Arthur Soffiati - Campos segunda capital do Rio de Janeiro
Arthur Soffiati - Atualizado em 13/10/2021 18:49
Em dois artigos acadêmicos, analisei o movimento político de 1855, que pleiteava a criação de uma nova província do Império formada com territórios do Rio de Janeiro, Espírito Santo e de Minas Gerais. Sua capital seria Campos, e seu porto seria Macaé. A vila de Itapemirim aderiu ao movimento, mas ele fracassou. Ficou, então, o desejo de transferir a capital do estado do Rio de Janeiro de Niterói para Campos. Também não deu certo. Ela foi para Petrópolis.
Acompanhei as reivindicações de se criar uma nova unidade na federação ou de se transferir a capital até o ano de 2001, quando elas voltaram a adormecer. O fim foi melancólico, ganhando um caráter de chantagem: um vereador da região propôs que o Norte-Noroeste Fluminense fosse desmembrado do estado do Rio de Janeiro e incorporado ao Espírito Santo. Mal sabia ele que, na prática, essa incorporação ocorreu entre 1742 e 1832. Nesses 90 anos, o distrito de Campos (hoje Norte-Noroeste Fluminense) integrava oficialmente a capitania do Rio de Janeiro, mas, na prática, era administrado pela capitania do Espírito Santo.
Aliás, os defensores desses pleitos não conheciam a história do Norte fluminense ou a conheciam mal. A emancipação de Campos transformou-se numa espécie de mística que atravessou os séculos para aparentemente morrer em 2001. Ela ressuscita agora pela voz de pessoas que não residem na região. Uma delas é Eduardo Paes, prefeito do município do Rio de Janeiro. Ele se pronunciou a favor de duas capitais no estado do Rio de Janeiro: a oficial e Campos, como extraoficial. André Ceciliano, presidente da Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj), vê o Norte Fluminense como um polo fundamental para o estado na medida em que considera fundamental o seu potencial de produzir energia. Em 1632, os Sete Capitães igualmente vislumbraram a possibilidade de criar gado bovino em terras que se transformariam no Norte Fluminense.
Os pleitos mudam, mas a mística permanece, e os habitantes da região costumam sonhar alto com ela para logo em seguida se sentirem frustrados. Marcelo Freixo, candidato da esquerda ao Governo do Estado, e Cláudio Castro, atual governador e candidato à reeleição, quiçá com o apoio da família Bolsonaro, também não poupam encômios a Campos. Afinal, o colégio eleitoral do município não é se desprezar. E, agora, a euforia foi às nuvens com o anúncio da Azul, empresa de aviação, de que uma linha para Lisboa pode sair de Campos ou passar pela cidade. Mas, algumas mudanças devem ser levadas em conta pelos habitantes do município e da região:
1 - A cana projetou a região Norte Fluminense entre 1850 e 1970, quando havia uma só região, com 14 municípios. Campos era o centro dela. Em 1975, o Proálcool foi o último esforço que o Governo Federal fez para soerguer a indústria sucroalcooleira. Cabe reconhecer que os usineiros não souberam se adaptar aos novos tempos;
2 - Macaé começou a se destacar como o segundo polo econômico a partir do início da década de 1980, com a exploração de petróleo na plataforma continental. Macaé e Campos brigaram para sediar o porto. Ele foi para Macaé por razões técnicas, e não por sua força política, como argumentaram as lideranças campistas. Com a exploração de petróleo e gás, veio a compensação por sua exploração. Vieram os royalties, dinheiro fácil que transformou os senhores da cana em vassalos preferenciais do poder político. Os municípios não venderam o futuro, mas o dissiparam. Agora, o petróleo pós-sal se esgota. Aprofundam-se os buracos em busca do pré-sal. Ao mesmo tempo, ergue-se uma forte campanha contra os combustíveis fósseis. Os donos do petróleo estão envergonhados. Prova disso foi o fracasso no leilão para venda de lotes de exploração petrolífera entre o Atol das Rocas e Fernando de Noronha;
3 - Ou bem ou mal, o histriônico e corrupto Eike Batista conseguiu erguer outro polo concorrente com o complexo industrial-portuário do Açu. Mas ele ainda não fez estrago semelhante ao da Petrobras na região porque se enclausurou. Promete gerar muita energia, mas também já está meio envergonhado. Promete criar um grande parque eólico.;
4 - A economia açucareira dá sinais de recuperação, mas são sinais muito tímidos. Será muito difícil Campos recuperar seu poder econômico e político com base em usinas sucroalcooleiras;
5 - Quanto ao anúncio da Azul, é preciso muita cautela. Como empresa que é, parece que, no máximo, poderá dar uma paradinha em Campos (se houver pista) para pegar passageiro para Lisboa, quando houver. Assim como suspende linha que não dá lucro, poderá muito bem acabar com a euforia ufanista dos campistas.
Desconfiemos dos políticos que estão exaltando Campos e o Norte Fluminense (eles deixaram o Noroeste de fora). É que as eleições de 2022 estão chegando.

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