O primeiro encontro entre o juiz federal Sérgio Moro, responsável por conduzir as investigações da Lava Jato, e o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) durou mais de cinco horas. Durante o interrogatório, em Curitiba, Lula afirmou que “nunca houve a intenção de adquirir um triplex” no Guarujá, no litoral de São Paulo. O ex-presidente é acusado de receber o imóvel como parte de propina de R$ 3,7 milhões da construtora OAS, que tinha contratos com a Petrobras durante o governo petista. De acordo com o Ministério Público Federal (MPF), o valor teria sido repassado a Lula por meio da reforma do imóvel e pelo pagamento do armazenamento de bens, como presentes recebidos no período em que era presidente.

Lula confirmou a Moro que visitou o apartamento, mas que não orientou a nenhuma reforma e ainda questionou a forma como as investigações aconteceram. “Eu não orientei. O que eu sei é que, no dia que eu fui, houve muitos defeitos mostrados no prédio, defeitos de escada, defeitos de cozinha. Ele (MPF) deve ter pelo menos algum documento que prova o direito jurídico de propriedade para poder dizer que é meu o apartamento”, comentou.

Em outro momento, Sérgio Moro questionou o ex-presidente sobre um encontro com líderes do PP em 2003 e a resposta de Lula foi curiosa. “Eu sempre me reuni com os líderes de todos os partidos. Talvez se a Dilma tivesse feito isso, não teria o impeachment”, disse.

O ex-presidente confirmou que visitou o triplex em fevereiro de 2014 porque a OAS pretendia vendê-lo para sua família, mas afirmou que não orientou nenhuma reforma. Lula também falou que a esposa, Marisa Letícia, o acompanhou e voltou ao local em agosto do mesmo ano, acompanhada do filho. Segundo o petista, Marisa não gostava de praia, mas queria investir no imóvel. No entanto, de acordo com Lula, a ex-primeira-dama comprou uma cota de um apartamento simples da Cooperativa Habitacional dos Bancários (Bancoop), dona do prédio.

Durante todo o dia, a capital paranaense foi palco de manifestações pró e contrárias a Lula. Um forte esquema de segurança foi elaborado para separar os grupos. Após o depoimento, o ex-presidente foi para a praça Santos Andrade, onde seus apoiadores, como Dilma Rousseff, se concentraram. O petista afirmou ser vítima de uma perseguição e chegou a chorar. “Nunca antes na história deste país alguém foi tão massacrado como eu (...). Se um dia eu tiver que mentir para vocês, eu prefiro que um caminhão me atropele”, afirmou durante o discurso. (A.S.) (A.N.)