Na Ribalta: Como montar um texto
Fernando Rossi - Atualizado em 28/08/2020 16:08
À medida que os ensaios avançam, os atores começam a decorar suas falas. A cada fala de um ator existe uma deixa para o próximo ator, que nada mais é do que um gancho para que o outro ator saiba o momento em que deve iniciar a sua fala. Quando os atores esquecem suas falas, acontece o chamado branco e se resolve com a ajuda dos outros atores do elenco, que, percebendo o problema, socorrem com um caco, isto é, uma frase que não estava colocada no texto original, para fazer o colega lembrar de sua própria fala. Em comédias, geralmente os atores se sentem muito à vontade para criar cacos, isso porque, dependendo da participação da plateia, eles se sentem encorajados a brincar com o texto, exatamente como faziam os atores da Commedia dell' Arte.
Na fase de conhecimento do texto, não basta que o ator conheça bem as falas. Ele deve conhecer a fala de todos os demais atores que participam da peça. Para isso, o diretor faz alguns exercícios, nos quais os atores devem dizer o texto dos outros.
Muitas vezes também o diretor diz uma deixa (uma palavra que é usada no texto) para que o ator da próxima fala continue a ação. Essas técnicas procuram deixar o texto extremamente vivo em cada um dos participantes do espetáculo.
Avançando no trabalho, chega a hora de colocar os atores em cena. Essa tarefa será feita no próprio palco ou em um lugar do tamanho do palco, onde serão riscados no chão os lugares: as portas, os sofás, mesas, cadeiras etc. Esse passo se chama marcação. Os atores devem saber como irão se movimentar em cena durante a peça, pois eles serão iluminados pelos refletores, e suas paradas ou caminhadas devem ser bem planejadas. Quando assistimos à peça, parece que os atores estão livres e soltos pelo palco, mas na verdade eles se movimentam como num bailado sem música. À medida que os atores se habituam à marcação, seus gestos ou suprimir outros.
Depois de bem treinados, é chegada à hora de ensaiar no próprio palco, com o cenário já colocado no local, e algum tempo depois o ensaio será feito com os figurinos, sobretudo para se cronometrar o tempo de troca de roupa e ajustar os trajes diante da ação corrida.
O espetáculo, então, já possui uma trilha sonora montada, e o iluminador já idealizou toda iluminação que será usada no decorrer da peça. Estamos prontos para a estreia. Bem, na verdade, ainda não. Falta o diretor limpar o espetáculo. Esse trabalho muitas vezes é feito somente pelo próprio diretor, assistindo várias vezes à peça, cortando, ampliando, enfim, tentando deixar o trabalho o mais próximo possível da perfeição. Muitas vezes esse trabalho é feito com a ajuda do público, nos chamados ensaios abertos. Durante alguns dias, o teatro é lotado por um público convidado, ou pagando menor preço, e o diretor observa as suas reações para melhorar o desempenho dos atores. É uma espécie de edição do espetáculo.
Todos em seus postos: o espetáculo está pronto para estrear e, numa tradição no teatro mundial, não se deseja nunca “boa sorte” aos participantes. Os americanos dizem “quebre uma perna”. Na irreverência brasileira, costuma-se dizer “merda”, como é feito no teatro francês.

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