Retrospectiva 2020: Saída econômica pelo campo
Ícaro Abreu Barbosa
Safra movimenta R$ 500 milhões na economia de Campos
Safra movimenta R$ 500 milhões na economia de Campos / Rodrigo Silveira
Enquanto “enclausurados” pela Covid-19 e em meio ao caos econômico de 2020, empresários, representantes de sindicatos, cientistas e políticos de Campos enxergam o renascimento do agronegócio. A discussão que levantou essa saída teve início em julho, com a elaboração pela Folha da Manhã de 11 painéis que reuniram a visão de membros da sociedade civil organizada campista sobre a crise econômica e suas saídas. Em um ano que teve até lockdown, o olhar se voltou para o campo, com plantações, criações de gado e utilização de tecnologias. O petróleo, do qual o município depende desde meados dos anos 1990, foi uma mina de ouro, mas é finito. Ao pensar em investimentos, quem trabalha na área agrícola pede incentivos ao prefeito eleito Wladimir Garotinho (PSD). Neste sentido, algumas das principais demandas são os apoios à cooperativas, à agricultura familiar e o estímulo aos pregões eletrônicos, que facilitem compras locais, além de parcerias com as universidades.
Já no campo, a safra sucroalcooleira de 2019/2020 fez girar na região cerca de R$ 500 milhões, de acordo com o presidente do grupo MPE, Renato Abreu. Esse faturamento, obtido com a colheita realizada entre abril e novembro, movimentou o valor equivalente a 33% do faturamento projetado para o orçamento de Campos em 2021 (entre R$ 1,5 bilhão e R$ 1,7 bilhão).
Tito Inojosa, presidente da Associação Fluminense dos Plantadores de Cana (Asflucam), prevê o crescimento contínuo do setor e estima o faturamento de R$ 1 bilhão para 2021. Entretanto, ressalta a necessidade de apoio do município.
— Nós precisamos de infraestrutura. Precisamos de estradas em condições, da limpeza dos canais da Baixada Campista. Vontade não falta e os produtores estão se animando. Estão voltando a plantar cana. Saímos de uma safra de 900 mil toneladas, em 2017, e fomos para 1,1 de toneladas, em 2018, depois para 1,4 milhão de toneladas, em 2019, e colhemos 1,7 milhão em 2020. E pretendemos alcançar, se chover em janeiro e fevereiro, 2,2 milhões de toneladas no próximo ano — disse Tito.
Também confiante nessa força do campo, o empresário Renato Abreu reforça a projeção de Tito: “Neste ano, a cana foi bastante promissora e as pessoas começaram a acreditar”.
Como pioneiro do investimento na recuperação do setor sucroalcooleiro em Campos, o presidente do Grupo MPE explica que o processo de recuperação do agronegócio começou em 2015. “Foi quando começamos a moer 400 mil toneladas de cana e cresceu gradativamente até 2020, quando fizemos a moagem de quase um milhão de toneladas, na usina Sapucaia. Em uma região que estava sem nada de produção, nós estamos fazendo girar nessa indústria algo em torno de R$ 500 milhões na região. Além de gerar mais emprego e negócios”, destaca.
Presidente do Sindicato Rural de Campos, Ronaldo Bartholomeu dos Santos Júnior está em comum acordo sobre a necessidade de incentivo maior, mas destacou: “O setor sucroalcooleiro é mais uma solução para o município, mas não a única. Esse setor sucroalcooleiro não retornará, ao meu ver, a pujança do passado. É preciso diversificar com a pecuária e outras culturas”.
Universidades no eixo para novas parcerias
Com o resultado da eleição municipal e a vitória de Wladimir Garotinho para prefeito, paira esperanças para o campo. As parcerias do poder público com as universidades ganharam um novo norte com a escolha do ex-reitor da Universidade Estadual do Norte Fluminense (Uenf) Almy Junior para comanda a secretaria de Agricultura. O nome foi recebido com otimismo pelos representantes do setor agropecuário, onde o vice-prefeito Frederico Paes também é um nome de destaque.
