Bacellar entre Rafael e Wladimir
Aluysio Abreu Barbosa 22/12/2018 13:00 - Atualizado em 27/12/2018 17:50
Rodrigo Bacellar
Rodrigo Bacellar / Ascom
Na história recente da política de Campos, difícil esquecer o papel do então presidente da Câmara de Campos, Marcos Bacellar, durante a operação “Telhado de Vidro” no governo Alexandre Mocaiber, em 2008. Seu filho, Rodrigo Bacellar participou ativamente daqueles conturbados bastidores. Dez anos depois, após atuar como advogado no Rio, ele se elegeu deputado estadual em outubro e, em dezembro, assumiu a presidência do SD em Campos. Com críticas à administração Rafael Diniz — “o governo precisa querer ser ajudado e assumir suas falhas” — e ao deputado federal eleito Wladimir Garotinho — “é impossível dissociar sua imagem do pai” — ele aposta numa alternativa para a eleição a prefeito de 2020.
Folha da Manhã – Dos filhos do vereador Marcos Bacellar (PDT), você sempre foi considerado o mais articulado politicamente. Em 2018, saiu dos bastidores para se eleger deputado estadual pelo SD. Comenta-se a possibilidade de se candidatar a prefeito de Campos em 2020. Projeta isso?
Rodrigo Bacellar – No que tange aos meus irmãos, todos têm a sua devida importância e suas funções bem definidas no grupo. Mas, de fato sou o mais apaixonado por política. Considero muito cediço um projeto visando a prefeitura de Campos, pois preciso gastar ainda muita sola de sapato. Porém, apesar do clamor da direção estadual e nacional do partido e de parte da população, minha prioridade é exercer um mandato parlamentar de excelência para a população fluminense.
Folha – Na disputa da Prefeitura em 2020, os nomes do prefeito Rafael Diniz (PPS) e Wladimir Garotinho (PRP) são tidos como certos. Considera viável uma terceira via? O que será necessário a você ou outro político para caminhar por ela?
Rodrigo – Claro que é viável, até para que a população tenha maior opção de escolha. Sendo necessário, de quem quer que seja o postulante, uma nova forma de fazer política e olhar pelo povo, que a cada eleição demonstra um desejo de transformação de verdade na gestão pública.
Folha – Um dos fatores que favorecem a possibilidade de uma via alternativa para 2020 é o desgaste popular do governo Rafael, após ser eleito sob muita expectativa, e a grande rejeição que o grupo do ex-governador Anthony Garotinho (PRP) mantém entre os campistas. Como avalia esses dois grupos políticos e as possibilidades para que um terceiro se estabeleça?
Rodrigo – Em minha ótica, o governo atual trouxe o “diferente”, que até o presente momento, pecou pela imaturidade política do seu grupo e praticou exatamente o “diferente” de tudo que sustentou em sua campanha. Já o grupo da família Garotinho reflete um legado de desperdício de bilhões de royalties em quase 30 anos à frente do poder executivo municipal, quer pelos seus ou pelos seus indicados, o que traduz a necessidade de uma terceira via de quem conseguir demonstrar mais trabalho e capacidade de agregar neste cenário de descrédito com a classe política.
Folha – Qual a sua análise sobre os dois primeiros anos da gestão Rafael? Em seu entender, quais são suas principais virtudes e erros? Os governistas apostam que 2019 será o ano da virada. Na sua opinião, onde e como ela teria que se dar?
Rodrigo – Com o devido respeito, nesses dois anos o governo não mostrou a que veio. Muito se pregou o sucateamento das contas públicas deixadas pelo governo Rosinha, o que não é mentira. Todavia, o que vemos é a falta do básico para a população, pois não adianta ficar com discurso que vem desde que a prefeita Rosinha assumiu, olhando o retrovisor e culpando gestões passadas. Pois, desde que nos colocamos como opção de mudança, temos que saber exatamente o que fazer para resolver a situação, que todos já sabiam que iriam enfrentar. Entendo que muito se buscou qualificar o estafe com sangue novo, mas não funcionou. Falta “cabelo branco” na equipe. Mas ressalto que, como deputado, vou fazer o impossível para ajudar o governo municipal, pois é a população quem mais precisa, e Campos não suporta mais ficar paralisada por divergências políticas. Todavia, o governo precisa querer ser ajudado e assumir as suas falhas, que não são poucas, e o povo não é mais bobo e sabe que a eleição está chegando.
Folha – E sobre Garotinho? Político marcado pela inteligência, desde 2014 ele tem tomado decisões equivocadas, com duas candidaturas fracassadas a governador, uma pelo voto, ainda no primeiro turno de 2014, outra ao ser barrado pela Justiça em 2018, após ser preso três vezes. Os métodos do ex-governador envelheceram? Será possível para Wladimir se descolar da rejeição do pai?
