Lado torcedor de Paulo Roberto
Paulo Renato Pinto Porto e Matheus Berriel 12/07/2018 18:34 - Atualizado em 17/07/2018 14:36
Um dia após o Americano ter conquistado o título da Taça Santos Dumont, primeiro turno da Série B1 do Campeonato Estadual, foi fácil encontrar o maior jogador da história do clube, hoje um torcedor fanático. Quatro décadas depois de ter abandonado os gramados, Paulo Roberto tem uma vida simples no bairro do Caju, em Campos. Como indicaram seus vizinhos, o craque do passado só podia estar no bar do Bitulino, vestido com uma camisa do clube pelo qual se imortalizou, comentando com os amigos sobre a recente façanha da nova geração alvinegra.
Com as chuteiras penduradas desde 1978, o “Cabeção”, como ficou conhecido quando jogador, ainda luta para conseguir sua aposentadoria. Aos 72 anos de idade, ele mora com a esposa em uma casa simples na rua Flaminio Caldas, a mesma comprada ainda durante a carreira. Lamenta não ter administrado melhor seu dinheiro, bem como não ter recebido uma compensação financeira das diretorias que passaram pelo Americano depois de ele ter parado de jogar.
— O Americano não me pagou nada... Joguei 12 anos (com contrato) e não me pagaram nada. Hoje, está meio difícil, porque estou desempregado. Eu trabalhava na Prefeitura Municipal, era motorista de ambulância. Mas, vamos ver como vai ficar a questão da aposentadoria. Eu também tenho um dinheiro para receber da Prefeitura, no dia 18, pelo tempo de serviço. Vai dar um refresco... Da época do futebol, só fiz minha casa, ajudei bastante a minha mulher. Até porque, jogador não ganhava quase nada. Depois de parar, eu até treinei o juvenil do Americano, o Rio Branco, o Cardoso Moreira e o Macaé, mas eu era vendedor e deixei isso para lá. Apesar disso, não culpo em nada o Americano. Eu tinha meu dinheiro, tinha as coisas, e ficava só pensando no futebol... Pensei demais — desabafa.
Se as inesquecíveis atuações nos gramados não lhe renderam muito dinheiro, as maiores riquezas são as lembranças dos grandes feitos e o reconhecimento por parte da torcida alvinegra, que até hoje se vangloria dos gols marcados por Paulo Roberto em todas as finais do eneacampeonato campista consecutivo, de 1967 a 1975. No último domingo (08), comemorando a conquista da Taça Santos Dumont com os atuais jogadores e os fãs, o velho herói alvinegro dançou no gramado do estádio Ângelo de Carvalho ao ritmo do trecho de uma música da torcida que diz: “com Paulo Roberto eu fui eneacampeão”.
— Eles torcem por mim da mesma forma, como se eu estivesse jogando. Graças a Deus, trato bem todos os torcedores. Eu tenho o prazer de estar lá e receber o carinho deles, que ficam entusiasmados ao me ver. Não só a torcida, como também o time. E a torcida do Americano é espetacular. Adoro quando os torcedores gritam o meu nome, fico satisfeito, porque já são 40 anos que eu parei de jogar bola e eles ainda lembram de mim. Ali tem mais gente que não me viu jogando do que os torcedores que me viram, mas todos me respeitam — destaca.
Até nas ruas de Campos, vestindo roupa casual, o ex-jogador costuma ser reconhecido. “Tem dia que eu vou ao Centro a pé. Quando passo pela avenida Alberto Torres, sempre tem alguém para gritar ‘ei, Paulo Roberto’. Alguns senhores falam comigo, perguntam se está tudo bem. A própria torcida do Goytacaz me respeita demais. Nunca fui ignorante. Quando jogador, só fui expulso uma vez, porque o falecido Zé Banana quis me tirar do campo. Nós estávamos ganhando por 3 a 1 e o Goytacaz virou para 4 a 3. Foi minha única expulsão. Perdi o (extinto prêmio) Belford Duarte por causa de Zé Banana”, brinca entre risadas.
