O pragmatismo de Jorge Jesus e o estruturalismo de Dome
01/09/2020 12:20 - Atualizado em 01/09/2020 13:27
A concepção de futebol de Jorge Jesus (JJ) está baseada em aproveitar o que cada atleta tem de melhor e os melhores atletas. Há uma ideia de jogo: posse de bola, proposição de jogo, pressão pós-perda forte, criação de espaços pela movimentação etc. Mas a ideia de jogo se adapta aos atores, não o contrário. O próprio JJ sempre ressaltou que sua filosofia de jogo resulta menos do aprendizado de teorias, no qual investe, inclusive em diálogo com outras modalidades esportivas como o basquete, que da experiência prática que mantém com o futebol.
Para Domènec Torrent (Dome) a ideia de jogo é absoluta e os atletas são aproveitados na medida em que se enquadram nela.
Dizem que a ideia de jogo de JJ não tem um nome. A de Dome tem um nome famoso: jogo posicional.
Se fizessem sociologia, Dome seria o que Bourdieu chamou de um "estruturalista feliz" com sua teoria imune à realidade histórica e JJ uma teória da prática, que, assim como Klopp, entende a relação entre ordem e caos, estrutura e prática concreta.
Se fossem ambos hegelianos, Dome seria um hegeliano de direita idealista e JJ um marxista pragmatista.
Diferente do especialista em tática Leonardo Miranda, eu arrisco dizer que não são dois conceitos apenas diferentes. O de JJ é superior. Futebol, como toda prática social, é estrutura, mas também é caos e inovação imprevista pela ideia de jogo.
A visão prática e o bom senso não devem ser desprezados pela teoria. Desmontar o quarteto de ataque com Everton, Arrasca, B.H e Gabigol é injustificável. Não se trata de discutir em termos teóricos se o jogo posicional e o guardiolismo foram superados, mas sim de aprender na prática que o magnífico elenco do Flamengo será desperdiçado se a ideia de ataque posicional for implantada do modo como tem sido.

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    Roberto Dutra

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