Cinema - De avô para netos
*Edgar Vianna de Andrade 01/12/2021 19:31 - Atualizado em 01/12/2021 19:32
“Ghostbusters: mais além” é um filme de homenagens. Ele homenageia os dois “Os caça-fantasmas”, um de 1984 e outro de 1989, mas passa por cima do terceiro filme da franquia, em que quatro mulheres substituem os quatro homens. O quarto filme da sequência é dirigido por Jason Reitman, filho de Ivan Reitman. O filho homenageia o pai. Indo adiante nas homenagens, o filme mostra os netos de Egon Spengler, o cientista dos dois primeiros filmes da série. Depois de velho, ele deixa Nova Iorque e vai morar num casarão no interior dos Estados Unidos, levando para lá todas as armas que inventou para combater fantasmas. A homenagem aqui é genérica: agradecimento de netos a avós.
As homenagens não cessam. Despejados em Nova Iorque, a filha e os netos de Egon (Harold Ramis) vão morar no casarão assombrado que pai e avô deixaram numa cidadezinha do interior. Tanto o personagem Egon quanto seu intérprete morreram. A filha tem profunda mágoa do pai por nunca se preocupar com ela. Os dois netos não têm opinião formada sobre o avô porque não o conheceram. O rapaz já é adolescente e logo se interessa por uma garçonete de uma lanchonete local em estilo década de 1980. A menina é pré-adolescente, com personalidade semelhante à do avô: introspectiva, de poucas palavras e interessada em ciência física.
Essa menina retraída vai, aos poucos, descobrindo as invenções do avô. Mais ainda: ela vai descobrindo quem foi seu avô. Pouco a pouco, os fantasmas vão aparecendo, e ele aprende a manejar aqueles velhos instrumentos para capturá-los. Mais uma homenagem: o novo homenageia o velho. O mundo digital se vale de ferramentas analógicas, inclusive o velho carro usado pelo quarteto de 1984 e 1989. O menino dirige na companhia da garçonete. A menina caça os fantasmas na companhia de um colega oriental da escola. Um novo quarteto se forma: duas meninas, uma branca e outra negra; dois meninos: um branco e um oriental. Aos estilo Spielberg, agora crianças e adolescentes assumem o comando.
O cinema dos Estados Unidos, nos anos de 1950, explorou bastante as cidades do interior. As ameaças ao mundo começavam nelas. As invasões de ETs se iniciavam por elas para se espalharem pelo mundo. Outra característica dos filmes de ficção científica dos EUA é misturar o antigo e o novo pasteurizando tudo. Não deixa de ser outra homenagem de “Ghostbusters” ambientar a trama numa pequena cidade do interior que parou no tempo, misturando supermercado com mitologia sumeriana. Tempos distantes são nivelados. A Disney também procede assim com frequência. Em “Ghost”, essa mistura revela tom nostálgico e de homenagem
É claro que o quarteto infanto-juvenil salvará o mundo com sua astúcia, assim como o quarteto masculino o salvou em 1984 e 1989. No fim, os quatro heróis do primeiro e do segundo filme — Bill Murray, Dan Aykrod, Ernie Hudson e Harold Ramis (este apenas em imagem, pois já morreu) — aparecem para ajudar as crianças. No fim mesmo, figura a homenagem a Harold, o único dos quatro que não está vivo.
Usando alta tecnologia digital para formular um filme que homenageia um mundo analógico em grande parte soterrado, como os fantasmas que mais uma vez tentam ressuscitar, o resultado agrada crianças e adultos. Os espíritos são assustadores, mas todos sabem que serão vencidos. Além do mais, são colocados num clima de comédia. Existem chavões? Sim, muitos. Mas relaxemos e gozemos.

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