande no setor do petróleo. Vocês (do Norte Fluminense) sabem melhor do que ninguém. O petróleo saiu de US$ 107 para US$ 27 em 2016. Aí vem a crise da Petrobras. Toda cadeia do petróleo, que representa quase 1/3 do PIB do Rio. Logicamente quem faz prospecção investe mais quando o preço está maior. Com a queda, os investimentos caíram. Tivemos o problema da Lava Jato, que desacelerou toda essa cadeia que representa 31% do PIB. O Estado vem de 2007 a 2016... Pega a folha dos ativos em 2016, custou R$ 7,7 bilhões. Dos inativos, R$ 5,8 bilhões. E logo após, a folha dos ativos passou para algo entre R$ 21 bilhões e R$ 22 bilhões. Dos inativos, para R$ 16 bilhões.
Folha – Incharam a máquina estadual no período das vacas gordas. Ceciliano – Triplicaram a folha e veio a crise. Uma tempestade perfeita. Você perde a receita, e a despesa vai embora. Precisamos que o preço do barril volte a subir e já começou um pouco. Precisamos também que a economia saia da inércia. Isso é, novos tempos na política brasileira e fluminense. O governador vai fazer um movimento diferente. Ele só tem mais um partido na administração, que é o PRB. Ele está tentando um modelo novo, tomara que acerte. E temos que torcer para que dê certo. Vão ter os momentos no plenário dos embates ideológicos. Isso é normal. Mas, passada a eleição, aqueles primeiros dias de outubro, antes do segundo turno, e depois em novembro, vimos alguns parlamentares falando que vão acabar com partido tal, partido Y. Mas isso não é bom para a democracia. Queremos ter disputa de ideias, mas vai ter momentos em que as bancadas vão votar juntas. Mas tem uma tradição dos costumes e a questão das minorias. Isso vai ser um embate entre PSL, Psol e PT.
Folha – O senhor disse antes que não pensa em sair do PT. Mas são vários casos na região de políticos que já foram do PT e deixaram o partido. Na semana passada, a prefeita de Quissamã, Fátima Pacheco (Pode), que já foi do PT, disse que recebeu convite do Rodrigo Maia para ir ao DEM. Carla Machado, de São João da Barra, já foi do PT e hoje está no PP, que é de centro-direita. Marcão Gomes, ex-presidente da Câmara de Campos, foi do PT, passou para a Rede e agora está no PR.
Ceciliano – Temos outros exemplos. Em 2016, tínhamos nove prefeitos. E só ficou em Maricá. Eu fui candidato pelo PT e os outros saíram todos do partido. Perderam as eleições, é bom que se diga. Salvo Rodrigo Neves (prefeito de Niterói preso por corrupção com empresas de ônibus) que era do PT e foi para o PDT. Acho que isso vai muito da oportunidade de cada político. E acho que vale mais a coerência do que a oportunidade. Eu poderia ser oportunista e chegar agora dizendo: “eu vou sair do PT para vocês votarem em mim para presidente”. Não. Acho que o Parlamento precisa de um presidente que represente todos os deputados, independente de votar ou não nele, independente das questões ideológicas. Tem que respeitar a minha posição política e respeitamos isso.
Folha – A Alerj foi bastante pressionada nos últimos anos por aprovar as contas de Pezão, mesmo com o parecer do Tribunal de Contas do Estado (TCE) pela reprovação pelo não cumprimento do mínimo estabelecido pela Constituição para Saúde, por exemplo. O Witzel já disse que, se a situação continuar como agora, não terá como cumprir os mínimos constitucionais. Como você viu a aprovação das contas do ex-governador, mesmo com a recomendação contrária do TCE?
Ceciliano – Fui prefeito e nunca tive um parecer contrário do TCE. Vimos isso com a Dilma. Tivemos algumas ações em relação ao parecer do Tribunal de Contas (da União) ao governo por crime de responsabilidade. Conta rejeitada, seja pelo Parlamento ou o parecer do Tribunal de Contas, vai acarretar na inelegibilidade daquele ordenador de despesa, prefeito ou governador. Vimos a crise econômica. O petróleo é um exemplo. Arrecadamos R$ 7,5 bilhões de royalties em 2014 e caiu para R$ 1,6 bilhão em 2016. Toda essa desaceleração do motor da economia do Rio, que é a produção de petróleo. Eu votei a favor das contas. Naquele momento, tinha uma lei em relação ao decreto de calamidade financeira. Mas eu não voto contra contas de governador ou prefeito, caso eu fosse vereador. Por exemplo, tem algumas ações contra os governadores anteriores que não atenderam o mínimo de 12% do orçamento na Saúde. Não é que você vai deixar de responder. Não dá para criminalizar alguém por causa de um parecer do Tribunal de Contas da União (TCU), para cassar a Dilma ou para cassar um governador. O parecer foi modificado na Comissão de Orçamento, depois foi ao plenário com parecer favorável às contas e aí a Alerj votou. E votou duas vezes. Em 2017 e 2018, aprovando as contas do governador Pezão. Eu não tenho dúvidas. Com um déficit de R$ 8 bilhões, dizer que esse governo vai atender aos 12%... Queremos que atenda, mas tenho dúvidas se vai conseguir.
