Viúva de Prestes autografa livro e repudia celebração da ditadura
Paulo Renato do Porto 27/03/2019 22:09 - Atualizado em 03/04/2019 18:00
A memória de Luiz Carlos Prestes continua viva. No livro “Meu Companheiro — 40 anos ao lado de Luiz Carlos Prestes”, a viúva do líder do Partido Comunista Brasileiro, Maria Prestes, de 87 anos, esmiúça a trajetória de vida com o marido, com quem começou uma aproximação mais estreita ao ser designada pelo partido para cuidar de sua segurança, em 1952, quando tinha 20 anos, antes de ser mulher do Cavaleiro da Esperança. No auditório Cristina Bastos, do Instituto Federal Fluminense (IFF), convidada pelo Conselho Municipal da Mulher, Maria Prestes autografou sua obra, de 299 páginas, que entra na terceira edição. Antes foi exibido um documentário sobre Prestes. 
— Nasci no Recife, vim de uma família de camponeses. Meu pai João Rodrigues Sobral era um pequeno comerciante que foi atraído pelas ideias socialistas e ingressou no partido. Eu então com nove anos passei a ajudá-lo nas tarefas. Mas houve um tempo em que ele passou a viver na clandestinidade. Minha mãe faleceu quando eu tinha dois anos. Então, eu e meus irmãos fomos viver cada um na casa de companheiros do partido. Depois, como o partido conhecia meu trabalho, meu desempenho nas tarefas que a mim eram confiadas, me chamou para a segurança de Prestes. Tenho 87 anos, 9 filhos, 25 netos e 26 bisnetos e nunca me arrependi de nada que fiz — admitiu.
Observadora privilegiada das lutas pelas reformas sociais no país, Maria Prestes, cujo nome de batismo é Altamira Rodrigues Sobral, mas tornou-se Maria do Carmo Ribeiro para se proteger da polícia, ao acompanhar o marido nos anos de clandestinidade até adotar a identidade definitiva.
— Sempre fui prática, numa uma teórica. E nessa prática, como eu sabia passar, cozinhar e arrumar, nunca tive empregada, o Prestes perguntou se eu não queria me casar com ele. Eu disse que não, não queria nada de papel passado porque não acreditava em casamento. Mas me arrependi porque, quando tive que ir morar na Rússia com minhas crianças, tive dificuldades em comprovar que eram meus filhos. Eles tinham sobrenome da mãe, mas não do pai por causa da perseguição da ditadura. Fui obrigada até ser grossa com um delegado pra quem disse: “Ora, senhor, quem dormiu com Prestes fui eu”. Então, com muitas dificuldades, conseguimos viajar — contou. 
Na antiga União Soviética, hoje Rússia, viveu no exílio durante 10 anos com Prestes e os filhos, após a ditadura militar 1964/85.
— Vivi lá os melhores dez anos de minha vida. Lá eu pude educar e formar meus nove filhos. Se morasse aqui jamais teria condições de botar todos eles na universidade. O que o Brasil precisa é de investimentos na educação, na saúde e em moradia. Num país tão rico como o nosso, é um absurdo tanta gente sobrevivendo em condições tão precárias e sem perspectivas — analisou.
Maria Prestes repudia a ideia do presidente Jair Bolsonaro em celebrar os 55 anos da ditadura militar no dia 31 de março.
— É uma vergonha para nós, brasileiros, celebrar uma data como essa. É uma página horrível da nossa história. Comemorar as barbaridades e as violências da ditadura pelo fato de as pessoas discordarem dela? Comemorar as sessões de tortura? A chacina praticada contra três nossos companheiros do Comitê Central do Partido Comunista, em São Paulo? — enumerou.

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