Covid-19 mata mais de três pessoas por dia no mês em Campos
Verônica Nascimento 22/08/2020 00:11 - Atualizado em 24/08/2020 14:32
A Covid-19 matou mais de três pessoas por dia em Campos em agosto, com 3,1 óbitos a cada 24 horas. A média de 2,1 mortes na primeira semana de agosto (de 1º a 7), quando o município registrou 15 óbitos, quase dobrou e passou para 4,1 de sábado (15) até nessa sexta, período em que 29 pessoas perderam a vida para o novo coronavírus. Apenas nos últimos sete dias, a planície goitacá superou o número de mortes registrados em São Francisco de Itabapoana (22) e São João da Barra (24) desde o início da pandemia. De acordo com o boletim divulgado nessa sexta-feira (21) pela secretaria municipal, Campos contabiliza 277 óbitos e 4.144 infectados. Segundo a Prefeitura, 54% dos leitos públicos de UTI para Covid-19 estavam ocupados até essa sexta.
O prefeito Rafael Diniz (Cidadania) manteve a cidade na fase amarela do plano de flexibilização, mas lançou um novo pacote para evitar a retomada do lockdown. Entre as medidas, está um projeto de lei que prevê até multa para pessoas que não usarem máscara e fechamento imediato de estabelecimentos que não respeitarem as regras de distanciamento e higiene. O projeto foi enviado à Câmara de Vereadores e deve ser votado na próxima semana.
Folha da Manhã
O pacote lançado pelo Gabinete de Crise para Enfrentamento da Covid-19 para reforçar o isolamento na pandemia, se fez necessário após a reabertura do comércio, bares e restaurantes em 7 de agosto. Segundo a Vigilância em Saúde, parte da população se mostrou descuidada “no que é necessário para a proteção de suas próprias vidas”.
Algumas medidas já estão em vigor e a Prefeitura frisa que vão continuar mesmo que ocorra uma desaceleração do contágio. Está valendo, desde quinta-feira, com a publicação no Diário Oficial, a proibição do take away (cliente pegar o pedido) depois das 23h, além do comércio e consumo de bebida em vias públicas após esse horário. Barreiras sanitárias passam a funcionar todos os finais de semana nos acessos à Lagoa de Cima e ao Farol de São Thomé. Novas equipes de fiscalização já estão atuando.
— As medidas são extremamente necessárias, assim como a colaboração de toda a população. Essa luta é de todos, não só das autoridades — destacou a diretora de Vigilância em Saúde, Andreya Moreira.
Desperdício - Já o hospital estadual de campanha, que seria instalado na avenida 28 de Março e nunca entrou em operação, começou a ser desmontado nesta semana. A unidade está no centro de um escândalo de corrupção, envolvendo fraudes nos contratos emergenciais do Estado do Rio no valor de R$ 835 milhões. Segundo o Ministério Público, foram constatados indícios da participação do governador Wilson Witzel (PSC) e do ex-secretário estadual de Saúde Edmar Santos na compra superfaturada de respiradores para as sete unidades que seriam instaladas no estado.
Multa para quem desrespeitar o isolamento
A população, considerando o avanço da Covid-19 em Campos, não tem colaborado e o município tornou mais rígidas as normas para o cumprimento das medidas de isolamento social. As medidas foram aprovadas por profissionais da saúde e, se o projeto enviado à Câmara Municipal também for, a nova lei vai definir multa de R$ 180 para qualquer descumprimento do Plano de Retomada, principalmente em casos de aglomeração e não utilização de máscaras.
Estabelecimentos comerciais que estiverem fora das normas poderão receber multa no valor de R$ 250,52. Em caso de reincidência, a multa sobe para R$ 1.252,6, podendo, ainda, os estabelecimentos terem o alvará de funcionamento suspenso, com fechamento imediato.
Em conformidade com as medidas, o boletim epidemiológico da Vigilância em Saúde apontou que, na última semana, Campos registrou a maior queda na taxa de isolamento social desde a implantação das medidas de prevenção ao coronavírus.
— Apesar da estabilidade e da tendência à redução das taxas, a pandemia tem demonstrado uma variação para mais e para menos, em vários países. Tudo tem a ver com o comportamento das pessoas, que confundem a flexibilização das medidas com uma liberação pelo fim da epidemia. O desrespeito às regras tem sido observado aqui, na cidade, como em todo o país. Os responsáveis pela saúde da população precisam, de fato, tomar atitudes para mitigar o problema, porém, a maior responsabilidade é do cidadão, que precisa respeitar todas as recomendações já conhecidas — avisou o médico infectologista, Nélio Artiles.
Testagem em massa para controle do vírus
Profissionais da área de vigilância em saúde vem apontando a realização de testagem em massa para verificar a presença do novo coronavírus, como fator de controle da infecção e propagação da doença. Em Campos, onde o índice de letalidade pela Covid-19 chegou a 6,7%, segundo a secretaria municipal de Saúde, foram realizados aproximdamente 30 mil testes, o que representa 6% da população. A média da letalidade no Brasil é de 3,2%, segundo o Ministério da Saúde.
A taxa de ocupação de leitos públicos para Covid-19 era, nessa sexta, nos hospitais públicos (Hospital Ferreira Machado, Hospital Geral de Guarus e UPH São José) e contratualizados (Beneficência Portuguesa, Hospital Escola Álvaro Alvim e Santa Casa de Misericórdia) de 54% em UTI e 46% em leitos clínicos, de acordo com a Prefeitura.
O infectologista Nélio Artiles declarou, anteriormente, que “os testes para a Covid-19 geralmente são falhos”, mas que podem, quando realizados em grande parte da população, ajudar no combate à disseminação da doença.
— A testagem por RT-PCR (pesquisa do vírus na nasofaringe ou orofaringe) em massa, ou em maior número, pode ajudar a identificar casos pré-sintomáticos ou assintomáticos e, dessa forma, determinar quarentenas, diminuindo a transmissão. Testes rápidos (do dedo) podem apenas ajudar a fazer um estudo retrospectivo de pessoas que já foram infectadas no passado. O PCR tem cerca de 60% de positividade, mas seria melhor que nada. A sorologia e o teste rápido seriam mais para informação epidemiológica, mas com falhas maiores. A testagem com PCR para maior número seria interessante para um maior controle da epidemia — explicou o infectologista, acrescentando que, em Campos, “a taxa de letalidade certamente está maior que a real”.

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