Folha – Outra pressão grande sobre a Alerj tem sido em relação ao relatório do Coaf, que aponta movimentações financeiras atípicas nos gabinetes de vários deputados, inclusive no seu.
Ceciliano – Primeiro que são apontados quatro funcionários no meu gabinete. Eu tenho dois funcionários. Uma pessoa que movimentou pouco mais de R$ 100 mil e outra que dizem ter movimentado R$ 39 milhões. Não movimentou R$ 39 milhões, foi muito, muito menos. Mas eu não vou defender a pessoa que movimentou R$ 1 milhão, R$ 3 milhões ou R$ 39 milhões. Quem tem que fazer é ela. E foram pessoas física e jurídica, porque foi como sócio do marido e em conta conjunta com o pai. O CPF e o CNPJ quem tem que defender é a pessoa. No meu gabinete, não pode ter caixinha, funcionários depositando na conta, “rachadinha” com habitualidade mês a mês. Isso não tem, graças a Deus. Notifiquei as duas funcionárias que trabalham comigo, pediram extrato bancário de 2016 e 2017, fizeram uma justificativa. Eu juntei minhas declarações de imposto de renda dos últimos cinco anos, fiz para o MP deixando meu sigilo bancário e telefônico à disposição. Eu fiz o que acho que deveria fazer. Se o sujeito tem um pai, um marido que movimentou dinheiro na conta, ele tem que responder por ele. Em relação ao MP, acho que será investigado, sim, se o gabinete cotizava para ter uma caixinha. No meu, graças a Deus, isso não tem. Estou muito tranquilo, fui espontaneamente ao MP. Eu e o deputado Luiz Paulo (PSDB) fomos no mesmo dia, coincidentemente. Em nenhum momento, o Ministério Público Federal (MPF) diz que movimentações atípicas signifiquem irregularidade. Quem fez a movimentação tem que se justificar.
Folha – Você foi lá no MP, diferente do caso do Fabrício Queiroz. Nem o Flávio Bolsonaro e nem o Queiroz foram depor (na investigação que foi paralisada na última quinta-feira por decisão do ministro Luiz Fux, do Supremo Tribunal Federal, a pedido da defesa de Flávio).
Ceciliano – Cada um tem que ser responsabilizado pelos seus atos.
Folha – O senhor já falou sobre Garotinho. Estamos em Campos, terra dele. Ele teve as três prisões nas operações Chequinho e Caixa d’Água, além de ter perdido o poder em Campos, ainda no primeiro turno de 2016, para o atual prefeito Rafael Diniz (PPS). Todos apostavam na sua decadência, mas parece que agora ele está se movimentando com o Witzel. O filho dele, Wladimir Garotinho (PRP), disse que recebeu um convite do governador para ir para o PSC do governador. Vê um ressurgimento do grupo do ex-governador a partir dos problemas do MDB e da eleição do Witzel?
Ceciliano – Como falei agora há pouco sobre os governos, a política se movimenta e, às vezes, a política faz um movimento que você não entende. Muito se fala, muito se diz, mas a realidade, às vezes, é outra. Às vezes, você está olhando uma coisa pensando algo e, na verdade, é outra coisa.
Folha – Garotinho ainda está vivo politicamente?
Ceciliano – Sim. Garotinho como governador, de 1999 até sair, fez grandes obras, trabalhou muito no Estado. Pode concordar ou não com ele. Naquele momento, tinha um futuro brilhante, mas o Garotinho tem o jeito dele de fazer política. Eu nunca saí do partido. Você falou de vários nomes agora que movimentaram o cenário de vários partidos. Cada um tem um comportamento, eu diria. Logicamente, o Garotinho, pode concordar ou não com ele, mas elegeu dois filhos como deputados federais. Respeito muito o Garotinho. Ele tem uma posição política, eu tenho outra. Mas eu diria que, no Brasil, o fundo do poço para o político tem mola. Não especificamente para o Garotinho, para todos.