Rodrigo – Certa vez, ouvi de um grande amigo e aliado do ex-governador: “Garotinho é um gênio, mas como todo gênio, esbarra na sua própria loucura”. Inegável sua capacidade de fazer política e de trabalho. Porém, com essa mesma capacidade ele jogou fora grandes amigos e aliados, colecionou inúmeros inimigos e distanciamento daqueles que mesmo o respeitando, não coadunam com os seus métodos. Tenho uma relação respeitosa com Wladimir, mas é impossível dissociar a imagem do pai, até pelo fato dele, durante os oito anos de governo de sua mãe, ter atuado assiduamente na administração da Prefeitura e nos “bastidores do poder”.
Folha – Comenta-se que você ambiciona a candidatura a prefeito em 2020, mas seu pai, o vereador Marcos Bacellar, seria favorável a apoiar a reeleição de Rafael. Não vale o exemplo da candidatura a prefeito de Caio Vianna (PDT) em 2016, que naufragou após ele ter perdido o apoio do próprio pai, o ex-prefeito Arnaldo Vianna (MDB)?
Rodrigo – Em primeiro lugar, não ambiciono nada. Se tem uma coisa que aprendi na vida é caminhar ao invés de correr. Ademais, sou apaixonado por trabalhar e isso faz com que resultados apareçam espontaneamente projeções para desafios maiores. Mas que fique uma afirmação: família sempre em primeiro lugar, política depois. Jamais alguém assistirá meu pai rompido comigo por qualquer que seja o motivo. Primeiro que nos amamos muito, e, segundo, porque acima de tudo respeitamos as nossas divergências.
Folha – Por outro lado, até que ponto o fato de Marcos aparentemente manter o apoio a Rafael não seria uma jogada ensaiada dentro de casa, para que seu grupo não perdesse desde já espaço no governo municipal?
Rodrigo – Quem poderia responder e confirmar isso é o próprio prefeito, a quem no início deste ano informei com devido respeito que eu faria minha campanha independente e sem o apoio da máquina municipal, pois gostaria de ter um termômetro próprio. Cordialmente, o prefeito respeitou minha posição, não misturando com a situação de governabilidade entre meu pai e ele. Segui minha independência, por mais inusitada que parecesse, sem tecer críticas abertas ao governo, o que me daria um potencial eleitoral maior, respeitando assim a opinião do meu pai, mas deixando claro que desde janeiro passado fui voto vencido em nosso grupo para que meu pai caminhasse para a oposição.
Folha – Além do seu pai, várias lideranças regionais de peso prestigiaram sua posse como presidente do SD, no último dia 15. Foi uma demonstração de força também para pretensões futuras?
Rodrigo – Foi uma demonstração apenas do quanto eu gosto de fazer amigos e de fazer política. Inclusive muitos justificaram ausência, tendo em vista as festividades de fim de ano em suas respectivas cidades. Procuro sempre consolidar minhas amizades e de voltar, sempre que posso, em portas que me abrem.
Folha – Uma das presentes na sua posse na presidência no SD foi a prefeita de São João da Barra, Carla Machado (PP). Em 2016, já se cogitou dela vir como candidata a prefeita de Campos. Com o irmão, Fred Machado (PPS), presidente da Câmara de Campos, isso poderia se tornar realidade em 2020?
Rodrigo – Seria um grande nome na disputa, apesar da paixão predominante por seu município São João da Barra. Trata-se de uma amiga e ótima gestora, reeleita para seu terceiro mandato. E cuja aceitação em Campos também é excepcional, conforme demonstrado nas eleições de 2014 para deputado em nossa cidade. Além da reeleição do seu irmão e vereador Fred Machado.
Folha – Além de você, Carla, Arnaldo e Caio, outros nomes são cogitados como alternativas a Rafael e Wladimir para prefeito de Campos em 2020. São os casos do também deputado estadual eleito Gil Vianna (PSL, partido de Jair Bolsonaro), do empresário Joílson Barcelos e do reitor do Instituto Federal Fluminense (IFF), Jefferson Manhães de Azevedo. O ex-candidato a vereador Alexandre Buchaul (PSDB), que o ajudou na sua campanha a deputado, também lançou grupos de estudos para formular um projeto para a cidade em 2020. Como avalia cada um desses nomes e suas chances reais?
Rodrigo – O cenário está completamente aberto para todos. O povo clama por mudanças e resultados efetivos e as últimas eleições já deixaram evidente que não existe mais a máxima de “candidato da máquina”, “filho de fulano”, “candidato rico”, etc. Todos têm direito de postular o executivo, mas acredito que o destaque será para quem agregar mais, usar da verdade e falar a voz da rua.
