Apologia ao nazismo derruba secretário de Cultura
17/01/2020 18:51 - Atualizado em 25/01/2020 18:06
 Roberto Alvim
Roberto Alvim / Divulgação/Agência Brasil
A exemplo do que aconteceu nesta sexta-feira (17) pelo país afora, também em Campos houve reação crítica à postura do secretário de Cultura, Roberto Alvim, que em pronunciamento nas redes sociais plagiou discurso de Joseph Goebbels, e acabou sendo demitido. A atriz Regina Duarte foi convidada para substitui-lo, mas até o fechamento desta edição não havia dado resposta.
A presidente da Fundação Cultural Jornalista Oswaldo Lima, Cristina Lima, foi taxativa ao se dizer “pasma, triste e apavorada. É como me sinto diante desse quadro aterrador em que se encontra a cultura”. Por sua vez, o professor e historiador Aristides Soffiati disse que “a demissão não se deu porque há discordância (governo) pelo que expressou, mas sim pela repercussão negativa”.
Para o diretor do Teatro de Bolso Procópio Ferreira, Fernando Rossi, “ele (Roberto Alvim) já vinha protagonizando uma série de equívocos” como a agressão à atriz Fernanda Montenegro. Já a diretora do Museu Histórico de Campos, Graziela Escocard, observou que “o fato revela a má escolha feita pelo presidente Bolsonaro”, pois desde o início de sua gestão se revelou um nome inadequado para conduzir a política cultural do país.
Os descontentamentos vieram à tona quando ao som de Richard Wagner, o compositor favorito de Adolf Hitler, o secretário de Cultura do Governo, Roberto Alvim, plagiou em pronunciamento que foi ao ar nas redes sociais trechos de um discurso do ministro da Propaganda do führer nazista, Joseph Goebbels. “A arte brasileira da próxima década será heroica e será nacional. Será dotada de grande capacidade de envolvimento emocional e será igualmente imperativa (...) ou então não será nada”, diz Alvim no vídeo. O líder nazista havia dito: “A arte alemã da próxima década será heroica, será ferrenhamente romântica, será objetiva e livre de sentimentalismo, será nacional com grande páthos e igualmente imperativa (...) ou então não será nada”.
O caso causou revolta nas redes sociais e a manifestação dos presidentes da Câmara, Rodrigo Maia, e do Supremo, Dias Toffoli. A Confederação Israelita do Brasil considerou “inaceitável” o uso do discurso. No início da tarde desta sexta, o Governo demitiu o secretário, alegando que o pronunciamento “tornou insustentável” sua permanência. Após parafrasear o nazista, Alvim afirmou nas redes sociais que se tratou de uma “coincidência retórica”, e que não citou Goebbels “e jamais o faria”. Disse que “a origem [da frase] é espúria, mas as ideias contidas da frase são absolutas perfeitas. Eu assino embaixo”, ressaltou. Já em entrevista à Rádio Gaúcha, ele apresentou nova versão, e se defendeu alegando que foi uma “infeliz coincidência retórica”, fruto de uma pesquisa feita por sua equipe no Google. A busca teria sido por discursos que envolvessem “nacionalismo em arte”.
Ele admitiu ter escrito 90% do texto lido na quinta-feira, mas não os trechos copiados de Goebbels. Por fim, o secretário foi novamente às redes sociais, onde afirmou que “se soubesse da origem da frase, jamais a teria dito. Tenho profundo repúdio a qualquer regime totalitário, e declaro minha absoluta repugnância ao regime nazista”. Ele pediu desculpas à comunidade judaica, e disse ter colocado o cargo à disposição de Bolsonaro “com o objetivo de protegê-lo”.
Depoimentos de campistas da área cultural
Aristides Soffiati
Aristides Soffiati / Folha da Manhã
Aristides Soffiati, professor e historiador
“A sua indicação faz parte do núcleo duro, conservador e reacionário do governo Bolsonaro que escolhe, muitas vezes, pessoas sem competência para exercer função pública. A demissão não se deu porque há discordância sobre o que Roberto Alvim expressou, mas sim diante da repercussão negativa junto à sociedade brasileira. As indicações de nomes alinhados à ala conservadora seguem e quando ultrapassam os limites, surgem as providenciais demissões. Afinal, o governo não pode sofrer desgastes.”
Cristina Lima, presidente da Fundação Cultural Jornalista Oswaldo Lima
“Pasma, triste e apavorada. É como me sinto diante desse quadro aterrador em que a arte e a cultura se encontram. Trata-se de um obscurantismo avassalador. Está acontecendo o que a gente temia desde o início de sua atuação. Tempos atrás ele agrediu brutalmente a atriz Fernanda Montenegro e ficou por isso mesmo. Agora, foi longe demais e precisou ser demitido.”
Isaías Fernandes
Graziela Escocard, diretora do Museu Histórico de Campos
“O fato revela a má escolha feita pelo presidente Bolsonaro. Desde o início de sua atuação verificou-se que não era o nome adequado para conduzir a área da cultura. Todo esse quadro é bastante preocupante, pois não há critério razoável para indicação das pessoas que vão lidar no campo cultural. Enfim, uma lástima”.
Fernando Rossi, diretor do Teatro de Bolso Procópio Ferreira
“Ele já vinha protagonizando uma série de equívocos. Ofendeu, de forma gratuita, a atriz Fernanda Montenegro, que é um patrimônio nacional. Depois investiu contra a Fundação Zumbi dos Palmares e, por fim, determinou que o Teatro Glauce Rocha só exiba espetáculos com temas religiosos. Agora, culminou com a apologia ao nazismo. Enfim, caiu. A questão é saber que entrará em seu lugar. Estamos vivendo momentos perturbadores e difíceis.”
(A.N.) (C.C.F.)

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