Guilherme Belido Escreve - Sucessão presidencial fica ainda mais embaralhada
02/04/2018 17:28 - Atualizado em 02/04/2018 17:47
No cenário político brasileiro, a cada semana surge uma novidade, não raro revirando as pedras do tabuleiro de maneira tal a modificar sua configuração.
Trocando em miúdos, Brasília vive de sobressaltos. Talvez por isso o presidente Michel Temer, depois de empossado, não ficou nem duas semanas no Palácio da Alvorada e resolveu voltar a morar no Jaburu. Mas a julgar pela garagem e áudio de Joesley, talvez também por lá os fantasmas andem soltos.
Mas seja como for, onde Gasparzinho ronda para valer é no Planalto, quase que diariamente assombrado por denúncias e revelações de arrepiar os cabelos.
Tem sido assim nos últimos anos o que, convenhamos, para além do alvoroço que, como efeito cascata, alcança diferentes esferas do País, por outro lado indica que o Brasil está se depurando ou, repetindo frase que caiu no gosto popular, ‘o Brasil está sendo passado a limpo’.
Pois bem. Não faz nem um mês, em matéria intitulada ‘Quem?’, esta página abordou que em nenhum outro momento da história, em quase 70 anos, o Brasil chegava a pouco mais de seis meses do 1º turno sem candidatos tidos com certos e favoritos para a sucessão presidencial. E fez breve relato, cobrindo do pleito de 1950 à eleição de 2014, para fundamentar a conclusão alcançada. (* Exceção para Jair Bolsonaro, incluído em 2018 com ressalvas pelos motivos elencados no referido texto)
Novas mexidas, mais incertezas
E não é, caro leitor, que em 20 dias temos um novo panorama – ou, no mínimo, a possibilidade de mudanças – com um ainda longínquo e improvável horizonte para Lula da Silva, mas, de toda forma, menos ruim que antes – e o estreitamento do que já se mostrava para lá de apertado para Michel Temer.
Vejamos: Lula, que à luz das evidências estava fora da disputa, aguardando o julgamento do recurso do TRF-4 que possivelmente lhe levaria à prisão, obteve um inusitado salvo-conduto do Supremo até 4 de abril, quando a Corte vai julgar seu habeas corpus preventivo.
Em tese, para fins eleitorais, nada mudou. O que se discute é a prisão em 2ª instância, não a condenação. Logo, obtendo o HC e o consequente direito de recorrer às Cortes Superiores em liberdade, o ex-presidente ainda permanece inelegível pela Lei da Ficha Limpa. Mas... como dito, “em tese”. E como no Brasil ‘Samba que dá / / Bamboleio, que faz gingar’ [Ary Barroso] nada é impossível...
Michel Temer – Já para o presidente Temer, o ruim piorou. O mandatário que alardeava não sairia candidato, mudou o tom, tomou uma injeção de ânimo e até tentou alguns voos de galinha emplacando a agenda econômica (no lugar da reforma da Previdência), incluindo privatização da Eletrobras, autonomia do Banco Central, reforma do PIS/Cofins, etc.
Contudo, mal chegou à pista de decolagem e logo se viu atropelado pela autorização do STF para que fosse incluído em inquérito da Lava Jato e, em seguida, com o pedido de quebra de sigilo bancário. Não deu nem para aquecer.
Mas o presidente não se abateu. Disse que não ser candidato seria uma covardia e arregaçou as mangas. Tentou subir alguns degraus (ou melhor, centímetros) na esteira da intervenção na Segurança do Rio – com boa aprovação pela população – e com o anúncio de derrubar o veto do Refis.
No Nordeste, em discurso otimista, sem gravata, inaugurou a Irrigação do Baixio de Irecê, em Xique-xique. Na mesma fala, anunciou que irá entregar as obras que não foram finalizadas por falta de dinheiro e que o governo “está tentando acabar com a seca que assola o Nordeste há anos”.
Pedra no caminho – Mas, como novo revés, apareceu mais uma pedra no caminho. As asas de Temer, já difíceis de lhe impulsionarem pequenos saltos, foram cortadas.
Por conta do decreto de concessão de portos, três amigos próximos do presidente foram presos pela Polícia Federal a pedido da procuradora-geral da República em operação autorizada pelo ministro Luís Roberto Barroso. São eles José Yunes, advogado e ex-assessor do presidente Temer; João Batista Lima Filho, ex-coronel da Polícia Militar de São Paulo; e Wagner Rossi, ex-ministro da Agricultura.
Os desdobramentos dessas prisões podem levar a uma terceira denúncia contra Michel Temer que, na hipótese, estaria com sua candidatura inviabilizada.
Resumindo, como dissera Dilma dela própria, Temer está virando carta fora do baralho.

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