Cinema: Vermes nucleares
Edgar Vianna de Andrade - Atualizado em 07/12/2020 14:49
Sanguessuga é um verme que vive do sangue de animais, produzindo um anticoagulante para conter o sangramento depois de chupar a presa. Fui atacado por esse bichinho quando morei num subúrbio do Rio de Janeiro. Como tenho fobia a sangue, ao encontrar uma sanguessuga grudada no meu corpo, eu entrava em pânico, mas os fumantes sabiam que bastava encostar um cigarro acesso na “chamichuga”, como a chamavam, para matá-la.
Felizmente, ninguém foi atacado por uma sanguessuga gigante, possivelmente resultado de radiação nuclear, como em “O ataque das sanguessugas gigantes”, filme B e trash de 1959 dirigido por Bernard L. Kowalski, com produção executiva do grande Roger Corman e produção do seu irmão Gene Corman. Trata-se de mais um filme retratando o medo dos efeitos colaterais da energia nuclear, muito comum nos anos de 1950.
O filme foi rodado nos pântanos da Flórida, perto de Cabo Canaveral, base de lançamento de foguetes. Um pescador encontra uma criatura gigante, dispara contra ela e narra o ocorrido para amigos num bar. Todos riem dele, confirmando a fama de mentiroso do pescador não só no Brasil. A trama é a luta dos habitantes da pequena cidade do interior contra os seres gigantes misteriosos. A subtrama consiste no casamento do dono do bar com Liz Walker, mulher interpretada pela bela Yvette Vickers, que se especializou em papeis malditos. Ela tem o corpo das mulheres de sua época: seios empinados e cintura fina. Mas sua fisionomia ajudava nos papeis de desclassificada. No filme, ela represente uma mulher de passado infeliz que se divorciou de um bandido e trabalhou no comércio até encontrar o dono do bar. Liz é infiel em seu casamento, algo não enfocado com frequência nos filmes do gênero e da época.
O casal típico é representado pelo guarda florestal e sua noiva, sempre pronta para dar gritinhos de pavor e buscar proteção no marido. É ele quem lidera a investigação sobre as pessoas que começam a sumir com o ataque das sanguessugas gigantes, pintadas no trailer como animais dotados de valores éticos, pois são conscientemente cruéis. Percorrendo o pântano com sua noiva, o guarda florestal não acha nada. É de notar a atitude dele em proteger a natureza numa época em que essa preocupação não era ainda tão evidente. Daí o desentendimento entre ele e o sogro, que deseja lançar dinamite no pântano para descobrir a verdade.
Fugindo da vigilância do futuro genro, o velho detona o fundo d’água, mas só consegue resgatar cadáveres cujo sangue foi drenado pelas sanguessugas gigantes. Convencido de que havia seres monstruosos no pântano, o guarda florestal exemplar aceita o uso de mais dinamite para matar os seres deformados pela radiação nuclear.
O filme tem os clichês da época. A ameaça emerge numa cidade do interior, onde o centro é um bar. O xerife é um cético antipático a forasteiros, como é o caso do guarda florestal. Trata-se de um produção de baixo orçamento, com efeitos especiais primários. As sanguessugas são mal concebidas, com pessoas sob algo feito com borracha e plástico. Falta acabamento no roteiro e na filmagem. Música convencional. Produção excelente para os apreciadores de filmes B e trash.

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