Folha – As pretensões do SD nas eleições a prefeito de municípios da região não se limitam a você em Campos. Em Macaé, o partido tem o vereador Maxwell Vaz, líder da oposição. Em São Francisco de Itabapoana, tem o vereador Jarédio Azevedo, que esteve recentemente envolvido em problemas com uma ação penal. E, em São João da Barra, há o vereador Gersinho. Como vê esses nomes e suas possibilidades?
Rodrigo – Temos conversado muito na executiva estadual com o nosso presidente e deputado federal Aureo. E, de fato, são todos grandes parlamentares e ótimos nomes. Estamos analisando o cenário e entendemos que aqueles que conseguirem musculatura para a disputa terão o nosso apoio, porque o partido precisa crescer ainda mais, ressaltando que jamais disputaremos qualquer pleito por vaidades individuais.
Folha – Como vai se posicionar em relação à eleição da mesa diretora da Assembleia Legislativa? A presidente, quem vai apoiar: Márcio Pacheco, do PSC do governador Wilson Witzel e apoiado pelo PSL dos Bolsonaro, ou o atual presidente André Ceciliano (PT), da oposição? Há um terceiro nome?
Rodrigo – Insta acentuar que o governador eleito até o presente momento não declarou apoio a presidente algum, inclusive já tendo declarado que não iria interferir na eleição da mesa. No mais, tenho posição firmada com o candidato André Ceciliano, pois assim que terminou as eleições fui procurado pelos dois candidatos que então concorriam, que eram ele e o André Corrêa (DEM), este último apoiado pelo nobre colega deputado Márcio Pacheco. E optei pelo candidato André Ceciliano, o que não indica que terei uma postura de oposição. A minha posição como parlamentar na eleição da mesa, em nada interfere em minha posição com o governo. Após a operação que desencadeou a prisão de deputados, dentre eles, do candidato André Corrêa, surgiu a candidatura de Pacheco, a quem respeito e desejo todo o bem, mas quem conhece o legado de minha família sabe: não volto atrás com a palavra dada. Sim, existem especulações de outros nomes como a deputada Tia Ju (PRB), mas acredito muito em uma composição para que tenhamos uma base sólida na Assembleia, pois o Estado precisa se reerguer.
Folha – Militando no Rio como advogado, você ganhou intimidade e conhecimento dos corredores dos poderes executivo, legislativo, judiciário, do Ministério Público e do Tribunal de Contas do Estado do Rio. Como viu a prisão de boa parte da cúpula do poder fluminense? Pode vir mais coisa por aí?
Rodrigo – É muito estarrecedor o momento que vivemos no Estado do Rio de Janeiro. Necessário se faz passar a limpo todo este cenário de descaso e corrupção onde as autoridades têm demonstrado eficiência, ressaltando a observância do contraditório e da ampla defesa para que importantes operações não caiam por terra e pequem por excesso. O Estado continua mais vivo do que nunca, com um governador eleito e mais da metade da Assembleia renovada. Ou seja, o retrato fiel de que a esperança continua no anseio popular. O que vem por aí, cabe à Justiça.
Folha – Alguns dos seus críticos argumentam que, apesar da sua juventude, você é um adepto da velha política, baseada no toma lá, dá cá, que sofreu talvez o mais revés na história política brasileira nas eleições de 2018. Como responde a esse tipo de crítica?
Rodrigo – Com a maior naturalidade, pois as críticas me permitem identificar erros e melhorar. Porém, não me considero adepto da política do toma lá, dá cá. Senão, seria oportunista e teria me rendido aos convites que me foram feitos, ao invés de ter concorrido na cara e na coragem.
Folha – Seu pai terminou o ano no exercício do mandato, mas desde 21 de novembro foi publicado em Diário Oficial o acórdão da negação plenária do último recurso dele no Tribunal Regional Eleitoral (TRE). Diz respeito à condenação dele, como presidente da Câmara de Campos, por um contrato sem licitação de 2007, com a Ocip Invisa, no valor de R$ 558 mil. Como fica a situação jurídica de Marcos?
Rodrigo – Importante pergunta para que possamos esclarecer melhor. Meu pai continua respondendo ao processo no cargo de vereador, e tenho grande esperança na reforma da sentença pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE), vez que as contas de gestão do biênio 2007/08, onde esteve presidente da Câmara Municipal, estão devidamente aprovadas, conforme comprovado via certidão expedida pelo Tribunal de Contas do Estado (TCE). Como sempre afirmamos, todo esse imbróglio foi arquitetado pela família Garotinho. Por ironia do destino, foi Garotinho que pediu ao doutor Thiago Godoy que assinasse a notícia de inelegibilidade contra meu pai, chegou a assumir como suplente de vereador e foi afastado por uma Aije com vasta documentação probatória que pode lhe causar a perda definitiva do mandato.

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