Viradouro é a campeã do carnaval do Rio de Janeiro em 2020
26/02/2020 18:09 - Atualizado em 02/03/2020 14:21
  • Unidos do Viradouro

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A Unidos do Viradouro é a grande campeã do Grupo Especial do Carnaval do Rio de Janeiro. A escola de Niterói levou para a Marquês de Sapucaí o enredo “Viradouro de alma lavada”, que contou a história das Ganhadeiras de Itapuã, assinado pelos carnavalescos Tarcísio Zanon e Marcus Ferreira. A Viradouro voltou a vencer o Carnaval carioca após 23 anos de seu primeiro título. A Grande Rio ficou em segundo lugar, seguida de Mocidade (terceiro), Beija-Flor (quarto), Salgueiro (quinto) e Mangueira (sexto). Todas retornam à avenida neste sábado (29) para o desfile das campeãs. A Estácio de Sá e União da Ilha foram rebaixadas para o Grupo de Acesso.
Com o enredo sobre As Ganhadeiras de Itapuã, vencedor do Estandarte de Ouro da categoria, a escola arrebatou a Sapucaí com um desfile luxuoso, a bateria do Mestre Ciça inspirada e um samba que pegou na Avenida. “Oh mãe, ensaboa, mãe”, dizia o trecho que todo o público do Sambódromo cantou. A última vez que a Viradouro se sagrou campeã foi em 1997, com Joãozinho Trinta. A escola passou anos na Série A e só voltou ao Grupo Especial no ano passado, quando foi vice-campeã.
Durante a apuração o clima era de muita expectativa, pois a diferença de uma escola para outra era mínima. Em mestre-sala e porta-bandeira, a Grande Rio ainda era a campeã, seguida por Beija-Flor, Viradouro, Salgueiro e Mocidade. No penúltimo quesito, harmonia, é que a Viradouro virou o jogo, assumindo a liderança após Grande Rio e Beija-Flor perderem décimos preciosos. A decisão final veio em evolução. A virada dramática, na última nota do penúltimo quesito, gerou uma grande comoção entre os torcedores que lotam a quadra da escola. No início da leitura das notas do último quesito, harmonia, ritmistas começaram a armar a bateria no palco e integrantes começaram a se abraçar em meio a lágrimas e sorrisos.
Historicamente, As Ganhadeiras de Itapuã eram escravas que, no século XIX, realizavam atividades remuneradas e, lavando roupa à beira da Lagoa do Abaeté ou vendendo quitutes, juntavam dinheiro para alforriar seus companheiros e outras mulheres. Foi um carnaval para tratar também do empoderamento feminino. Bem diferente de outros desfiles com temática ligada à Bahia, o visual foi luxuoso e sofisticado, com toques de modernidade dos jovens carnavalescos Marcus Ferreira e Tarcísio Zanon, que são casados e trabalham juntos pela primeira vez. O dourado reduziu no abre-alas. E, na comissão de frente, uma “sereia” surgia num aquário.
Este ano, a apuração contou com uma alteração no julgamento das notas. Ao todo, cinco jurados em cada um dos 10 quesitos avaliavam as escolas, mas a melhor e pior nota de cada agremiação foram descartadas, servindo apenas como critério de desempate caso necessário. E foi justamente no desempate que Unidos de Viradouro se tornou campeã.
Em segundo lugar ficou a Acadêmicos do Grande Rio, 9º lugar no ano passado, trouxe o enredo “Tata Londirá – O canto do caboclo no Quilombo de Caxias” dos carnavalescos Gabriel Haddad e Leonardo Bora. A dupla de estreantes no Grupo Especial foi ousada ao homenagear Joãozinho da Gomeia, famoso babalorixá de Duque de Caxias. A verde, vermelho e branco caxiense desfilou com uma garra contagiante e deixou seu recado contra a intolerância religiosa que pode ser ilustrado pelos dois últimos versos do refrão “Eu respeito seu amém, Você respeita o meu axé”!
A Mocidade Independente de Padre Miguel, 6ª colocada no ano passado, foi muito feliz com o enredo “Elza Deusa Soares”, desenvolvido pelo carnavalesco Jack Vasconcelos. Ao escolher homenagear uma das mais importantes cantoras da Música Popular Brasileira, a verde e branco da Zona Oeste carioca conquistou afetivamente o público. Com a Elza Soares num trono no último carro alegórico e o intérprete Wander Pires deslizando com sua voz pela melodia do belo samba, a escola fez um desfile arrebatador.
A Beija-Flor depois de amargar um 11º lugar no ano passado, trouxe o enredo “Se essa rua fosse minha” dos carnavalescos Cid Carvalho e Alexandre Louzada. A azul e branco de Nilópolis mais uma vez pisou firme e forte na avenida impulsionada pela swingada bateria comandada pelos mestres Plínio e Rodney e pelo longevo intérprete Neguinho da Beija-Flor. O tema tem a rua muito presente e o samba possui um refrão do meio verdadeiramente antológico que pegou de imediato, “Nilopolitano em romaria; A fé me guia, a fé me guia”!
A Acadêmicos do Salgueiro, que ficou no 5º lugar ano passado, desenvolveu o enredo “O Rei Negro do Picadeiro”, do carnavalesco Alex de Souza. Fez uma homenagem aos 150 anos de nascimento do Benjamin de Oliveira, primeiro palhaço negro do Brasil, tema que combina com os enredos afros salgueirenses. Emerson Dias e Quinho interpretaram com vigor o samba. No entanto, foi um desfile pouco empolgante quem inclusive, não conseguiu mostrar sua identidade plástica e seu estilo de evoluir na avenida.
A Mangueira, campeã do ano passado, causou polêmica desde que lançou o enredo “A verdade vos fará livre” do carnavalesco Leandro Vieira. A tradicional verde e rosa impactou com uma comissão de frente muito bem vestida e executando uma fantástica coreografia criada por Rodrigo Neri e Priscila Motta. Tratou-se de um desfile que questionou uma possível existência de Jesus Cristo nos dias de hoje numa comunidade pobre como a mangueirense. Partiu da biografia bíblica e foi desconstruindo a imagem cristã eurocêntrica elitista e racista!

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