Com pré-candidatura focada na igualdade racial, João Damásio fala em "cheiro de segundo turno"
27/08/2020 07:50 - Atualizado em 27/08/2020 19:17
João Damásio
João Damásio
O músico e ativista cultural João Damásio quer ser o primeiro prefeito negro eleito em Campos. Pré-candidato pelo Rede Sustentabilidade, ele foi o entrevistado desta quinta-feira (27) da primeira edição do Folha no Ar, na Folha FM 98,3, onde falou sobre a necessidade de políticas públicas voltadas à igualdade racial, adjetivando sua pré-candidatura como "com cheiro de segundo turno". Ex-presidente da Fundação Municipal Zumbi dos Palmares e atuante na entidade durante as gestões dos ex-prefeitos Arnaldo Vianna e Alexandre Mocaiber, Damásio também comentou as dificuldades financeiras atualmente enfrentadas pelo município, apresentando como possível alternativa para enfrentar a crise a criação de um Banco Municipal e uma moeda virtual.
— O Banco Municipal, na verdade, poderia existir para que o dinheiro do município pudesse girar dentro dele. A gente está perdendo muito dinheiro para fora. Passamos a vida toda jogando dinheiro para fora de Campos. A folha de pagamento do funcionário público, por exemplo, a gente perde para os bancos da rede privada, essas coisas todas. Então, por que não ter um Banco Municipal? E a questão da moeda virtual é para aquecer o comércio, para nós levantarmos o comércio — disse João Damásio. — Seria uma moeda virtual com o poder de compra no comércio de Campos, para aquecer o comércio — pontuou.
Na pauta da igualdade racial, o pré-candidato citou a experiência de ter convivido com poucos negros durante a vida acadêmica, destacando que a discrepância se estende ao cenário político-administrativo de Campos:
— Parece que o negro só é visível quando vai à urna. Quando sai da urna, parece que ele não tem mais participação. Ou seja, ele não é convidado para governar o município. Você vê pelas secretarias, a maioria... Se tem 30 secretarias, existem 29 secretários brancos, onde os negros não se sentem representados. Eu, como pré-candidato, caso aconteça, vou fazer uma justiça racial política. Vamos convidar toda a população para governar. Se existem 30 secretarias, e não vai ter, porque serão de 10 a 12 secretarias no máximo, nós vamos dividir em partes praticamente iguais. Vamos colorir a democracia. É preciso colorir a democracia.
Questionado sobre o que motivou a sua saída do PDT de Arnaldo Vianna e do pré-candidato a prefeito Caio Vianna, João Damásio explicou ter buscado protagonismo político: “Fui procurar um novo espaço para dar uma contribuição melhor. Tenho muito apreço pela família responsável pelo PDT, não tenho divergência com nenhum deles, (a relação) é de uma forma harmoniosa. Hoje, estou no Rede, defendendo o Rede, e acho que não existe problema nenhum nisso”.
Analisando a atual conjuntura da corrida eleitoral, Damásio descartou uma possível reeleição do prefeito Rafael Diniz, o que daria força aos demais pré-candidatos, inclusive os não vistos inicialmente como favoritos. “A reeleição do atual prefeito está totalmente comprometida. Acho que, mesmo com a máquina, não deve passar dos 20 mil votos ", opinou. Sobre a sua pré-candidatura, disse entender como pontos positivos os fatos de não ser herdeiro político e, se tiver a candidatura confirmada na convenção do Rede, postular como primeiro candidato a prefeito de Campos negro em 38 anos. “Não é que eu tenha que entrar lá e as pessoas votarem no negro. Estou falando como alternativa. É inadmissível que uma população com 52% de negros não tenha um negro dentro da urna para que ele seja votado”, disse em outro ponto da entrevista.
Antes, João Damásio precisa ser confirmado como representante do Rede, onde também figura como pré-candidato o professor José Maria Pessanha.
— O Rede quer passar para toda a população de Campos que, dentro do partido, existe uma democracia: o voto é respeitado. Não existe essa ditadura de indicativo, de dizer que "eu escolhi fulano para ser o nosso candidato". Que bom que tenha uma concorrência. Se amanhã eu for o vitorioso do Rede Sustentabilidade, que bom. Eu posso dizer que ganhei de alguém dentro do meu partido, que estou saindo candidato porque fui vitorioso numa convenção. É diferente do candidato indicado. Quando você é indicado, não está preparado para o enfrentamento e a disputa do pleito eleitoral — enfatizou Damásio.
Ex-presidente da escola de samba Mocidade Louca e também ligado ao bloco Os Psicodélicos, o pré-candidato falou ainda sobre a importância de parceria na realização do Carnaval, cujos desfiles das agremiações em Campos acontecem fora de época há mais de uma década, e também de outros eventos culturais:
— O Carnaval é um dos maiores investimentos com retorno ao governo municipal. Quem pensa diferente, pensa errado. O prefeito ou o secretário de Cultura não pode definir sozinho o que vai fazer com a cultura. Ele tem que sentar com as classes, com os segmentos, para poder definir e determinar. O Carnaval fora de época pode até acontecer, mas acontecer de verdade, com todos os seus investimentos. Que seja com uma parte de recurso municipal de contrapartida, mas o governo tem que motivar, buscar parcerias e auxiliar os carnavalescos a buscarem uma melhor maneira de fazer o Carnaval.
 
 
 

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