Folha – Na semana passada, o jornal O Dia publicou uma nota dizendo que o senhor teria almoçado com o Garotinho para tratar de estratégias para barrar o PSL. Isso existiu?
Ceciliano – Não tem nada disso. Almocei com ele. Estamos construindo uma candidatura, dialogando com todos os partidos. No Parlamento, tem que conversar com todo mundo, e o partido dele elegeu dois deputados (Bruno Dauaire e Renato Cozzolino). Então, eu fiz uma conversa especificamente em relação aos dois parlamentares dele, mas nada de falar sobre outros partidos, pelo contrário. Respeito o Novo, que não conversou com a gente sobre a mesa. Está dizendo que vai lançar um candidato. Para lançar um candidato, você precisa de 13 deputados numa chapa. Acho muito difícil eles construírem uma chapa com 13. Acho que não terão candidato, mas é legítimo, estão falando e respeito.
Folha – Vamos fazer um pinga-fogo com os deputados estaduais da região? Eu falo um nome e o senhor diz o que quiser.
Ceciliano – Vamos.
Folha – João Peixoto.
Ceciliano – É a experiência. O nosso Joãozinho está cada dia mais jovem (risos). Da região, acho que é o parlamentar mais antigo na Assembleia.
Folha – Rodrigo Bacellar.
Ceciliano – É uma grata surpresa. Ele entrou lá na Assembleia, na sala em que eu estava, e falou: “Vim aqui para dizer que você não precisa se preocupar comigo. Você tem um dos maiores advogados pedindo por você”. Advogado no sentido de defesa, de amigos. Ele foi enumerando vários amigos que pediram para que ele pudesse conversar comigo em relação à presidência. Então, ele falou: “Fique tranquilo que já tem o meu voto”. Foi muito firme em todo instante e temos vários amigos em comum.
Folha – Bruno Dauaire.
Ceciliano – É um parlamentar que está no segundo mandato. O Bruno tem histórico na família com avô (o ex-deputado estadual Alberto Dauaire) e pai (o ex-prefeito sanjoanense Betinho Dauaire). É novo, vai construir uma carreira na Assembleia.
Folha – Gil Vianna.
Ceciliano – Passou um curto período conosco, mas é uma pessoa que todo mundo gosta na Alerj, tem chance de fazer um belíssimo mandato agora.
Folha – Jair Bittencourt.
Ceciliano – É experiente, foi prefeito, secretário de Estado, é de Itaperuna. É meu primeiro vice, só tenho como elogiá-lo.
Folha – Welberth Rezende.
Ceciliano – Está no segundo mandato de vereador em Macaé, tem uma tarefa árdua, que é substituir o Comte Bittencourt pelo PPS. Tem que correr bastante para mostrar um trabalho como mostrava o Comte. Vai ter uma tarefa difícil porque o Comte foi um parlamentar muito bacana.
Folha — Chico Machado.
Ceciliano — É um amigo querido. Viveu um momento na Assembleia quando era vereador em Macaé. Fui relator do caso dele e tive um entendimento do que a Constituição estadual diz. Agora parece que mudou em alguns estados. Disse que iria fazer um parecer, dar a cópia do processo por ser suplente de deputado e vereador ao mesmo tempo e não queria renunciar ao mandato. Fiz um parecer contrário à pretensão dele naquele momento, falei que não era nada pessoal. Depois conviveu conosco um período e, na convivência, você constrói. No primeiro momento em que voltou lá, ele me procurou e me abraçou.
Folha – O que Campos pode esperar do senhor na presidência da Alerj?
Ceciliano — Quero primeiro agradecer. Campos tem uma história muito importante para o Estado do Rio. Tem o setor do petróleo, que é importantíssimo para a economia do Estado. A Bacia de Campos foi, até pouco tempo, a nossa maior produtora. O pré-sal está tomando mais de 50% da produção no Brasil inteiro. Tem tudo para melhorar a produção dos campos maduros. Não tenho dúvida de que, abaixo do pós-sal, existe o pré-sal. E o pós-sal, onde se fazia um 3, 4, 5 mil barris, no pré-sal, dá 40 mil. O aprendizado está muito grande. Antes, se levava 300 dias para fazer um furo e custava US$ 250 milhões no pré-sal. Hoje, com US$ 40 milhões, você faz em 50, 60 dias. Não tenho dúvida de que aqui existe também pré-sal. As empresas norueguesas possuem expertise. O poço vai decaindo e o que está voltando hoje é aproximadamente 26%. E se pode, com a tecnologia norueguesa, voltar a ter 60% da produção anterior.

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