Crítica de cinema - Terror natural
22/10/2018 18:36 - Atualizado em 26/10/2018 15:24
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(A casa do medo: incidente em Ghostland) —
Basta ler um livro de Lovecraft, apenas um, para mergulhar no seu universo abissal, onde e quando alcançamos os confins do espaço e os limites do tempo. Realidade e fantasia, sonho e vigília se confundem. Não sem razão, o estadunidense Howard Phillips Lovecraft (1890-1937) influenciou a ficção científica e o terror na literatura e no cinema. Stephen King, Guillermo Del Toro, Stuart Gordon, Dan O’Bannon, Roger Corman, John Carpenter e Roman Polanski são admiradores do mestre do incrível.
Agora, Pascal Laugier aparece como mais um admirador. Dele é o roteiro e a direção de “A casa do medo: incidente em Ghostland”. A rigor, não se trata de terror nem de ficção científica. É muito comum considerar “Psicose” e outros filmes de Alfred Hitchcock como representantes do gênero terror apenas por trabalharem com mistério e com medo. Terror precisa do elemento sobrenatural para se caracterizar como gênero literário e cinematográfico.
Cinema
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O que Pascal Laugier faz com bastante talento é valer-se de elementos de um filme de terror para criar um suspense assustador que mistura realidade, imaginação e pesadelo. Ele efetua excelentes cortes espaciais e temporais que lança o espectador em lugares distintos entre passado, presente e futuro.
O cenário é um velho casarão deixado por uma estranha tia. Ele fica isolado no campo. Como sempre, é evitado pelas pessoas do povoado mais próximo. Mal conservado, o seu interior é povoado de quinquilharias e de bonecos. Dois elementos muito comuns nos filmes de terror aparecem: um velho casarão e bonecos de fisionomia estática e aterradora. Entra em cena mais um elemento: um porão misterioso.
Mas Laugier ludibria o espectador. Em vez de bonecos perversos, espectros assustadores e fantasmas, ele coloca em cena dois homens psicóticos que perambulam pelas estradas num caminhão à procura de casas para atacar, matar e praticar suas taras. Mãe e duas filhas vão morar no casarão. Pode-se adivinhar o que acontecerá com elas. Beth (Emilia Jones quando jovem e Crystal Reed quando adulta) tem Lovecraft como ídolo e deseja se transformar numa escritora de ficção fantástica como ele.
As vidas das três mulheres são marcadas por um terrível incidente. As respostas para ele serão diferentes. Beth se torna uma escritora de fama, inclusive elogiada pelo próprio Lovecraft na forma de imaginação ou de fantasia. Em planos distintos, Laugier consegue prender a atenção do espectador. Contudo, creio que o recurso de marcar cenas assustadoras com ruídos repentinos poderia ser evitado. Não se sabe se é o ruído ou o perigo inesperado que de fato assusta.

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