Além dos nove Campeonatos Campistas seguidos, Paulo Roberto tem em seu currículo outros dois, de 1964 e 1965, mais cinco Taças Cidade de Campos e quatro Campeonatos Fluminenses. Tudo isso conquistado como ícone principal de uma geração que contava com atletas brilhantes como Adalberto, Gessi, Messias, Chico Preto, Capetinha, Luis Carlos e outros, que colaboraram muito para ele assumir o papel de “artilheiro das decisões”.
— Tenho 24 títulos pelo Americano, contando os períodos como profissional e amador. Eu podia ter sido duodecacampeão campista, porque o Goytacaz venceu em 1966 e interrompeu o início de uma sequência. Mas, aí é querer demais (risos). O gol do enea me marcou. Foi o mais importante, porque terminou 1 a 0, com um gol de pênalti que eu bati muito bem, faltando poucos minutos para terminar. Se eu fizesse um gol espetacular no primeiro, segundo ou terceiro título, não marcaria tanto como esse gol simples, de pênalti, porque esse foi o do enea, entrou para a história. É difícil um time ser enea, não tem outro na era do profissionalismo — afirma.
“É mais difícil estar fora do campo”
Com uma atuação abaixo da média no primeiro tempo da final da Taça Santos Dumont, o Americano foi para o intervalo perdendo por 1 a 0 para o Tigres do Brasil. Entretanto, reagiu e virou para 2 a 1 com gols de Cláudio Maradona e Maikon Aquino.
— Eu estava bravo. Queria ter alguns anos a menos e entrar em campo. Eu fico numa situação danada. Saio de onde estou, dou uma voltinha e volto. É mais difícil estar fora do campo. Você chuta o alambrado, fica naquela tensão. Mas, quando entrou o primeiro e depois o segundo, eu disse que já não tinha para ninguém. Os garotos foram felizes nas oportunidades que tiveram e fizeram uma alegria enorme para a gente — comemora Paulo Roberto, que também recebeu uma medalha.
Para o ídolo alvinegro, a estrela do treinador Josué Teixeira foi fator diferencial na série de nove vitórias consecutivas: “Treinador de futebol tem que ter sorte. Não adianta ser um cara que entra no campo, dá esporro, chama a atenção. Tem que ter competência e sorte para armar o time certo. É o que está fazendo o Josué Teixeira. Nesse campeonato, ele montou um time espetacular. Virou a final no segundo tempo com dois gols espetaculares dos meninos”.
Admiração pelo artilheiro alvinegro
Artilheiro isolado da segunda divisão estadual, com nove gols, Maikon Aquino foi elogiado pelo ilustre torcedor alvinegro: “Eu gosto dele. Gosto do Aquino, é danado, um bom jogador. Também gosto do Maradona e dos beques (Kadu e Admilton)”.
A recíproca é verdadeira por parte de Aquino: “Soube muito da história dele, muitas pessoas me falaram do que ele fez em 1975. Marcou um gol em vitória contra o Santos num Campeonato Brasileiro, de cobertura (e um de falta contra o Flamengo de Zico, no Estadual de 1976). É um cara que precisa servir muito de inspiração dentro do clube. Uma pessoa fantástica, humilde, tive a oportunidade de conversar com ele. É muito gratificante ser recebido e ouvir comentários positivos de um cara que tem história”.
Presente em todos os jogos com mando de campo do clube de coração neste ano, Paulo Roberto tem motivos de sobra para confiar no acesso:
— Eu acredito no Americano. O time está jogando, está vibrante, querendo vencer. O amor, a amizade entre os jogadores, isso é importante. O Americano pode surpreender mais ainda. Quando você faz as coisas certas, tudo ajuda. Isso vale no jogo, no trabalho e na vida”.

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