O próprio Wladimir chegou a destacar que a escolha de Almy foi uma forma de honrar “o compromisso com o segmento produtivo, dando a agricultura de Campos a valorização que ela precisa e merece”. Almy é técnico em agropecuária, engenheiro agrônomo, mestre e doutor em produção vegetal, além de ser filho de produtores rurais.
Atualmente, a falta de relação entre as universidades e o campo gera reclamação de ambos os lados. Ronaldo Bartholomeu comentou que a função do Sindicato Rural deve trazer tecnologia para o homem do campo.
— É preciso levar os trabalhos pesquisados e desenvolvidos para o campo. Sabemos que muitas coisas vêm sendo trabalhadas lá dentro, mas acaba ficando trancada para eles (nas universidades) — declarou.
O futuro secretário de Agricultura reconhece o distanciamento e fala sobre essa perspectiva. “A universidade chegará, em janeiro de 2021, à milésima tese no setor de produção vegetal. Tem muita tecnologia, inovação e gestão de processos. Considero a parceria da universidade com os produtores necessária, para isso é necessário envolver os professores com os produtores para que os projetos saiam das universidades”.
Ainda, segundo o futuro secretário, é preciso retomar a agricultura no município, mas as bases são diferentes de 30 anos atrás. “Se o agricultor não for capaz de se organizar, está fadado ao fracasso, começando pela internet no campo”, concluiu Almy, em entrevista ao programa Folha no Ar 1ª edição, da rádio Folha FM 98,3, na segunda-feira (28).
Pecuária de corte e leiteira foram valorizadas
A vocação agropecuária de Campos, eixo econômico do município do século 17 até os anos 1990, e desde então abandonada pelo dinheiro fácil do petróleo, tem sido retomada durante a pandemia. O preço da arroba do boi gordo subiu mais de 50% durante a pandemia de Covid-19 e, com base no Fundo de Assistência ao Trabalhador Rural (Funrural), fecha o ano girando entre R$ 246,50 e R$ 248,00, atraindo e incentivando pecuaristas.
Com base em dados da secretaria municipal de Agricultura, na Campanha Nacional de Vacinação Contra Febre Aftosa, em 2020, foram atendidos cerca de 800 pequenos criadores da agricultura familiar e vacinados entre 15 e 20 mil cabeças, entre bovinos e bubalinos. Mas, atualmente, o rebanho no município gira em torno de 200 mil cabeças.
O presidente da Terreplan Agronegócios, Mário Antônio Bittencourt, insiste na importância do investimento e estímulo da agricultura familiar, além de parcerias público-privadas e na criação de cooperativas entre os produtores de Campos. Com o olhar voltado para a pecuária de corte e leiteira, ele acredita que o município possa reaquecer o setor que gerou lucro entre pequenos criadores ao longo de 2020.
— Nós que devemos investir cada vez mais no uso da patrulha mecanizada, com a Prefeitura entrando com o maquinário e o produtor com óleo e operador. Dessa forma, poderíamos abrir canais de irrigação e estradas para garantir o deslocamento dos produtos. E, além disso, estimular as cooperativas nos distritos, criando um frigorífico, uma base para a cooperativa, além de um curtume para nos beneficiarmos do couro e agregar valor aos subprodutos da pecuária de corte e leiteira — explicou Bittencourt.
Renato Abreu, que além dos 18 mil hectares de cana-de-açúcar plantados na cidade, também investe em gado de corte na planície e em Goiás, conta algumas novidades sobre seus resultados de 2020 e investimentos para curto prazo em Campos.
— Nós já trabalhamos com cabeças de gado na região e estamos pensando em fazer um trabalho de confinamento para acelerar o processo de abate dos bois. Abater eles com uma idade variada entre 18 e 20 meses, com um peso de 18 ou 20 arrobas. No momento, nós os abatemos com 28 meses — explica.
O empresário projetou, ainda: “Com o preço do boi se mantendo, assim como o do etanol, com certeza nós teremos um novo ciclo do agronegócio que vai disputar com o petróleo a hegemonia da receita de Campos e seu entorno, como em São João da Barra, Quissamã, São Francisco e São Fidélis”.

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